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Veja as 10 ações do Ibovespa que mais caíram em outubro | Empresas


A bruxa está solta na bolsa. E isso não tem nada a ver com o Halloween (abrasileirado como Dia das Bruxas) celebrado nesta terça (31). O clima de pânico (do risco, neste caso) se espalhou meses antes, ainda em agosto. Levaram um susto os investidores que à época insistiam em uma recuperação dos papéis do varejo no curto e médio prazo. Erraram feio. Este é o terceiro mês seguido que o setor domina o pódio de maiores quedas do Ibovespa.

Pela lógica, esses papéis deveriam ter se beneficiado com o início dos cortes na Selic pelo Banco Central (BC), já que eram também os mais pressionados pelos juros altos. Mas não foi este o rumo que a história tomou nos últimos três meses.

Se as variáveis existissem isoladamente, os cortes que levaram a Selic dos 13,75% ao ano aos atuais 12,75% deveriam ter impulsionado os preços das ações. Mas não. Mal reverberaram na nossa bolsa.

Isso porque enquanto aqui a Selic descia, nos Estados Unidos, a curva do título de 10 anos do Tesouro americano “empinou”. As taxas dispararam de 3,85% ao ano a 5% nesse período. Sob uma pressão altista das taxas do ativo mais negociado no mundo (a Treasury de 10 anos), a curva daqui também subiu.

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Então a perspectiva anterior de a Selic descer até os 9% mudou, e o mercado enxerga atualmente a taxa básica indo só até os 10,75% neste ciclo. O fenômeno conteve o apetite a risco nos mercados, retendo o capital na renda fixa, e os dólares, no exterior.

“Além disso, internamente, preocupações surgiram neste fim de mês quanto ao alcance da meta fiscal do Brasil para o próximo ano, após declarações do presidente Lula, o que contribuiu para uma nova queda nos ativos de risco”, disse Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

Resultado: as ações que sentiriam a descompressão do juro de volta a um dígito não experimentaram o prometido alívio com a queda da Selic. E talvez nem sintam tão cedo.

No mês, o Ibovespa teve 63 baixas das 86 ações na carteira atualmente. Outubro foi um período de alta volatilidade na bolsa, que culminou em um fechamento bem negativo para o índice.

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“Para Casas Bahia [segunda maior queda do Ibovespa no mês] não sei se há volta. E o cenário para Magazine Luiza [a maior queda de outubro] está ficando muito ruim também, acompanhando o que aconteceu na rival. Na outra ponta está o Mercado Livre, que se beneficia desse enfraquecimento das concorrentes”, afirmou o estrategista-chefe do grupo Empiricus, Felipe Miranda.

As 10 ações do Ibovespa que mais caíram em outubro

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 MAGAZ LUIZA ON MGLU3 -37,26 1,33
2 CASAS BAHIA ON BHIA3 -28,57 0,45
3 PETZ ON PETZ3 -24,58 3,56
4 EZTEC ON EZTC3 -23,65 14,37
5 MRV ON MRVE3 -22,68 8,25
6 BRASKEM PNA BRKM5 -21,69 16,07
7 HAPVIDA ON HAPV3 -21,49 3,69
8 GRUPO SOMA ON SOMA3 -20,45 5,29
9 VAMOS ON VAMO3 -19,69 7,83
10 HYPERA ON HYPE3 -18,44 30,29

Bruna defende que o aumento nos ruídos fiscais e alta dos juros globais sugerem aos investidores seguirem com viés conservador neste momento. Nem inflação doméstica seguidamente baixa, tampouco a continuidade dos cortes na Selic seriam motivos suficientes para justificar uma alocação mais arrojada em bolsa. Pelo menos por enquanto.

“Acredito que o momento é de manter uma carteira equilibrada, um pouco mais defensiva, e composta por ativos de qualidade”, afirmou a analista da Nova Futura Investimentos. “Oportunidades podem surgir para quem acompanha a análise gráfica e movimentos mais curtos do mercado. Mas o melhor caminho é sempre a diversificação.”

As ações que mais sofreram

As ações de consumo e varejo foram dizimadas por uma soma de fatores: alta das taxas de juros no mundo, muitos investidores saíram desses papéis e migraram para as empresas que estrearam na bolsa em 2021. “O varejo brasileiro está vivendo essa invasão de sites chineses no mercado doméstico e agora uma tentativa de reforma tributária”, disse o analista de ações da Levante, Flavio Conde. “Ninguém sabe o que vai acontecer, por isso o investidor fugiu desse setor.”

A plataforma Bridgewise, que provê análises de ações com a ajuda de Inteligência Artificial, classifica a nota da ação Magazine Luiza em 65 de 100. Embora a empresa tenha uma recomendação “estável” para o papel no sistema, o cruzamento de dados sugere que talvez este não seja o melhor momento para comprar ou vender o ativo.

