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Copom corta Selic em 0,50 ponto, a 12,25% ao ano, e antevê mais cortes | Moedas e Juros


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) respeitou à risca o plano de voo traçado semanas atrás. Depois de começar o ciclo de dois cortes da Selic na dose de meio ponto, veio o terceiro nesta quarta-feira (1º). A taxa básica agora está em 12,25% ao ano, conforme todos os dirigentes da autoridade monetária apoiavam já em 20 de setembro.

De lá para cá, a conjuntura veio referendando a decisão, que surpreendeu um total de zero analistas.

A principal mensagem do BC é que o ano de 2024 deve começar com corte de juros.

  • A autoridade monetária manteve a previsão de cortes de mesma magnitude nas “próximas reuniões”. Assim, no plural. Portanto, pelo menos mais duas vezes. A se confirmar esse cenário, vem queda de meio ponto em dezembro e outra no fim de janeiro, levando juros aos 11,25% ao ano.
  • Daí em diante, talvez passem a importar um pouco mais para o ritmo de cortes as preocupações da autoridade monetária com a cena fiscal. O BC reforçou a necessidade de perseguir as metas fiscais estabelecidas faz poucos meses. E, faz poucos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que não se preocupa tanto assim com isso.
  • Deveria. Se o BC for de fato independente, aumentos no risco-Brasil podem impedir um ciclo de cortes de juros mais profundo.

O último IPCA-15, principalmente, trouxe conforto ao BC para praticar o novo corte. Não só a desaceleração dos 0,35% de setembro para 0,21% em outubro trouxe conforto à autoridade monetária para seguir cortando a Selic. Os detalhes também.

Já são cinco meses com preços de alimentos em queda. Ou seja, há uma tendência desinflacionária sólida mesmo em preços tradicionalmente mais voláteis. Os preços do setor de serviços reforçam essa percepção. São capazes de demonstrar se são necessários mais ou menos esforços em forma de juros. E desaceleraram da alta de 0,34% para 0,14% entre setembro e outubro.

As expectativas de inflação para 2024, as mais relevantes hoje para o nível dos juros, praticamente andaram de lado da última reunião do Copom até esta.

Riscos como fiscais e internacionais têm impedido a continuidade da reancoragem observada no fim do primeiro semestre. Mas, ao menos neste curto prazo, não tem sido problema ao BC. No aferimento publicado na segunda-feira (30), as expectativas de inflação indicaram leve alta em relação ao patamar de um mês atrás. Estão em 3,90%, vindas de 3,86%. Mais perto do teto de 4,5% que da meta de 3% ao ano.

  • Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta ou mais baixa implica empréstimos e financiamentos mais caros ou mais baratos. E, assim sendo, serve de ferramenta para esfriar ou esquentar a demanda e, a reboque, a inflação.

Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando mais significa menor poder de sedução para a renda variável. Já para o internacional, a renda fixa no Brasil pode ou não oferecer retorno compatível aos riscos, e assim atrair ou afugentar dólares. O que, por sua vez, ajuda a domar a inflação por meio do canal do câmbio.

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O ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, mas segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação, enquanto as medidas mais recentes de inflação subjacente ainda se situam acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,7% em 2023, 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,3% em 2023, 5,0% em 2024 e 3,6% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, é mais incerta do que o usual e exige cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,00, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom, conforme anunciado no Relatório de Inflação de setembro de 2023.

Urgente Valor Investe — Foto: Arte/Valor Investe
Urgente Valor Investe — Foto: Arte/Valor Investe



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