Guerra? Que guerra? Bolsa sobe e dólar cai sob conflito Israel-Hamas | Bolsas e índices

Mas nada de aversão ao risco espelhada nos ativos no fechamento.

• O índice Ibovespa, principal da bolsa, chegou a cair 0,63%. Mas fechou em alta, de 0,86%, a 115.156 pontos. O saldo outubrino está negativo em 1,21%. No ano, positivo em 4,94%.

• A carteira teórica mais famosa mais do Brasil girou R$ 15 bilhões, 20% abaixo da média diária dos últimos 12 meses.

• Das 86 ações, 59 subiram.

As mesas de operação do mercado foram pegas de surpresa pelo desempenho dos ativos neste primeiro pregão sob conflito Israel-Hamas. Não dá para apostar de olhos fechados nos próximos dias, de acordo com eles, com a manutenção da calmaria refletida pelos mercados nas próximas semanas.

“O problema é o conflito escalar. O risco é esse. No fundo, temos as grandes potenciais por trás dos movimentos. Dependendo do rumo do conflito, teremos um movimento mais intensivo de fuga de investidores para ativos de qualidade como os títulos americanos, o que implica dólar mais caro e bolsas sofrendo um pouco mais. Nesse contexto, o Brasil acaba sendo mais penalizado, por ser emergente“, alerta Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. “O efeito mais direto pode ser um espaço menor para a redução de juros no Brasil.”

Em meio às dúvidas, negociantes tomaram como certeza que a gasolina vai ficar mais cara.

Por ora, não há sinal concreto algum sobre oferta reduzida na oferta global de petróleo. Mas é um risco considerável. Estão no Oriente Médio alguns dos principais produtores do mundo. Se o conflito respinga para algum desses países, a exploração pode ser, simplesmente, interrompida.

Além disso, há o componente diplomático.

Uma guerra não se faz apenas com mísseis. O conflito no Leste Europeu, aliás, serve de escola. Caso a Liga Árabe tome as dores da autoridade palestina, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) pode ser usada como instrumento de guerra. Ou seja, pode fechar a torneirinha a Estados Unidos, Europa e outros países ocidentais aliados à Israel. E há ainda a possibilidade de a Rússia, que até aqui se mantém neutra, engrossar esse caldo.

• Por essas e outras, sob expectativa de lucros turbinados, as ações das petroleiras foram vistas como caminho natural dos fluxos de investimento. Acompanharam o salto de 4% da referência global do petróleo, negociada em Londres a US$ 88 por barril. Aqui no Brasil, as ações ordinárias (ON, com direito a voto em assembleias) da Petrobras subiram 4,10%. As preferenciais (PN, com preferência por dividendos), 4,30%. Com pouco mais de 12% de participação na carteira teórica, a estatal deu uma sustentação e tanto para o Ibovespa.

Mas e as outras ações? Como investidores encontraram ânimo para ir atrás delas?

Não dá para dizer que foi “sorte”, é uma guerra. Mas calhou de o primeiro pregão desde o começo dos conflitos ter sido em dia de feriado de Colombo nos Estados Unidos. O mercado de renda fixa por lá esteve fechado, impedindo títulos americanos de servirem de refúgio. Sem esses papéis servindo de imã aos dólares espelhados pelo mundo, esse flanco foi ocupado não só o mercado de petróleo. Saltaram aos olhos ações cujos preços foram descontados nas últimas semanas.

• Por sinal, na máxima do dia, o dólar no Brasil subia apenas 0,39%, e fechou em queda de 0,61%, a R$ 5,13. No mês, acumula carestia de 2,06%. Em 2023, desconto de 2,80% até aqui.

“A reação do mercado não foi a que eu esperava, exceto pela escalada do petróleo. Os mercados acionários, de certa forma, absorveram bem o conflito num primeiro momento”, diz Alvaro Bandeira, economista e consultor financeiro.

“Não se sabe até onde isso vai. Uma guerra dessas é uma explosão num barril de pólvora, está em aberto como os outros países da região vão reagir. Ainda assim, as bolsas não caíram, o dólar não subiu. A ver como será nesta terça (10), com o mercado americano operando a plenos pulmões. De todo modo, foi um bom indício. Pode ser que a alta de prêmios dos últimos dias já sirva para incorporar essa nova rodada de risco global.”

Incentivou também a tomada de risco a tese crescente de que a simples ameaça de nova altas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá bastado para conter a inflação americana. À espera de mais taxas, nas últimas semanas, o custo de capital na maior das economias foi subindo juntamente aos rendimentos dos títulos da Casa Branca.

Ou seja, a autoridade monetária teria conseguido esfriar a atividade econômica no gogó. Se essa teoria estiver correta, os juros americanos não voltam a subir em novembro. O que não parece muito provável, caso os desdobramentos da guerra provem que a disparada do petróleo desta sessão não era só um mais um ataque de ansiedade do mercado financeiro global.

“Como o controle de preço de combustíveis no mundo não é feito como no Brasil, a inflação global e suas expectativas devem sentir os efeitos do conflito”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa. “Consequente, os juros globais serão mais rigorosos, impondo ao Brasil condição similar.”

O tempo dirá. Mas, nesta sessão, não parecia nem ter uma nova guerra rolando.

A curva de juros brasileira acompanhou a calmaria global em dia de feriado lá nos Estados Unidos. E a expectativa de fim da linha para a queda da Selic, a partir dos atuais 12,75%, desceu dos 10,75% a 10,50%. Segue bem acima dos 9% contidos na pesquisa Focus:

• Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caíram de 10,96% a 10,84%;
• Já para janeiro de 2033, de 11,99% a 11,78%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).