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Copom corta Selic em 0,50 ponto, a 12,75% ao ano, e sugere mais cortes iguais | Moedas e Juros


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) respeitou à risca o plano de voo traçado semanas atrás. Depois de começar o ciclo de cortes da Selic na dose de meio ponto, repetiu a dose nesta quarta-feira (20). A taxa básica agora está em 12,75% ao ano, conforme todos os dirigentes da autoridade monetária apoiavam já em 2 de agosto.

De lá para cá, a conjuntura veio referendando a decisão, que surpreendeu um total de zero analistas.

  • No comunicado, o BC manteve o plano de mais cortes de meio ponto “nas próximas reuniões”. No plural. Ou seja, por pelo menos mais duas vezes. A porta para uma aceleração do ciclo de cortes, se for usada, deve ser apenas em 2024.
  • Um ponto importante do comunicado foi, ao menos, citar a incerteza fiscal como algo no radar. Segue de fora do balanço de riscos, mas não voltou a ser ignorada. A autoridade monetária jogou luz nas dúvidas presentes no mercado sobre quão exequível são as metas fiscais autoimpostas pelo governo. Em 2024, o objetivo é zerar o déficit, para daí em diante gerar superávits. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, documentou o BC.

A inflação de agosto, principalmente, trouxe conforto ao BC para praticar o novo corte. Veio não só abaixo do esperado. Surpreendeu positivamente no detalhe. Preços de serviços continuam desacelerando mesmo com a economia crescendo mais que o esperado. Em paralelo, a pressão de alta do dólar esfriou. A entrada de capitais por meio da alta das commodities vai sendo capaz de rebater a pressão de alta trazida por riscos fiscais e internacionais.

Vão na mesma direção benigna as expectativas de inflação para 2024, as mais relevantes hoje para o nível dos juros.

Sob efeito desses riscos citados acima, vinham subindo. Não mais. No aferimento publicado na segunda-feira (18), as expectativas de inflação regrediram ao patamar de um mês atrás. Estão em 3,86%, mais perto do teto de 4,5% que da meta de 3% ao ano. Como ao BC passou a bastar a “ancoragem parcial”, a aposta majoritária do mercado segue mais ajudando que atrapalhando.

  • Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta ou mais baixa implica empréstimos e financiamentos mais caros ou mais baratos. E, assim sendo, serve de ferramenta para esfriar ou esquentar a demanda e, a reboque, a inflação.

Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando mais significa menor poder de sedução para a renda variável. Já para o internacional, a renda fixa no Brasil pode ou não oferecer retorno compatível aos riscos, e assim atrair ou afugentar dólares. O que, por sua vez, ajuda a domar a inflação por meio do canal do câmbio.

LEIA O COMUNICADO NA ÍNTEGRA

O ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, observou-se maior resiliência da atividade econômica do que anteriormente esperado, mas o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Como antecipado, ocorreu uma elevação da inflação cheia ao consumidor acumulada em doze meses no período recente. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,9%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

Urgente Valor Investe — Foto: Arte/Valor Investe
Urgente Valor Investe — Foto: Arte/Valor Investe



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