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Vale comprar ação da Vale (VALE3)? Confira as recomendações pós resultados do 1º tri | Empresas


Um dos balanços mais esperados por investidores da bolsa brasileira saiu na noite de ontem (24). A Vale reportou os resultados do seu primeiro trimestre, jogando luz sobre o horizonte da companhia para este ano. Cartas na mesa, vamos à prática: é hora de comprar ou vender ações da Vale?

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Os especialistas ouvidos pelo Valor Investe se dividem atualmente em recomendações de compra ou neutra para a ação, com visões semelhantes para o negócio, mas atribuindo pesos diferentes aos fatores que afetam o horizonte para a mineradora.

Para o investidor comum, a questão aqui é aderir a uma tese, partindo da perspectiva de quais dessas forças devem predominar sobre o movimento do papel.

Era dado como certo – desde muito antes – que os resultados da Vale neste primeiro trimestre seriam menores frente os do mesmo período do ano passado. Por isso, analistas estavam atentos a de quanto seria essa queda e o que mais revelasse perspectivas para o ano da mineradora.

Para Enrico Cozzolino, sócio e chefe de análise da Levante Investimentos, um lucro até 10% menor entre janeiro e março na comparação com o mesmo período de 2023 já seria o sinal verde para comprar ações da Vale.

Seguindo essa pista deixada por Cozzolino, o lucro líquido atribuível a acionistas em dólar entre janeiro e março recuou 9% na comparação com o mesmo período de 2023. No balanço da Vale em real, no entanto, o indicador caiu 13%.

Ou seja, o balanço do primeiro trimestre da mineradora confirmou o cenário otimista do chefe de análise da Levante para o papel, mas a perda na conversão põe uma interrogação no que a esta altura já deveria ser uma afirmação: é hora de comprar Vale?

Não há respostas fáceis porque nada é “preto no branco” no mundo dos investimentos – pelo menos não para os realistas.

“Em linhas gerais, o relatório de produção [divulgado no dia 16 de abril] já havia mostrado que o aspecto de negócio na empresa vai bem. E ruídos políticos no conselho e de interferência na gestão, com o rumor da indicação do [Guido] Mantega, tornam o papel barato em relação a pares nesse curto prazo”, diz Cozzolino, inclinando-se à tese de compra.

A média das estimativas compiladas pelo Valor para o lucro líquido que seria apresentado pela organização era algo em torno de US$ 1,67 bilhão. Quase cravado: veio US$ 1,68 bilhão.

Já a média para as projeções da receita era de cerca de US$ 8,28 bilhões, que representaria queda de 1,8% na base anual. Veio US$ 8,46 bilhão, levemente melhor.

Ponto é que o mercado não nutria grandes expectativas para esses resultados do primeiro trimestre, por dois motivos: preços do minério de ferro mais baixos e, em menor medida, pelo impacto sazonal.

Projetamos lucro líquido com queda de 20% na base anual, em razão de uma dinâmica de preços mais fraca em finos e um aumento no ritmo de provisão para o acidente de Mariana”, apontou a equipe de analistas da Genial em relatório divulgado semana passada. A casa aparecia entre as mais pessimistas do mercado para o primeiro trimestre da Vale.

A deterioração do cenário para a companhia até aqui já está em grande parte refletida no preço da ação, que acumula 17,5% de queda do início do ano até o fechamento de 24 de abril.

Então quão mais a Vale pode cair? Ou daqui é só para cima?

Tem espaço para o valor da ação cair mais, tendo em vista que o ativo vinha se recuperando na última semana, desde que o relatório de produção acendeu uma esperança no mercado. Mas isso significa necessariamente que o papel vai cair? Não.

A visão do copo meio cheio para VALE3

O analista da Ouro Preto Investimentos Sidney Lima recomenda comprar ações da Vale, empregando tom mais positivo que Cozzolino – ou qualquer outro analista ouvido pela reportagem – no cenário para o papel.

Lima defende que, para o investidor que monta posições visando o longo prazo, “independentemente dos resultados desse primeiro trimestre, a Vale está sendo negociada em múltiplos sensacionais, é uma oportunidade de compra.”

A relação entre o preço da ação no último fechamento e o lucro da empresa por ação (P/L) está atualmente em 7,2 vezes, o que significa que, na teoria e com base no quadro atual, esse ativo levaria pouco mais de sete anos para pagar seu investimento inicial. Este indicador está num nível menor que os números históricos da mineradora, o que endossa o cenário de que a ação está barata.

