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Brasil só não ganha ‘se fizer gol contra’. Em que investir nesse cenário? | Fundos Multimercados


Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG, e os gestores de fundos multimercados Bruno Marques, da XP Asset, Vinicius Fukushiro, da Tenax Capital, e Felipe Guerra, da Legacy Capital, compartilham certo otimismo com o mercado brasileiro. Esse sentimento permite que os especialistas e suas equipes voltem a arriscar com posições impensáveis nesses dois últimos anos.

Só não se engane. Em vez de uma positividade contagiante, suas falas são dominadas por uma confiança temerosa. Nos painéis que participaram do TAG Summit nesta semana, os quatro reconheceram que, a essa altura, o Brasil “só não ganha o jogo se fizer gol contra”. Mas isso para a partida travada neste ano.

“Nossa estratégia mudou após a apresentação do arcabouço fiscal”, disse Fukushiro, da Tenax. “A tese otimista que adotamos para o Brasil está baseada em três pilares: fiscal, porque o governo mostrou alguma responsabilidade sob essa ótica; o ciclo de afrouxamento monetário, que começou agora e será profundo, considerando que ainda há bastante espaço para cortar juro no país; agenda de reformas, boas para o ambiente de negócios no médio prazo.”

No ano que vem, a conversa já será outra. “Operamos otimistas no curto prazo, mas é um otimismo cauteloso. Não acreditamos em uma mudança estrutural com uma agenda de reformas que possa melhorar a produtividade”, pontuou Guerra, da Legacy.

No médio prazo, as perspectivas para a política fiscal do atual governo são incertas e crescem no longo prazo sob as sombras de uma “aterrissagem forçada” nas economias desenvolvidas e uma possível desaceleração do mercado daqui também.

Gestores ainda apontam a entrada de dois novos diretores no Banco Central (BC) no fim de 2023 como ponto de atenção para o próximo ano, além da virada de gestão na autoridade monetária em 2025, com o fim do mandato de Roberto Campos Neto.

O mercado vem errando as projeções de crescimento da economia brasileira desde 2020″, afirmou Mansueto. “Para 2024, a perspectiva mais conservadora – como é o nosso [BTG] caso -, como o juro real ainda estará alto, vemos o crescimento em 1%. Só que analistas tradicionalmente bem mais pessimistas que nós dizem que veem mercado expandindo 2% no ano que vem“, disse, arrancando alguns risos, com a dissonância das projeções no mercado.

O economista-chefe do BTG reiterou que, nesse horizonte conservador, a margem de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) fica entre 1% e 2,5%. “É porque, quando o investidor estrangeiro vem para a bolsa brasileira, ele a está comparando, além de América Latina, com as da Rússia, Turquia, China, mercados com risco político atualmente mais alto”, disse Mansueto.

Endividamento é o “novo normal”

No exterior, embora se fale de um pouso tranquilodas economias dos Estados Unidos (EUA) após mais de um ano de apertos em juros, parte dos especialistas acredita que se trata apenas do adiamento de uma inevitável desaceleração nesse mercado.

Marques, da XP Asset, revela que a grande surpresa neste ano foi os EUA alcançarem a faixa de juros de 5,5% após um ano de política monetária mais restritiva sem uma consequente “aterrissagem forçada” (desaceleração brusca) da economia americana.

“Isto é algo inédito da perspectiva histórica e traz algumas dúvidas se essa desaceleração só foi adiada ou se houve mesmo uma estruturação ótima do sistema e uma boa gestão dos bancos centrais. Pendemos para a primeira hipótese, por isso não temos uma posição muito grande lá fora“, afirmou o gestor de fundos da XP.

Caminhamos para um mundo em que o nível de endividamento será muito maior e que os países precisarão discutir elevar a carga tributária”, afirmou Mansueto. Ele pondera ainda que, embora no Brasil não tenhamos o componente da tensão geopolítica pressionando a dívida pública, como em países do Hemisfério Norte e China, carregamos uma dívida relativamente maior.

O financiamento dessa dívida deve nos obrigar a migrar para um período de taxa de juros maiores. O mercado desenvolvido não espera mais voltar a uma realidade de próximo a 0%, como foi antes da pandemia, mas ainda é difícil medir qual será esse prêmio”, disse o economista-chefe do BTG.

Para o médio prazo, Guerra da Legacy enxerga que o arcabouço aprovado exigirá geração de arrecadação, que pode até levar a relação entre dívida pública/PIB a 84%, mas com uma desaceleração da economia e despesas ela subiria à frente para 90%. “Essa questão fiscal não é o que o mercado quer olhar neste momento e, se nos fixarmos nisso, seremos ‘atropelados’. Por isso estamos cinicamente otimista, especialmente porque a economia está crescendo.”

Em que investir nesse ambiente?

No curto prazo, o problema do Brasil são os juros, e este continuará sendo o tema central para investidores pelos próximos 12 meses. Gestores de fundos multimercados também se guiam pelo cenário de médio e longo prazo, o que torna as apostas mais seguras que um momento de corte de juros sugere.

Estratégia de gestores multimercados para o curto prazo

Gestora Renda variável Renda fixa
XP Asset Otimismo moderado. Possuem alocação em juros reais e um pouco em juro nominal. Gostam também de se expor à bolsa, que está com uma precificação baixa, mas consideram os riscos bem relevantes. Maior alocação dos fundos é em Tesouro IPCA+, por considerarem a inflação implícita de três anos a 4,5% ser um seguro muito barato em um ambiente de pressão fiscal, ciclo de juros começando e um BC que vai mudar daqui para frente.
Tenax Capital Têm posição em bolsa e estão selecionando ativos para aumentar a exposição a ativos em setores menos sensíveis à reforma tributária e revisão em arrecadações. Têm atualmente mais Tesouro IPCA+ na “barriga” da curva de juros.
Legacy Capital É o momento de montar uma carteira de baixo risco. Em ciclo de queda de juros, a bolsa deve subir CDI+10%, mas com muita volatilidade, dado que o governo está buscando gerar mais arrecadação. Têm pequena exposição à bolsa por preferirem crédito. Estão otimistas com debêntures incentivadas. Supõe que o ativo pode dar retorno de 25% em 18 meses, sendo isento de tributação.

De maneira geral, gestores acreditam que o processo de descompressão do mercado está só no começo aqui no Brasil, e isso deve levantar os preços de ativos como um todo, mas especialmente das classes de risco.

Ainda há muito espaço para aumentar a participação do ativo de risco local nas carteiras domésticas. Agora é o momento de ‘escolher os cavalos’, escapando dos setores e classes ‘cascas de banana’ em termos de arrecadação”, disse Fukushiro.

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