Dirigentes do Fed mandam sinais mistos sobre futuro dos juros nos EUA | Moedas e Juros
Do Simpósio de Jackson Hole, evento promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) com membros de autoridades monetárias de diversos países, dirigentes do banco central dos Estados Unidos mandaram sinais mistos nesta quinta-feira (24) sobre o futuro dos juros no país. Embora o mercado siga mesmo apreensivo com a fala do presidente da entidade, Jerome Powell, que discursa amanhã, os indicativos de hoje podem aliviar o que virá amanhã.
Mas dois dos três executivos do Fed que falaram à imprensa americana hoje não disseram bem o que o mercado esperava ouvir.
A começar pela fala mais pessimista, da presidente da distrital de Boston do Fed, Susan Collins, que afirmou que os juros básicos nos EUA podem ter de subir em breve, durante uma entrevista ao Yahoo Finance.
“Estamos vendo alguns sinais promissores de que o trabalho que já fizemos está começando a surtir os efeitos desejados e acho que há mais a fazer”, disse Collins. Ela, porém, manteve uma postura cautelosa e evitou tentar antecipar quais serão as próximas decisões do Fed.
“Até chegarmos a cada ponto de decisão e termos todos os dados em mãos, não acho que seja útil definir um caminho. Podemos precisar de incrementos adicionais [nos juros] e podemos estar muito perto de um momento em que possamos manter os juros por um período substancial”.
Segundo Susan, após o término do ciclo de altas de juros, “é extremamente provável” que o Fed tenha de manter a política monetária apertada, sem cogitar cortes.
“Seria prematuro dar um sinal concreto sobre cortes de juros, mas penso que levará algum tempo. As pessoas não deveriam ficar surpresas com isso”, alertou Collins. Para a presidente do Fed de Boston, a falta de progresso na inflação de serviços não-domésticos e outros setores demanda paciência do BC.
No entanto a dirigente não tem direito a voto nas reuniões deste ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
James Bullard: economia pode levar à volta da inflação
O ex-presidente da distrital do Fed de St. Louis, James Bullard, disse que uma reaceleração da economia poderá colocar pressão altista na inflação. “Poderemos ver uma pausa da desaceleração inflacionária ou mesmo uma volta da inflação”, disse ele em entrevista à Bloomberg TV.
Segundo Bullard, um aumento da atividade econômica durante o verão americano pode adiar os planos do Fed de encerrar o ciclo de aperto monetário dos EUA.
Bullard destacou que o PIB americano vem crescendo e dá sinais de avanço substancial no terceiro trimestre, depois de ter ficado acima do esperado tanto no primeiro semestre de 2023 quando no segundo semestre de 2022. “Quem estava prevendo uma recessão nos EUA está em grande perigo agora”, disse.
Patrick Harker: Fed não deve subir mais juros e cortes virão apenas quando inflação cair mais
O presidente da distrital do Fed de Filadélfia, Patrick Harker disse que provavelmente o banco central americano já elevou o juro a um nível suficiente para combater a inflação. Harker deu uma entrevista à rede de televisão CNBC em Jackson Hole.
Segundo ele, os juros devem ficar no atual patamar de 5,50% até o fim do ano. Harker não deu pistas de quando os juros começarão a ser cortados. “Não podemos prever quando os juros serão cortados. A inflação precisa cair mais antes que pensemos em reduzir as taxas”, disse, reiterando que a política monetária precisará ficar em território restritivo por um tempo para que a inflação volte para a meta de 2%.
Harker disse que claramente já vê um aperto no crédito e que uma eventual desaceleração na economia é esperada. “Já vemos que as pessoas de baixa renda estão reduzindo o consumo”, afirmou.
Ele acredita que o desemprego deverá subir para o nível de 4% ou até um pouco acima deste patamar. “Eu quero ver um esfriamento do mercado de trabalho, principalmente no setor de serviços”.
Harker disse também que a expectativa é de que a inflação americana fique em 3% no próximo ano. Perguntado sobre qual será o impacto da desaceleração da economia chinesa nos EUA, ele disse que isto ainda não está claro.
Com informações do Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico.
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