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Sob pressão dos títulos americanos, Ibovespa começa outubro em baixa | Bolsas e índices


O noticiário internacional e local não permite que se coloque a mão no fogo pelos 9% ao ano de juros projetados para 2024 pelos analistas já faz dois meses. Dos atuais 12,75%, investidores embutem aos preços agora a estimativa de 10,75% de Selic ao fim do ciclo de cortes. E esses dois dígitos ao ano de rendimentos presumidos conferem graça à renda fixa em detrimento da bolsa.

  • E o Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, caiu 1,29% nesta segunda-feira (2), a 115.057 pontos. Acumula em 2023 ganhos de 4,85%.
  • A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 12 bilhões, 40% abaixo da média diária dos últimos 12 meses.
  • Das 86 ações, 71 caíram.

O rali dos títulos americanos segue sem freio.

Nos últimos dias, fora a perspectiva de mais juros, o teto de dívida americano justificava a maior exigência de prêmios para financiar a Casa Branca. Mas, como todo ano acontece, aos 45 do segundo tempo, democratas e republicanos entraram em acordo. Por ao menos 45 dias, o governo dos Estados Unidos terá permissão para ampliar seu endividamento e evitar que serviços públicos fossem suspensos. Nesse meio tempo, deve ser alinhavado acordo mais duradouro.

Mas, nem por isso, foi um dia de refresco nos rendimentos dos papéis de longo prazo americanos.

O principal pano de fundo para a escalada é a inflação. Em caso de paralização do governo americano, a maior das economias tenderia a crescer menos. E, portanto, poderia haver algum resfriamento do ritmo de preços. Sem esse risco no ar, portanto, retomou força a aposta em nova alta de juros em novembro, como já sinalizado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Com direito a falas de mais um dirigente da autoridade monetária apontando para esse caminho.

  • Nessas condições, todos os caminhos levam para a renda fixa americana. Esse poder de atração elevado ficou espelhado não só na queda da bolsa, mas em nova rodada de alta do câmbio. O preço no Brasil subiu 0,79%, a R$ 5,07. A baixa no ano está reduzida agora a 4,01%.

Ações da Petrobras foram um canal importante para a saída de capital estrangeiro que fez o Ibovespa murchar nesta segunda. Acompanharam a queda de 2% dos preços do petróleo, que cederam dos maiores níveis em quase um ano atingidos recentemente. O por que barris ficaram mais baratos? Justamente pela pressão de alta do câmbio em todo o mundo. Cotado em dólar, o petróleo pode ter a demanda enfraquecida ao ficar mais caro em outras moedas.

  • Papéis ordinários (ON, com direito a voto em assembleias) da estatal caíram 1,90%. Preferenciais (PN, com preferência por dividendos), 1,50%.

Por mais um dia o aquecimento da renda fixa americana deu o tom dos negócios. E, por mais um dia, o Banco Central (BC) do Brasil fez vistas grossas.

Seu presidente, Roberto Campos Neto, vocalizou o desdém com que tem sido tratado o risco cambial em comunicados oficiais. De acordo com ele, está fora do radar uma possível fuga de capitais enquanto a Selic cai e os juros americanos sobem. No entendimento da autoridade monetária, a queda do risco-Brasil compensa a diminuição das taxas de retorno lá e cá.

Não é o que se vê, no entanto, a cada pregão.

Seria verdade o que defende Campos Neto se houvesse entendimento entre Executivo e Legislativo. Seja para aprovar novas receitas, como propõe o governo. Seja para cortar gastos, como o Congresso defende. Mas entra e sai semana, e não fecha a conta necessária para cumprir a meta fiscal de déficit zero em 2024.

Daí a falta de fé de investidores na queda livre da Selic.

Como dito mais acima, quando o pregão terminou, estava embutida à curva de juros futuros a taxa terminal de 10,75% ao ano quando a Selic parar de cair. Ou seja, depois dos dois cortes de meio ponto já sinalizados pelo BC, viriam só mais dois no próximo ano:

  • Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 10,84% a 11,02%;
  • Já para janeiro de 2033, de 11,70% a 11,88%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).
 — Foto: Getty Images
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