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Queda da atividade econômica em agosto preocupa governo e economistas | Brasil e Política


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou preocupação com o ritmo da atividade econômica brasileira e afirmou que o início do ciclo de corte de juros pelo Banco Central (BC) em agosto foi o “último momento” para começar a lidar com a desaceleração da economia.

Ao comentar o movimento recente das projeções de inflação, que voltaram a caminhar na direção de finalizar o ano dentro do intervalo da meta estabelecida pelo CMN, de até 4,75%, Haddad ressaltou o bom diálogo que a Fazenda tem com o BC.

“Fico confortável de saber que a inflação vai ser menor, mas nós temos que compor o balanço mais adequado para a economia brasileira”, afirmou Haddad. “Na minha opinião, o placar apertado de agosto (5 votos a 4) demonstrava que as pessoas não tinham clareza absoluta do que precisa ser feito. Mas a maioria estava correta, porque a desaceleração já estava se colocando de maneira importante.”

Divulgado mais cedo, o IBC-Br apontou queda de 0,77% em agosto, maior que a expectativa de 0,65% do Valor Data. O dado deve trazer para baixo as projeções de atividade para o terceiro trimestre, que já preveem estabilidade ou leve contração na comparação com o trimestre anterior.

“De fato, estava muito apertada a política monetária, sobretudo pelo endividamento das empresas que tomaram recursos a 5%, 6%, dois anos antes e estavam pagando 17% dois anos depois. Temos cautela para tomar melhores decisões e conciliar essas decisões”, disse Haddad, em entrevista coletiva em São Paulo.

A queda do IBC-Br, apesar de marginalmente mais acentuada que o esperado pelo mercado não causou surpresas na avaliação de Matheus Pizzani, economista da CM Capital, uma vez que os dados setoriais prévios divulgados nas últimas semanas já sinalizavam o intenso movimento de desaceleração em serviços e comércio.

Ele lembra que os setores respondem por pouco mais de 70% da atividade econômica sob a ótica da oferta. “O que se viu em agosto foi um retrato nítido da delicada situação estrutural pela qual passa a economia brasileira, que se encontra atualmente incapaz de promover crescimento através de seus motores internos, especialmente no caso do consumo privado, inibido pelos juros elevados, baixa renda das famílias e o clássico problema de escassez de poupança privada no país”, disse.

O economista lembra que agosto não contou com nenhum fator extraordinário de promoção de crescimento, como os feriados — responsáveis por impulsionar segmentos específicos do setor de serviços, como os transportes e os serviços de lazer e acomodação —, ou mesmo medidas governamentais de dinamização da economia, cujo maior exemplo em 2023 foi o programa de incentivo ao setor automobilístico (que apesar de não ter se traduzido em impulsionamento para o setor industrial, diz, teve desdobramentos relevantes para o comércio e mesmo os serviços).

Ele destaca ainda que o desempenho fraco dos principais setores da economia é paradoxal quando analisado o comportamento recente do mercado do trabalho, que ao fim de agosto registrou taxa de desemprego de 7,8%, a menor desde fevereiro de 2015.

O recuo do índice também foi maior do que o esperado pelo BNP Paribas, mas não o suficiente para o banco revisar suas projeções.

A surpresa ficou mesmo por conta da queda de 0,9% em serviços em agosto ante julho, divulgada pelo IBGE na terça-feira em sua Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), disse a economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho. A PMS ficou abaixo do piso das projeções de 24 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, que iam de -0,8% a +0,8%.

Após o dado do setor, o banco revisou sua projeção para o IBC-Br de agosto de -0,3% para –0,6%. “É sinal de alerta [do IBC-Br], mas já esperávamos desaceleração mais pronunciada [do PIB] no terceiro trimestre do que no quarto [trimestre]”, continua Laiz.

Mesmo em trajetória de queda da Selic, os juros ainda são altos para incentivar comércio e serviços de modo mais pronunciado no terceiro trimestre, acredita o BNP Paribas.

Contudo, os últimos três meses do ano contarão com mais renda disponível para as famílias que tiveram membros que se recolocaram no mercado formal e mais tempo do programa Desenrola, comenta.

Com informações do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico.

 — Foto: Getty Images
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