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Vendas digitais, relacionamento e reforma tributária: as principais preocupações do franchising em 2023 | Franquias


“Se dói no sapato do franqueado, tem que doer no do franqueador”, disse Tom Moreira Leite, CEO do Grupo Trigo e presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), para uma plateia de cerca de 700 pessoas que se reuniram por quatro dias na Ilha de Comandatuba, em Una (BA), para 21ª edição da convenção de franquias da entidade, a ABFCon.

A fala aconteceu em um painel sobre as melhores práticas do franchising e fazia menção à greve dos caminhoneiros de 2016, que causou prejuízos a quem dependia de logística, como restaurantes.

De acordo com ele, o Spoleto (que faz parte do grupo) vinha de um período de reconexão com com os franqueados e precisou encontrar maneiras para tentar abastecer os pontos. “Chamamos Uber em Volta Redonda (RJ), [cidade onde fica a fábrica da rede] e fiscais de qualidade para checar o armazenamento dos produtos para mandar para Salvador, São Paulo e várias distâncias. Pensamos: ‘Não vamos deixar as lojas fecharem’”.

A atitude, de acordo com ele, ajudou a fortalecer a relação dos empreendedores com a franqueadora. “Entre 2010 e 2013 estávamos em um período expansionista, abertura de shoppings, nos distanciamos dos franqueados”, conta. Ele disse que esse distanciamento acabou se refletindo na operação do Spoleto. “Tivemos um problema no sistema que gerou um apagão nos controles internos, a ponto de não conseguir entregar massa e molho em alguns restaurantes. Aquilo foi um chacoalhão.”

Leite conta que colocou a marca “no divã”, com a contratação de uma consultoria externa para entender o que precisaria ser feito. A conclusão foi a necessidade de uma reaproximação com os franqueados, realizando uma “escuta ativa”.

“O franqueador que não entende que o conhecimento real sobre o negócio está na ponta, nas lojas, vai ter um teto de crescimento, não vai passar dali”, disse Leite.

Ao longo do evento, agentes do setor subiram ao palco e falaram sobre a manutenção de um dos maiores ativos do franchising: a relação entre franqueados e franqueadores, elemento que ganhou ainda mais força nos últimos anos.

O evento da ABF é conhecido por promover oportunidades de networking entre os participantes. Nessa edição, não foi diferente. Congressistas se revezavam entre sorrisos e apertos de mão presenciais a olhadas demoradas no telefone para responder a e-mails e mensagens de pendências ou participar de reuniões com os franqueados. Também não era raro encontrar franqueadores de marcas distintas trocando dicas de como lidar com determinados problemas em suas redes, de forma prática, ou trocando indicações de fornecedores.

Marcas tradicionais no digital

O omnichannel foi um dos temas mais discutidos, entre os aspectos de gestão. Pelos discursos das marcas, ficou claro que o tema passou do status de tendência para o de pendência.

Ana Bógus, presidente da Havaianas — Foto: Keiny Andrade
Ana Bógus, presidente da Havaianas — Foto: Keiny Andrade

Ana Bógus, presidente da Havaianas, afirmou que 30% das vendas digitais em setembro deste ano vieram de omnicanalidade das suas 550 unidades brasileiras (545 franqueadas). “Temos uma loja no Osasco Plaza [em São Paulo] que tem 40% do faturamento vindo do digital. É um resultado que não existia no ano passado”, disse.

Segundo ela, para ter sucesso, a empresa criou cinco grupos de trabalho para focar em ações específicas, adquiriu a startup Ioasys para ter uma “software house” e trouxe os franqueados para participar das decisões. “O e-commerce foi transformado em maio do ano passado e hoje temos uma conversão que é quase o dobro do que tínhamos na plataforma anterior”, diz a executiva.

O próximo desafio mapeado é a integração do CRM. “Temos 3 milhões de clientes cadastrados, ainda temos um universo para crescer. Estamos nesse momento estudando como fazer um programa de fidelidade para nos ajudar”, conta.

Em estágio parecido está a Hering, rede que agora faz parte do Grupo Soma, e que tem 658 franquias, 71 operações próprias e 11 mil pontos de venda multimarca, além do e-commerce. Carolina Pires, COO da marca, disse que ainda não recuperou o fluxo de visitantes de 2019, mas que o resultado das vendas tem crescido.

Para ela, isso se deve à integração digital com as lojas feita nos últimos três anos somada a construção de valor em cada canal e inteligência de estoque. “A gente vem acertando o que um cliente espera encontrar quando vai a uma Hering física. Temos ajustado essa proposta de valor e essa jornada”, disse.

Os shoppings já perceberam que muitas das vendas feitas pelos lojistas não são em decorrência do fluxo de pessoas — um dos maiores atrativos dos centros comerciais até poucos anos atrás.

Leandro Lopes, vice-presidente de negócios da novíssima Allos, fruto da fusão entre Aliansce Sonae e BR Malls, que comanda 62 shoppings, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, disse que o lazer tem puxado a recuperação dos empreendimentos: cinemas cresceram cerca de 30% e alimentação, 15%. Isso, segundo ele, impulsionou um aumento de 4,5% a 5% no volume de visitantes.

A empresa também estuda um projeto para ajudar a inserir as 11 mil lojas dos shoppings em plataformas de marketplace como Amazon e Mercado Livre. “Atualmente, cerca de 35% das lojas nos shoppings da Allos são franquias associadas à ABF, o que representa mais de 15% das vendas, algo em torno de R$ 6 a R$ 7 bilhões”, afirmou.

A reforma tributária, que tramita no governo, pautou conversas na conferência, ainda que em menor escala. A própria ABF assumiu o microfone e dedicou parte da coletiva de imprensa para falar sobre as expectativas do setor.

Uma das principais demandas é a manutenção do sistema de tributação Simples Nacional, já que o faturamento médio mensal das franquias brasileiras é de R$ 95 mil por mês e seria impactada negativamente com uma revisão.

A entidade pleiteia também a geração de créditos tributários a partir da folha de pagamento para empresas com alto índice de contratação — cada franquia de loja emprega, em média, nove pessoas — e a criação de um regime de taxação específico, atrelado às receitas decorrentes de contratos de franquia.

O jornalista viajou a convite da ABF.



PEGN

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