“Os resultados financeiros da Magazine Luiza estão alinhados com as médias do setor, mas não superam seus pares no setor discricionário de consumo”, aponta o relatório coletado na plataforma pelo analista Thiago Guedes, diretor de novos negócios da Bridgewise. “As ações da empresa estão sendo negociadas abaixo das médias móveis de 5, 50 dias e 200 dias, indicando um impulso negativo.”

A plataforma ainda aponta que as ações estão próximas da mínima de 12 meses, “o que pode ser um sinal de dificuldade em manter o preço de suporte”. A análise, por fim, pondera que esses indicadores são técnicos e podem não refletir totalmente o desempenho fundamental da empresa ou possíveis fatores do mercado externo.

“Há muitos papéis ‘amassados’ na bolsa, mas que ainda devem ficar piores”, disse Miranda, da Empiricus. “Empresas que estavam alavancadas [relação entre dívida e indicador de lucro elevada] esperavam por uma demanda de consumo que não se consolidou. E mesmo cortando custos fixos, despesas, a dívida se manteve. Por isso, a única solução para essa alavancagem alta foi o aumento de capital. Como o que Casas Bahia fez.”

Ele reflete que, ao buscar se capitalizar no mercado, essas ações sofreram ainda mais. As ações da Casas Bahia, que já estavam bastante pressionadas pelo ambiente macroeconômico desfavorável, teve o preço por ação fixado em R$ 0,80 na oferta pública. Naquele dia, a empresa fechou a sessão negociada a R$ 1,11 na B3. Um mês e meio depois, neste 31 de outubro, o ativo encerrou o pregão em R$ 0,45.

A Bridgewise classifica a ação da Casas Bahia com uma nota 62 de 100, o que a coloca abaixo da média do mercado. “Apesar de superar as previsões de receita, Grupo Casas Bahia não cumpriu suas expectativas de lucro e divulgou resultados financeiros insatisfatórios no segundo trimestre de 2023”, aponta o relatório. “Uma queda na lucratividade operacional pode significar um problema de vendas ou um aumento nas despesas operacionais, o que pode prejudicar o desempenho das ações no futuro.”

A plataforma aponta que as ações da companhia estão com preço atual abaixo da média móvel em 5 dias, 50 dias e 200 dias e indicadores sugerem que o momento de movimentação dos preços esteja enfraquecendo.

“Historicamente, trata-se de uma configuração negativa em curto, médio e longo prazo. A empresa está negociando em baixa há cerca de 12 meses, o que sinaliza seus esforços para manter os preços acima do mínimo de sustentação.”

Além de exposta aos riscos do setor de consumo discricionário, a Petz sofre ainda o efeito de atuar em um nicho de consumo novo na bolsa brasileira. Quando estreou na B3, o mercado traçou projeções bastante otimistas para o crescimento da companhia. “As pessoas dão o benefício da dúvida para as empresas nesses casos, aí pagam múltiplos muitos elevados nesse começo”, disse Conde, da Levante.

O analista de ações conta que Petz tem atualmente capitalização equivalente a seis vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), quando na estreia das ações na bolsa, seu valor de mercado era 20 vezes o Ebitda.

“Mas aí essas empresas não crescem 50% ao ano, como esperado, nem abocanham a fatia de mercado projetada por analistas conforme seus competidores também se fortalecem”, contou Conde. “Acontece esse movimento ‘down to earth’ (pôr os pés no chão, em tradução livre), quando o mercado começa a ‘cair na real’ e abandona esse movimento ‘apaixonado’ sobre um setor ou uma empresa.

O grupo Vamos também tem uma classificação abaixo da média na plataforma Bridgewise, com nota 59 de 100. O sistema aponta que a companhia de locação de caminhões, máquinas e equipamentos publicou resultados financeiros “aquém das expectativas iniciais e exibiu números fracos de receita bruta e lucro líquido” no segundo trimestre contra o mesmo período de 2022.

Desde então, o papel vem passando por reajustes após ter atingido suas máximas neste ano no dia 14 de junho, quando bateu R$ 14,57 – hoje, fechou o dia negociado a R$ 7,83. Além de operar abaixo da média móvel do histórico de operação na bolsa e em baixa há um ano, a configuração atual dos indicadores, segundo a leitura da Bridgewise, é de tendência negativa para a ação no curto, médio e longo prazo.

Mas a casa de análises Simpla Club ainda defende a posição comprada no papel. “Apesar da queda, Vamos está em um segmento em que não tem nenhum rival à sua altura”, disse o analista chefe de ações Gabriel Bassotto.

O especialista da Simpla Club lembra que a frota de caminhões no Brasil é velha e precisará ser renovada, embora os veículos estejam cada vez mais caros. “A tese é de aumento da demanda por locação de caminhões, por isso Vamos está bem posicionada em um setor que cresce e tem uma demanda reprimida”, concluiu.

 — Foto: Freepik
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