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Tesouro já rende 6,15% acima da inflação no curto prazo. Vale investir? | Tesouro Direto


Normalmente, os títulos com prazo mais distantes, como Tesouro IPCA+ 2060, são aqueles que pagam uma remuneração melhor ao investidor. Isso ocorre porque apostar em um título de longo prazo é mais arriscado, visto que é muito mais difícil de prever o cenário econômico e até mesmo como estarão as contas do país até lá, que tipo de tomador de crédito ele será no futuro. Os papéis com vencimento distante também acabam sendo mais voláteis, com oscilações mais acentuadas durante o seu tempo de duração.

Mas na medida em que o mercado começa a reavaliar suas perspectivas em relação ao patamar da taxa de referência (Selic), os papéis mais curtos são os que tendem a oscilar mais. Com uma Selic maior no curto prazo, o prêmio deles têm de ser ainda mais relevantes, justamente para acompanhar esse movimento de mercado.

Nesta semana, o Boletim Focus mostra que as apostas são de Selic saíram de 9,13% uma semana atrás, para 9,50% ao fim de 2024, em mais um movimento de ajuste para cima. Os economistas ouvidos pelo Banco Central também vêem os juros mais altos em 2025, por volta de 9%. Antes havia expectativa que caíssem até 8,50%.

Em geral, os títulos longos são mais afetados pelo risco fiscal e os curtos, por mudanças como inflação e Selic maiores.

Desde que o Governo anunciou alteração em sua meta fiscal, trocando um superávit por um déficit zero para 2025, os retornos dos títulos começaram a subir. Para o mercado, o governo deu a entender que a responsabilidade com as contas públicas era menos sólida do que deveria. A gestão federal entrou na categoria de “gastador”.

Essa percepção faz com que os investidores percam a confiança no Brasil e, por consequência, no Tesouro, por verem um risco de calote maior vindo deste suposto “mal pagador”. Para completar o cenário, está cada vez mais claro que os cortes de juros nos EUA poderão demorar muito mais tempo para começar, o que também afeta os juros locais, que precisam disputar o investidor tendo uma nota de confiança mais baixa que os papéis americanos. Inclusive, o movimento de alta visto hoje acompanha a onda dos títulos dos EUA (os Treasuries), que também sobem.

Então, para alcançar mais investidores e conter o fluxo de saques, o Tesouro precisa oferecer taxas mais atrativas. Diante desse cenário, toda a curva de juros foi afetada. Ou seja, de curtos a longos, todos os títulos passaram a oferecer uma rentabilidade maior.

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Embora o Tesouro IPCA+ 2029 seja considerado curto em relação aos demais, ele ainda pode ser visto pelos investidores como longo demais para deixar os recursos presos por tanto tempo em um cenário de incertezas fiscais e ambiente global com inflação persistente.

