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Bibidi-bobidi-bu! Como magia, Ibovespa sobe. Mas não a ponto de salvar a semana | Bolsas e índices


Salagadula, mexegabula, bibidi-bobidi-bu: o Ibovespa subiu. Feito magia, a gata borralheira virou a bela dama do baile…bem, não é por aí. Esta história está bem longe de um conto de fadas.

Nesta sexta (14), as bolsas de Nova York caíram. As europeias capotaram. Mas a bolsa brasileira subiu. Só que foi sofrido, e ainda é cedo para dizer que o índice quebrou o encanto que o derruba.

  • O Ibovespa hoje lutou pela alta de 0,08% e foi aos 119.662 pontos. Ganho bastante modesto, é verdade, mas que pesa diante da aversão acentuada ao risco. A magia não foi suficiente para virar as perdas, no entanto. Nesta semana, o índice acumulou baixa de 0,91%, e a queda no ano está agora em 10,82%.

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, soltou seu feitiço para a bolsa subir. Após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela manhã, disse à imprensa que os participantes saíram convencidos de que o chefe da pasta “está determinado em buscar o reequilíbrio das contas públicas”.

Boa notícia para um mercado coberto pela aversão ao risco nas últimas semanas. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros vieram à público com a mesma intenção que tiveram hoje: reassegurar que o compromisso da equipe com as metas fiscais segue inabalado.

Até aliviaram as tensões, mas ainda não convenceram totalmente os investidores.

Tanto é que o dólar, apesar de ter rondado a estabilidade pela maior parte do dia, acabou fechando em alta. Verdade seja dita: os sinais mistos sobre a possibilidade de antecipação dos juros americanos também ajudaram a confundir o mercado.

Mas a redução desse temor não passou despercebida. Na curva dos futuros de juros, correção majoritariamente baixista hoje, em correção também aos excessos recentes, que chegaram a fazer as taxas saltarem meio ponto em uma sessão.

A Petrobras já foi fada madrinha do Ibovespa e o salvou de quedas em muitos pregões. É a menina dos olhos de investidores e tem os papéis mais líquidos do índice. Mas hoje agiu como a madrasta malvada.

O empetecamento do Ibovespa teve a Petrobras como mais um obstáculo. Detentoras de uma fatia que corresponde a 12% dos pesos na carteira teórica do índice, as ações da companhia degringolaram após o anúncio dos primeiros indicados de Magda Chambriard às diretorias da petroleira.

O movimento na bolsa brasileira tem se descolado do exterior. Na maioria das sessões, isso é ruim. Enquanto os índices estrangeiros sobem, o Ibovespa cai. Hoje, esse desacoplamento do Brasil foi bom.

Mas ainda não está em nenhum conto de fadas.

A realidade é que um dos (muitos) problemas recorrentes na nossa bolsa é a ausência de comprador marginal. Em tempos de crise, o baque no Ibovespa é acentuado porque a força que movimenta nosso mercado desaparece: os gringos. Especificamente, o capital deles.

Atualmente, investidores estrangeiros estão olhando para dentro ou para seu mercado mais próximo. Num ambiente global de juros elevados e economias aquecidas, os ativos de economias desenvolvidas são incomparáveis.

Por que alguém arrisca se expor a economias menores, com moedas mais instáveis, física e culturalmente distantes, altamente dependentes do cenário externo e repletas de incertezas fiscais e políticas? Apenas por um potencial de retorno muito superior às opções de investimentos que existem no seu mercado.

Só que hoje esse investidor estrangeiro tem “dentro de casa” uma renda fixa com boa rentabilidade e ainda por cima segura. Nas bolsas, teses “frescas” e com potencial de ganhos avassaladores, casos das empresas que estão ligadas à indústria de Inteligência Artificial, dados, cibersegurança e a carros elétricos.

A indústria tradicional e os setores de consumo dos EUA e na Europa também não vão tão mal. Isso porque as economias desenvolvidas seguem aquecidas apesar das taxas de juros altas.

Então o que traria um desses investidores ao mercado brasileiro?

Voltamos à questão do comprador marginal. Sem os investidores estrangeiros, qual é a força compradora de bolsa aqui?

Investidores institucionais (fundos e empresas de gestão de capital) são a segunda força que movimenta a bolsa brasileira. Mas seu interesse só é despertado quando os gringos estão a toda, comprando aqui e acolá.

Os institucionais forma também o grupo mais intolerante às perdas, porque as consequências para eles são desastrosas. No Brasil, o investidor cotista tem dificuldade de aceitar perdas.

O fundo apanhou um mês? Hum. Dois meses? Vixi. Três meses? Hora de resgatar o dinheiro e cair fora.

Num comportamento de manada, esse movimento é extremamente danoso à gestão do fundo. E aí ainda entra o macro: Selic nos dois dígitos – e que não deve sair desse patamar tão cedo.

Fica difícil tirar os institucionais desse estado de apatia com a bolsa. Se têm posições em ações, reduzem-nas ou mexem pouco. Ou o quê? melhor ir para a renda fixa ou buscar o que existe de oportunidade fora.

Sobra qual investidor? A pessoa física. Um público que cresce num ritmo consistente na bolsa e se mostrou o mais resiliente nesta crise, mas esteve por trás de apenas 13,5% das transações deste ano até aqui.

Já os estrangeiros, que deram as costas à bolsa, ainda dominam 54,5% das operações e os institucionais, 27,2%.

Não tem príncipe encantado, sapatinho de cristal, tampouco fada madrinha.

O Ibovespa hoje é apenas o retrato de um índice órfão montado numa abóbora.

magia — Foto: Freepik/Imagem gerada por IA
magia — Foto: Freepik/Imagem gerada por IA



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