“De forma geral, quando o P/L está abaixo de 15, numa análise fundamentalista de investimentos, isso significa que o papel da empresa está em um patamar atrativo, tendo em vista o preço que está sendo cobrado por essa ação”, diz Lima. “Então, por mais que os resultados tenham recuado, a Vale continua atrativa e melhor que boa parte das empresas do seu setor.”

A Eleven Financial tem visão construtiva para a Vale. “Vemos a companhia como forte geradora de caixa, mesmo com o minério de ferro indo ao patamar de US$ 90. [A Vale] Tem o menor custo de produção entre as gigantes globais, o que torna sua margem superior à de outras mineradoras. Isso leva a uma boa tese de investimento, porque a ação deve continuar distribuindo bons dividendos”, diz o chefe de análise da casa de research, Carlos Daltozo.

Para o chefe de mesa internacional da RJ+ Asset, Rafael Bentes, “pelo lado positivo, o minério de ferro subiu depois que a [mineradora australiana] Fortescue disse que problemas em minas no oeste da Austrália provavelmente irão impactar os embarques da commodity. Isso pode favorecer a cotação do metal no curto prazo e puxar os papeis da companhia [Vale].”

Mesmo a Genial, que fez uma série de ressalvas no seu cenário para a Vale, manteve recomendação de compra para a ação, com preço-alvo em R$ 72,30 e em US$14,50 para os ADRs nos próximos 12 meses.

A visão do copo meio vazio para VALE3

Mas algo do relatório divulgado na noite da quarta-feira não caiu bem para os investidores estrangeiros.

Na sequência da divulgação do balanço, os recibos de ações (ADR) da Vale caíram 1,78%, a US$ 12,15, nas negociações do pós-mercado da Bolsa de Nova York (Nyse).

O balanço veio ruim, com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização [Ebitda, na sigla em inglês] decepcionando. Chamou a atenção que a média nas vendas de minério de ferro foi de US$ 123 e mesmo assim houve pressões sobre os resultados devido ao aumento de provisões relacionadas à Samarco”, afirma Bentes.

O lucro por ação ficou aquém do esperado pela gestora, em US$ 0,39 contra a projeção da gestora de US$ 0,41 por papel.

O chefe de mesa internacional da RJ+ Asset lembra também que a insegurança sobre a sucessão na presidência Vale espanta principalmente gringos, o que faz pressão baixista sobre o papel.

A Empiricus Research também é cautelosa – e tem principalmente o cenário macroeconômico a culpar por isso. Henrique Cavalcante, analista da casa, explica que a posição da equipe hoje é neutra para as ações da Vale, por isso o ativo não está nas suas carteiras.

“Apesar de o carrego [taxa de retorno implícita] estar atrativo e de que parte do pessimismo já está refletida na ação, não estamos construtivos para os preços do minério de ferro este ano”, afirma Cavalcante.

No detalhe, do lado da oferta, a Empiricus enxerga que as mineradoras parecem ter espaço para elevar sua produção, enquanto os países estão bastante estocados de aço. Assim, nesta ponta, as pressões sobre o preço são baixistas.

No lado B, nenhuma notícia de alento. Cavalcante lembra que a economia chinesa está em desaceleração, e as exportações de aço estão em níveis historicamente elevados. “É um cenário que não nos traz o conforto necessário [para recomendar compra da Vale]”, diz o analista da Empiricus Research. Questões de negócio se sobrepõem ao macro, elevando a incerteza da equipe em relação ao investimento.

“Além da pressão política evidente nos últimos meses, a falta de visibilidade em relação ao montante final da indenização relacionada ao rompimento das barragens em Mariana (MG) e as novas condições para os contratos de concessão das ferrovias, que devem ser mais onerosas à companhia, reiteram nossa posição neutra”, acrescenta.

Mesmo Lima, que defende a compra do papel neste momento, reconhece que os “nós” deste cenário freiam a disparada do papel no curto prazo.

Por melhor que essa posição venha a ser para o médio e longo prazos, “o investidor ainda precisa levar em conta que a performance das ações da Vale está diretamente relacionada à economia chinesa e ao setor imobiliário de lá, que estão desacelerando e têm impacto direto na perspectiva de demanda futura para a empresa.”

Decisão — Foto: GettyImages
Decisão — Foto: GettyImages



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