Ibovespa cai em meio a dúvidas sobre o ciclo de cortes de juros | Bolsas e índices

De acordo com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), a Selic cai pelo menos mais duas vezes em meio ponto, fechando 2023 a 11,75% ao ano. E assim como só uma mudança “substancial” poderia acelerar esse passo, só uma invertida daquelas impediria a queda. Esse diagnóstico foi reforçado ainda nesta terça-feira (26) pelo novo IPCA-15.

O custo de vida subiu 0,35% entre 15 de agosto e setembro. Pouco abaixo da expectativa majoritária de 0,38%. E isso porque preços da gasolina surpreenderam para cima. Mais importante, ficou atestada a firmeza da desinflação. Em toda a série histórica, iniciada em 2012, a alta de preços nunca esteve tão pouco espalhada. Apenas 42% dos itens pesquisados encareceram. Bem abaixo dos 75% de difusão recorde de março do ano passado.

Tudo muito bem, tudo muito bom, só que não. Isso já está para lá de incorporado aos preços. Colocar a mão no fogo pelos cortes da Selic em 2024 é que são elas. Riscos fiscais e internacionais não têm permitido.

• O Ibovespa, principal índice da bolsa, caiu 1,49%, a 114.193 pontos. Em dois pregões da semana, queda acumulada de 1,56%. No mês, até aqui, de 1,34%. No ano, resta alta de 4,06%.

• A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 18 bilhões, 10% abaixo da média diária dos últimos 12 meses.

• Das 86 ações, 75 caíram.

A ata do Copom reforçou a inconsistência retórica do comunicado da semana passada, quando a Selic caiu a 12,75% ao ano.

De acordo com o BC, a conquista ou não do déficit fiscal zero em 2024 pode interferir nos juros pelo canal das expectativas de inflação. Elas podem ser maiores ou menores a depender do cumprimento dessa meta. Mas, embora admita essa possibilidade, a incerteza fiscal não faz parte do balanço de riscos inflacionários da autoridade monetária.

É um posicionamento um tanto contraditório. Talvez, fruto da maior pluralidade de ideias no BC desde a chegada dos dois diretores indicados pelo governo.

A cena internacional está destaque no balanço de riscos do BC. Por um lado, mais juros lá fora podem desacelerar preços em escala global. Por outro, não está claro se o esforço dos grandes bancos centrais será páreo para choques de oferta de ordem geopolítica, caso do petróleo.

Passou batido pela ata, no entanto, o risco cambial. Mais juros lá fora e menos aqui são um convite para dólares saírem do Brasil. E ainda mais sob incertezas globais, que impulsionam a busca por proteção em economias desenvolvidas.

Ao ignorar esse risco e minimizar o fiscal, o BC perde oportunidade de conter a inflação no gogó. Ou seja, de abrir mais espaço para a queda da Selic.

A inclusão da incerteza fiscal no balanço de riscos colocaria ainda mais pressão sobre o Congresso para aprovar medidas que zerassem o déficit em 2024. A descrença no cumprimento desse objetivo é total no mercado. Logo, seu cumprimento implicaria queda do risco-Brasil. O que, ao menos parcialmente, compensaria eventual o incentivo externo para a fuga de capitais.

• Por falar nisso, o dólar já está de novo namorando com os R$ 5. Subiu 0,42% nesta terça, a R$ 4,99. É o maior nível em quatro meses. Na semana, alta parcial de 1,11%. Em setembro, de 0,75%. A queda em 2023 está em 5,51%.

Seja lá qual for a ênfase dada pelo BC ao câmbio e ao quadro fiscal, entre investidores ela é enorme. À turma, pode servir de obstáculo para a Selic cair muito além dos dois novos cortes já garantidos. E assim ficou espelhado, mais uma vez, na curva de juros futuros:

• Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 10,57% a 10,74%;
• Já para janeiro de 2033, de 11,66% a 11,85%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).