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Bolsa brasileira é a melhor para investir hoje: por que gestores apostam na alta daqui? | Hora de Investir


Há um ponto quase unânime no mercado hoje: a bolsa brasileira voltou a ser uma boa opção de investimento. Para alguns, uma opção melhor que qualquer outra hoje. E não é só papo de gestor de fundos de ações ou de quem quer vender serviços de negociação de ações. Mesmo o mais arrazoado dos especialistas em renda fixa admite que a oportunidade é interessante, porque o mercado está bem posicionado para surfar o próximo ciclo de crescimento econômico.

Trata-se de uma combinação singular de fatores geopolíticos e macroeconômicos que torna o Brasil uma opção estratégica neste momento: início dos cortes no juro, enfraquecimento da bolsa norte-americana, descolamento (positivo) dos outros emergentes e, claro, a bolsa está barata.

Com o fortalecimento do fluxo de saída de investidores estrangeiros, a principal força compradora na B3, o diagnóstico de especialistas é de que há muitas pechinchas na bolsa brasileira neste momento.

Síndrome de Poliana? Durante a Expert XP, a “ferida” de especialistas em renda variável, por vezes acusados de “exagerarem no otimismo”, foi cutucada. E a sócia-fundadora e gestora da Dahlia, Sara Delfim, respondeu à crítica: “Confundem essa análise positiva com ingenuidade. Mas há fundamentação, temos até uma visão para fazer hedge [estratégia de proteção do valor do ativo]. No fim, a verdade é que não conheço nenhum milionário que investe só em NTN-B [Tesouro IPCA+]”, disse.

Guilherme Benchimol, Luiz Barsi, Warren Buffett…ganharam dinheiro em ações”, enumerou a gestora. “Em todos os casos de sucesso, o ponto comum é a paciência e o tempo dedicado a isso. O acúmulo de patrimônio em bolsa é lento.”

“E fazer timing [ganhar com compra e venda de ações na hora certa] é dificílimo, por isso, na maioria das vezes, as pessoas fazem errado”, disse João Luiz Braga, sócio-fundador e analista da gestora Encore, em concordância. “Então eu sempre digo: ‘invista pouco [em bolsa], mas deixe o dinheiro lá por mais tempo.’

Apesar de o Banco Central (BC) ter dado o pontapé inicial na descida da taxa básica de juro (Selic) só no começo de agosto, com o rali da bolsa entre maio e julho, muitos investidores se perguntam se o mercado já não antecipou todo o otimismo com os cortes antes mesmo de se concretizarem. Para o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, a resposta é um seguro “não”.

Ele conta que sua equipe estudou os últimos seis ciclos de cortes de juros promovidos pelo BC, e vê que a bolsa ainda não performou como costuma nessa janela. “Vimos que o Ibovespa costuma ter uma valorização média de 45% nesses períodos, enquanto o CDI [Certificado de Depósito Interbancário] costuma subir entre 17% e 18%”, disse, lembrando que a alta recente está ainda distante do quanto o índice performa nesses ciclos.

Apostas de gestores em bolsas

Gestora Visão de investimento
Dahlia Investem em papéis do setor elétrico, de varejo e de empresas de commodities. Em moedas, apostam no real contra o euro, gostam de NTN-Bs na renda fixa e fazem hedge com posição comprada na tese de petróleo e em petroleiras.
Encore Têm posição em Vale, baseada na tese de que a economia chinesa não está tão mal quanto o mercado acredita, e as petroleiras Petrobras, Prio e 3R. Têm Aliansce Sonae, Eletrobras, Mercado Livre, Totv e Vivara na carteira. Prefere operar na bolsa.
XP Avaliam que setores mais sensíveis a juros (os papéis ciclícos domésticos) e small caps tendem a subir bastante nesse ciclo. Apontam disparidade em preços nas ações de saúde, educação e imobiliário, que anteciparam bastante os cortes. Ativos de das empresas de utilities (serviços públicos) caíram recentemente e estão baratos por conta dos resultados ruins no último trimestre.
Vista Capital Faz negociações focadas em posições vendidas [que apostam na desvalorização] na Europa. Há posições compradas na bolsa do Brasil, em ativos do setor de tecnologia na China, uma pequena exposição ao mercado argentino e uma alocação na tese de urânio, “que é bem careta, na verdade, totalmente baseada no mercado energético”, disse Landau.

