O que esperar para a inflação e os juros após o IPCA vir acima do esperado em julho? | Brasil e Política
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acelerou para 0,12% em julho, após cair 0,08% em junho, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (11). Assim, o Brasil deixou de registrar deflação, no campo negativo, e voltou a registrar inflação, no campo positivo.
O indicador veio acima do esperado. A mediana das 42 expectativas para o índice levantadas pelo Valor Data apontava aumento de 0,07% no mês passado. O intervalo das previsões variava de deflação de 0,08% a inflação de 0,12%.
Os agentes financeiros acompanham esses dados de inflação para apostar na magnitude e no ritmo de redução de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Com os dados em mãos, o que os analistas esperam para a inflação e a taxa Selic? Confira a seguir.
O avanço maior que o esperado do IPCA de julho esconde o fato de que a composição melhor, em especial vindo do setor de serviços, avalia a economista da Neo Investimentos, Laura Moraes.
“A surpresa para baixo veio principalmente da parte de alimentação fora do domicílio. A gente esperava uma alta de 0,40%, mas veio 0,21%”, diz a economistas. “Por outro lado, o que puxou para cima foi a parte de automóveis, que a gente sabe ser um ruído, já que a queda do mês passado foi artificial”, acrescenta, em referência ao programa de descontos sobre o preço de veículos novos.
A economista da Neo diz que a leitura de julho acende uma luz amarela sobre sua projeção para a inflação de serviços este ano, atualmente em 6,0%. Apesar disso, diz, ainda é cedo para reavaliar esse número.
“A alimentação fora de domicílio fugiu do que esperávamos, mas acreditamos que ela vai continuar rodando alto até o fim do ano. Os preços dos alimentos seguem caindo, mas o mercado de trabalho continua forte. Além disso, olhando períodos mais longos, é possível ver que esse item sempre pressionou para cima a inflação brasileira”, argumenta.
Embora a inflação cheia de julho tenha ficado acima do consenso dos analistas, a qualidade da inflação surpreendeu para melhor, especialmente na parte de serviços, e deve levar o mercado a continuar testando a disposição do Banco Central de não elevar o ritmo de cortes da Selic até o fim do ano, avalia a economista da Warren Rena, Andrea Angelo.
“Nós já vínhamos com essa perspectiva de inflação de serviços mais baixa nesse segundo semestre, mas a leitura de julho trouxe alguns números melhores que a nossa expectativa, como a parte de restaurante e conserto de automóveis. Pela nossa métrica, os serviços inerciais subiram 0,20%, abaixo da expectativa de 0,30%”, nota Andrea.
Ela ressalta que o grupo que puxou para cima o IPCA de julho foi de automóveis novos, com contribuição de 0,7 ponto. “Por conta da MP que deu desconto aos veículos, a gente ainda esperava uma pequena deflação de 0,50%, mas veio uma alta de 1,65%. Não esperávamos que esse desconto seria revertido integralmente, então esse grupo pode se mostrar um vetor altista à frente”, pondera.
Andrea acrescenta, por otro lado, que outros riscos baixistas também se concretizaram em julho, como o caso da inflação de alimentos.
“São boas notícias que devem corroborar o teste que o mercado tem feito sobre a disposição do BC de manter o ritmo de cortes de juros”, diz.
Este conteúdo foi publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
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