Com Vale em baixa e Petrobras em alta, Ibovespa perde 2% na semana | Bolsas e índices
A semana da bolsa foi marcada pelo risco inflacionário global. Mas terminou com aprofundamento de perdas, justamente, por causa de um possível freio nesse processo.
Os preços do minério de ferro, recentemente reaquecidos por incentivos estatais da China, perigam sofrer intervenção no sentido contrário. O governo de Pequim anda falando em “melhorar regulamentações” e “conduzir uma análise completa dos movimentos de preços”. Em outras palavras, pode inibir altas de preços que considerar especulativas. É um discurso reciclado, já presente ao longo da pandemia quando cotações metálicas passaram a orbitar níveis recordes.
Por um lado, a mão pesada do governo chinês implicaria custos menores ao setor imobiliário local, à beira da bancarrota. O crescimento chinês seria sustentado com menor pressão sobre o custo de vida global. Por outro lado, no entanto, seriam menores as receitas de mineradoras, responsáveis por alimentar a produção de aço sem a qual não há construção civil. Nem aqui, nem na China.
- Nesse embalo, ações da Vale e seus 15% de participação no Ibovespa caíram 1,90% nesta sexta-feira (8) e 3,16% na semana. Sob esse impacto, o principal índice da bolsa teve queda diária de 0,58%, a 115.313 pontos. Na semana, foram perdas de 2,19%. Em setembro, está 0,37% negativo. No ano, alta até aqui de 5,08%.
- A carteira teórica mais famosa do Brasil teve giro diário de R$ 13 bilhões. Na semana, média de R$ 14 bilhões.
- Das 86 ações, 51 caíram nesta sexta. Na semana, 75 delas.
Se o minério de ferro deu o tom diário, o petróleo explica boa parte da aversão ao risco semanal. Barris negociados em Londres foram às maiores cotações em 10 meses.
De novo, para manter preços aquecidos sob demanda a desejar, o cartel liderado por Rússia e Arábia Saudita cortou a sua produção. O petróleo entra em rali num momento em que já se temia a necessidade de mais juros globais contra uma desinflação teimosamente lenta. E que tende a ser ainda mais vagarosa quanto mais sejam aquecidos os preços dos combustíveis.
No Brasil, esse ingrediente se soma à força da atividade e ao risco fiscal para colocar em xeque a profundidade do ciclo de cortes da Selic. A curva de juros futuros, embora com refresco nesta sexta, refletiu essas desconfianças na semana:
- Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Da última sexta-feira (1) à quarta (6), taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 10,58% a 10,62%. Na volta do feriado, nesta sexta, queda a 10,56%;
- Já para janeiro de 2033, até quarta, estirão de 11,15% a 11,45%. Nesta sexta, queda a 11,39%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).
Nesse ambiente, a maior parte das ações acabaram tendo preços deprimidos pela perspectiva de custo de capital mais alto ao longo dos anos.
- Entre as varejistas, a maior baixa veio com as ações da Magalu, com 12,24% de perdas acumuladas. Entre as aéreas, pressionadas também pela perspectiva de combustíveis mais caros, a Azul teve a maior vermelhidão, de 8,44%.
Mas enquanto uns choram outros vendem lenços. As ações da Petrobras foram o destaque positivo da semana. Ajudaram a reduzir a baixa do Ibovespa, com seus 12% de espaço no índice.
- Enquanto a referência global do petróleo acumulava alta semanal de 3%, a US$ 91 por barril, o papel ordinário (ON, com direito a voto em assembleias) da estatal subia 2,86%. Preferenciais (PN, com preferência por dividendos), 2,36%.
Há expectativa no mercado de vitória da ala econômica do governo sobre a política. Ou seja, a estatal acabaria incorporando a alta do petróleo aos preços dos combustíveis. Assim, turbinaria lucros para ajudar a reduzir o déficit fiscal por meio de farta distribuição de dividendos. Favorecendo, claro, o acionista controlador, o governo, mas, a reboque, também os minoritários, pessoa física.
- E não só a bolsa teve baixa moderada pelas ações da Petrobras. Também o dólar, sob perspectiva de risco fiscal menor à frente, acabou subindo menos do que poderia. Após cair 0,01% nesta sexta, a R$ 4,98, o câmbio fechou a semana 0,85% mais caro. Em setembro, até aqui, carestia de 0,65%. Em 2023, a queda está em 5,60%.