Mas a argumentação ainda funciona melhor no discurso do que na prática. Fora dos palcos, Henrique Bredda, gestor do Alaska, reconhece um cenário com perspectivas positivas, só não se permite tanto otimismo (ainda): o investidor ainda está resistente a voltar para ações.

“A taxa [Selic] precisa descer mais – e vai descer, como o mercado espera -, para que vejamos esse apetite ao risco voltar. Acho que quando a Selic estiver mais perto dos 12% ao ano veremos uma retomada desse apetite”, afirmou Bredda.

Já Braga explica que estamos no início do “ciclão”, como ele denomina a tendência de volta do capital para a bolsa em um período puxado pela queda das taxas de juros. “Quem entrar agora vai comprar papéis defensivos, porque ainda temos um juro alto. Mas aí esse ciclo matura com posições aumentando em large caps [empresas mais negociadas na bolsa] e se encerra com o investidor entrando nas small caps [ações de baixa liquidez]”, afirmou.

Bolsas americanas menos atraentes

Quem está comprado [tem posições que apostam na alta de ativos] na bolsa agora tende a navegar bem pelos próximos 12 meses”, disse Braga, da Encore. “A começar que poucos fundos têm grandes alocações em ativos da bolsa atualmente. Os estrangeiros saíram em peso da nossa bolsa em 2012 e aquele montante de capital de fora que foi nunca mais voltou.”

A partir dessa análise, Braga aposta que o fluxo de compra deve ser retomado neste segundo semestre. “O Brasil tende a se beneficiar quando a economia global está ‘no meio do caminho’, que é exatamente onde estamos agora”, afirmou.

Ele explica que, quando os mercados estão muito bem, com juro baixo e inflação controlada, o investidor de fora olha para a bolsa norte-americana. Quando o macro está muito mal, as pessoas querem alocar só em dólar e na renda fixa. E o momento é desse “nem lá nem cá”, com emergentes se recuperando e EUA possivelmente no fim do ciclo de alta das suas taxas, mas ainda com uma bolsa bem cara.

Já Ferreira pondera sobre a recente saída massiva do capital estrangeiro da B3, o que, para ele, não tem qualquer relação com uma degradação da visão estrutural para o mercado brasileiro. “Aconteceu por conta do pico que as bolsas em dólar atravessaram agora e que atraiu esse investidor.”

“O Brasil é uma porrada”, declarou Sara. “Os economistas – e eu me incluo nesse grupo – sempre erram muito em estimativas para o PIB brasileiro. E isso porque, mesmo na crise, nossa balança comercial bate recorde atrás de recorde”. A sócia-fundadora da Dahlia cita dois pontos cruciais que “blindam” a economia brasileira dos choques: autossuficiência em produção de alimentos e de energia.

No cenário global, o Brasil tem se descolado dos BRICS (o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de outros emergentes por não estar envolvido em nenhum conflito geopolítico, ser um mercado grande em oportunidades de investimento, com mercado consumidor de peso, economia resiliente e menos dependente de outros países.

A tese de Brasil é 90% macroeconômica e 10% política, mas nós gastamos 90% da energia discutindo a interferência política”, disse João Landau, fundador da Vista Capital. Sara, Braga e Ferreira concordam que o cenário de gestão pública tem pouca interferência na visão para a bolsa brasileira.

“Para nós, essa percepção de elevação do risco político é como um bom impulso comprador, porque barateia os ativos”, disse a gestora da Dahlia.

O Brasil está na paz de Cristo, com uma cena geral muito boa e o panorama político em banho-maria. Se encaixar um controle fiscal – aspecto que não está bom em nenhum país do mundo -, maravilha”, finalizou Landau.

otimismo bolsa alta — Foto: Getty Images
otimismo bolsa alta — Foto: Getty Images



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