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Previsão de déficit do governo para 2024 cresce 56%. E o que você tem a ver com isso? | Brasil e Política


O governo federal revisou hoje sua projeção para o resultado primário do governo central deste ano, de um déficit de R$ 9,3 bilhões para déficit de R$ 14,5 bilhões, aumento de 56% no “buraco”. Os números levam em conta Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central (BC).

O dado faz parte do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas relativo ao segundo bimestre deste ano, divulgado nesta quarta (22) pelo Ministério do Planejamento e Orçamento.

A estimativa de receitas primárias em 2024 subiu R$ 16 bilhões, para R$ 2,704 trilhões, na comparação com a projeção anterior. Por sua vez, a estimativa para as receitas líquidas subiu R$ 6,3 bilhões, para R$ 2,181 trilhões .

Já a previsão para as despesas primárias aumentou em R$ 24,4 bilhões, para R$ 2,209 trilhões. A estimativa para as despesas obrigatórias subiu R$ 20,1 bilhões, para R$ 2 trilhões. Por sua vez, a projeção para as despesas discricionárias (aquelas que podem ser cortadas livremente, como investimentos) subiu R$ 4,3 bilhões, para R$ 208,8 bilhões.

E o que isso tem a ver com você?

Esses números são um planejamento de receitas e despesas do governo federal. Ou seja, a partir dessas projeções, o mercado calibra expectativas no acompanhamento das contas públicas. E tudo isso é ainda mais importante por permitir que se entenda se é viável, ou não, o governo cumprir a meta de zerar o déficit (ter gastos e receitas equivalentes) este ano.

Na ponta dessa cadeia de eventos está você, pequeno investidor e consumidor, que é arrastado pelos balanços das expectativas do mercado.

Então aguente mais um pouco para entender a seguir como esses eventos se desdobram.

Para quem não se lembra, o déficit zero é um dos objetivos estipulados para cumprir o arcabouço fiscal, conjunto de regras para manter as contas públicas saudáveis. O cumprimento da meta, portanto, seria um sinal a investidores de que vai tudo bem, obrigado. Isso diminuiria a percepção de risco e, assim, cairiam os prêmios exigidos para se investir no Brasil.

Simplificando: comparemos o governo a você, pessoa física, e as contas públicas à sua conta bancária – obviamente, em escala colossalmente menor. É normal que as pessoas tenham previsão de quanto devem ganhar e quanto pagarão em contas, dívidas, gastos gerais, investimentos em projetos pessoais etc. nos meses seguintes.

Bem, o governo está buscando fechar essa “conta” dele no zero a zero (com alguma margem de tolerância, é verdade). Ou seja, tenta ganhar tanto quanto gasta. Com isso, não precisa fazer dívidas para arcar com os custos que ficarem descobertos.

Estar com todas as obrigações financeiras em dia o torna um bom pagador e esse “perfil de risco” baixo lhe dá acesso a mais crédito e crédito mais barato. O governo vive uma situação análoga.

Contas públicas saudáveis reduzem a percepção de risco sobre o governo, ou seja, diminuem a possibilidade que o mercado mede de um calote. Esse ambiente atrai investidores para o país, pessoas dispostas a emprestar dinheiro para esse governo e a colocar dinheiro nesse mercado.

E quanto mais investidores entram, especialmente os estrangeiros, a tendência é que a bolsa suba e o dólar caia.

Uma moeda forte é também uma forma de controlar a inflação do mercado, no sentido de que ele fica menos sensível às flutuações de preços nos mercado internacional. Se a inflação estiver dentro da meta, há margem para cortes nos juros, outro gatilho para investimentos no mercado de forma geral, sejam empresas expandindo projetos, contratando mais pessoas, mais gente consumindo até mais dinheiro entrando na bolsa de valores.

Quando o dólar custa R$ 3, por exemplo, o aumento de preços lá fora de componentes eletrônicos, de aparelhos e tudo mais que o Brasil importa terá um impacto significativamente menor no nosso bolso do que quando o câmbio está nos R$ 5.

Só que o mercado não esperará tudo se concretizar. A piora do cenário para as contas públicas para o fim do ano gera uma reação imediata: dólar e juros sobem, bolsa cai. Assim, a mudança de projeção de contas primárias pode, no desenrolar desses eventos, chegar em você mesmo antes do fim do ano.

Último ponto: é importante lembrar que uma arrecadação forte é um sinal positivo, mas não significa que tudo está sob controle do ponto de vista fiscal. Afinal, no mês de março, mesmo com arrecadação recorde, o governo central registrou um déficit primário de R$ 1,527 bilhão. Portanto, o mercado segue sempre alerta aos próximos números.

Com informações do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.

 — Foto: GettyImages
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