Bolsa sobe na semana, apesar das dúvidas sobre o ciclo de cortes da Selic | Bolsas e índices

Nesse ambiente, nesta sexta-feira (25), o mercado tornou a rever o otimismo sobre a profundidade do ciclo de queda da Selic. A cena externa não permite colocar a mão no fogo na ida dos atuais 13,25% ao ano a 9%, conforme projeta a média dos analistas para 2024. De quebra, no curto prazo, nada das surpresas necessárias para o ritmo de cortes de meio ponto por vez ser acelerado para 0,75.

Ou melhor, surpresas até têm acontecido. Mas negativas.

• E o Ibovespa, principal índice da bolsa, caiu 1,02% nesta sexta-feira (25), a 115.837 pontos. Acumulou na semana alta de 0,37%. Em agosto, foram 5,01% para o beleléu até aqui. Em 2023, saldo positivo parcial de 5,56%.

• Das 85 ações do Ibovespa, 71 caíram nesta sexta.

• A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 14 bilhões.

Lá fora, não tivemos exatamente uma surpresa. Só para aqueles que ainda se permitem enganar, acreditando que a vitória contra a inflação americana será indolor.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deixou bem aberta a porta para mais juros nos Estados Unidos. No discurso mais aguardo do simpósio anual de banqueiros centrais de Jackson Hole, o anfitrião apenas repetiu aquilo que, comunicado a comunicado, veio sendo ignorado por investidores nos primeiros meses do ano.

Ou seja, quanto mais a economia americana se mantiver pujante, mais demora para a inflação ser controlada. E, portanto, para os juros americanos caírem, se é que taxas ainda mais altas não serão necessárias.

Trocando em miúdos, a tal recessão americana tarda, mas bem possivelmente não falha. E se noutros carnaval o crescimento da China compensava, não se pode mais contar com isso. E, nessas condições, pode haver um obstáculo e tanto para a Selic cair daqui uns meses.

Mundo crescendo menos sob juros altos implica atratividade alta à renda fixa das maiores economias. Se o Brasil não for sedutor o suficiente, e corre o risco de não ser, fica mais difícil manter dólares por aqui. Um patamar muito baixo de juros turbinaria ainda mais a pressão de alta do câmbio e, portanto, da inflação.

• Mas há males que vem para o bem. O mercado vai se ajustando a um nível maior para a Selic no futuro. O que, somado à aprovação do marco fiscal pela Câmara, ajudou o dólar desde já a se afastar do nível de R$ 5 que vinha namorando. Depois da queda de 0,10% desta sexta, a R$ 4,88, acumulou baixa semanal de 1,85%. Em agosto, a alta está em 3,09%. Em 2023, cai 7,64%.

No Brasil, a sexta ofereceu nova surpresa negativa. A inflação medida entre os dias 15 de julho e agosto ficou bem acima do imaginado.

A alta do IPCA-15 foi de 0,28%. Superou até mesmo a mais pessimista das apostas de analistas, de 0,25%. E para o BC cortar a Selic mais rapidamente seria necessária uma inflação corrente inesperadamente mais baixa, não mais alta. Esse revés se soma à pausa nas quedas das expectativas, sendo outro pré-requisito para uma queda mais célere dos juros a inflação projetada convergir mais rapidamente à meta de 3% ao ano em 2024. Mas estacionou perto de 4%.

O dado desta sexta, de toda maneira, parece garantir mais cortes de juros, ainda que sem acelerar o passo de meio para 0,75 ponto por vez. O dado cheio veio mais cheinho, mas no detalhe trouxe alívio. Foi puxado para cima por itens voláteis, alheios à política de juros. Por outro lado, e objeto constante de preocupação do BC, os preços do setor de serviços seguem em desaceleração.

De toda maneira, a sexta-feira corrigiu na curva de juros futuros a lufada boa de otimismo que foi embutido às taxas, na semana, com a aprovação do arcabouço:

• Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Entre a sexta (18) passada e quinta, taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caíram de 14,44% a 12,39%. Subiram nesta sexta a 12,42%;
• Já para janeiro de 2033, até a véspera, caíam de 11,30% a 11,14%. Subiram a 11,16%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).