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Dólar mais alto exige que taxa de juros suba para controlar a inflação | Moedas e Juros


Em relatório a clientes, o Deutsche Bank traz um alerta: o câmbio no patamar atual pode implicar a necessidade de se ter uma taxa básica de juros mais alta do que os atuais 10,5% ao ano. E, de acordo com a análise dos especialistas do banco, tudo está ligado à inflação. Ou melhor, ao controle dela.

Com o dólar atualmente em torno dos R$ 5,66 e as expectativas do mercado desancoradas em relação à inflação (ou seja, esperando que a alta dos preços acelere), seria necessário o Banco Central (BC) subir a Selic a 12,1% para trazer a inflação de volta à meta, de acordo com a equipe do banco alemão.

Segundo o cálculo do Deutsche, a Selic atual de 10,5% seria suficiente para trazer a inflação à meta com um dólar girando perto dos R$ 5,15, patamar abandonado no fim de maio. Assim, as expectativas de investidores e economistas para a inflação estariam ancoradas e mais alinhadas com a meta do Banco Central (BC), de 3% (com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima).

Isso acontece porque o dólar é um “canal” de inflação. Com a divisa americana mais cara, matérias e produtos importados são mais custosos para as empresas brasileiras. Na ponta, essa despesa elevada precisa ser repassada (ao menos em parte) para os preços finais, ou seja, para os consumidores – do contrário, as margens de ganhos das empresas são encolhidas num momento de pressão elevada (com Selic lá no alto) sobre o mercado.

Preços subindo num ritmo maior do que antes = inflação acelerando.

E as negociações dos futuros de juros são baseadas nas projeções que agentes têm para a inflação e, consequentemente, para a Selic.

O relatório do banco aponta que há “sinalizações mais fortes” tanto do BC quanto do mercado de que a estabilidade financeira e o prêmio de risco tomaram a frente da inflação e da atividade ao considerar suas decisões. Neste cenário, “é natural que o mercado se posicione para eventos de cauda” diante da ameaça da deterioração recente dos ativos à estabilidade financeira.

“Estimamos que o real esteja mais de 20% subvalorizado em relação aos fundamentos, e esses níveis de subvalorização, se mantidos, tendem a gerar pressões inflacionárias significativas”, diz o relatório assinado pelo estrategistas e economistas Drausio Giacomelli, JP Schuchter, Francisco Campos e Carlos Munoz-Carcamo.

O dólar fechou hoje sua sexta sessão consecutiva de alta contra o real, pressionado pela deterioração das expectativas do mercado quanto a política doméstica monetária e fiscal.

“A verdade é que, no início do ano, o mercado tinha uma visão benigna para o real por conta dos ‘US$ 100 bilhões’ de superávit da balança comercial no ano passado”, disse ao Valor um operador de câmbio de uma gestora, que falou na condição de anonimato. “Essa é uma visão que se provou totalmente errada. Tanto porque a balança comercial está piorando, quanto porque o investidor não estava olhando o dado mais amplo das contas externas, que tinha déficit mesmo com um superávit imenso na balança comercial.”

Com informações do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.

juros altos — Foto: Getty Images
juros altos — Foto: Getty Images



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