Preços e taxas em 23.04

Título Rentabilidade anual Investimento mínimo Preço Unitário Vencimento
TESOURO PREFIXADO 2027 10,89% R$ 30,31 R$ 757,83 01/01/2027
TESOURO PREFIXADO 2031 11,61% R$ 33,71 R$ 481,65 01/01/2031
TESOURO PREFIXADOcom juros semestrais 2035 11,57% R$ 37,68 R$ 942,15 01/01/2035
TESOURO SELIC 2027 SELIC + 0,1024% R$ 147,07 R$ 14.707,66 01/03/2027
TESOURO SELIC 2029 SELIC + 0,1462% R$ 146,46 R$ 14.646,83 01/03/2029
TESOURO IPCA+ 2029 IPCA + 6,15% R$ 31,55 R$ 3.155,51 15/05/2029
TESOURO IPCA+ 2035 IPCA + 6,05% R$ 44,65 R$ 2.232,91 15/05/2035
TESOURO IPCA+ 2045 IPCA + 6,06% R$ 37,27 R$ 1.242,58 15/05/2045
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2035 IPCA + 6,07% R$ 43,58 R$ 4.358,17 15/05/2035
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2040 IPCA + 6,07% R$ 42,89 R$ 4.289,65 15/08/2040
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2055 IPCA + 6,07% R$ 43,49 R$ 4.349,40 15/05/2055
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2030 IPCA + 6,07% R$ 35,95 R$ 1.797,61 15/12/2049
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2035 IPCA + 6,06% R$ 40,30 R$ 1.343,60 15/12/2054
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2040 IPCA + 6,07% R$ 30,02 R$ 1.000,69 15/12/2059
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2045 IPCA + 6,08% R$ 37,23 R$ 744,72 15/12/2064
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2050 IPCA + 6,09% R$ 33,21 R$ 553,64 15/12/2069
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2055 IPCA + 6,11% R$ 32,77 R$ 409,70 15/12/2074
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2060 IPCA + 6,12% R$ 30,38 R$ 303,84 15/12/2079
TESOURO RENDA+aposentadoria extra 2065 IPCA + 6,12% R$ 31,66 R$ 226,18 15/12/2084
TESOURO EDUCA+ 2026 IPCA + 6,14% R$ 33,35 R$ 3.335,06 15/12/2030
TESOURO EDUCA+ 2027 IPCA + 6,12% R$ 31,46 R$ 3.146,61 15/12/2031
TESOURO EDUCA+ 2028 IPCA + 6,11% R$ 59,35 R$ 2.967,83 15/12/2032
TESOURO EDUCA+ 2029 IPCA + 6,09% R$ 56,03 R$ 2.801,63 15/12/2033
TESOURO EDUCA+ 2030 IPCA + 6,08% R$ 52,86 R$ 2.643,34 15/12/2034
TESOURO EDUCA+ 2031 IPCA + 6,07% R$ 49,89 R$ 2.494,58 15/12/2035
TESOURO EDUCA+ 2032 IPCA + 6,07% R$ 47,05 R$ 2.352,56 15/12/2036
TESOURO EDUCA+ 2033 IPCA + 6,06% R$ 44,42 R$ 2.221,04 15/12/2037
TESOURO EDUCA+ 2034 IPCA + 6,06% R$ 41,90 R$ 2.095,20 15/12/2038
TESOURO EDUCA+ 2035 IPCA + 6,06% R$ 39,52 R$ 1.976,45 15/12/2039
TESOURO EDUCA+ 2036 IPCA + 6,06% R$ 37,28 R$ 1.864,08 15/12/2040
TESOURO EDUCA+ 2037 IPCA + 6,06% R$ 35,16 R$ 1.758,04 15/12/2041
TESOURO EDUCA+ 2038 IPCA + 6,06% R$ 33,16 R$ 1.658,06 15/12/2042
TESOURO EDUCA+ 2039 IPCA + 6,06% R$ 31,27 R$ 1.563,65 15/12/2043
TESOURO EDUCA+ 2040 IPCA + 6,06% R$ 44,24 R$ 1.474,71 15/12/2044
TESOURO EDUCA+ 2041 IPCA + 6,06% R$ 41,72 R$ 1.390,91 15/12/2045
TESOURO EDUCA+ 2042 IPCA + 6,06% R$ 39,35 R$ 1.311,96 15/12/2046

Para Marcelo D’Agosto, consultor financeiro, comentarista da CBN e blogueiro do Valor Investe, para quem consegue segurar o título até o vencimento, esta é uma grande chance de garantir bons retornos acima da inflação.

Ele explica que, apesar do mau humor do mercado, o risco de calote é muito irreal. Segundo o especialista, essa movimentação dos títulos acontece mais pela oferta e demanda do mercado institucional (grandes investidores e gestores) do que por um temor de que haveria um calote na dívida pública.

“É uma oportunidade sim. Esses 6% ao ano são difíceis de conseguir. A gente estava caminhando para um juro real abaixo de 5% ao ano, então voltou para um patamar alto”, explica.

Segundo D’Agosto, não é que as pessoas estejam achando que o governo vai dar calote. O que ocorre é que os investidores não querem investir a longo prazo porque estão preocupados com a situação econômica geral, por isso não querem prender o dinheiro por tanto tempo. Desta forma, a demanda por títulos de longo prazo diminui, o preço cai e a taxa sobe.

“O Brasil já viveu situações fiscais muito piores e o calote nunca foi uma realidade. E se houver calote, vai ser ruim para todo mundo, não só para quem investiu no Tesouro. Não tem como escapar”, completa.

Luciana Ikedo, assessora de investimentos e autora do livro “Vida Financeira – Descomplicando, economizando e investindo” vai na mesma linha.

Penso que para os recursos de longo prazo, penso sim que um momento de estresse como esse é um bom momento para aproveitar. Quando pensamos em planejamento financeiro a longo prazo, como independência financeira ou aposentadoria, é crucial buscar investimentos que ofereçam crescimento acima da inflação. Um retorno de 6% acima da inflação é considerado robusto”, afirma.

Ela diz ainda que é preciso considerar que o risco de crédito do Tesouro é o risco soberano, ou seja, é muito menor do que o risco de um título de renda fixa de emissão privada, como CRA, CRI, debêntures, LCI, LCA e até mesmo o queridinho CDB.

“Mas o investidor deve entrar sabendo que esses títulos têm marcação à mercado, assim, se houver a necessidade de resgate antecipado, ou seja, antes da data de vencimento, o título será marcado à mercado e isso pode significar que a saída será com perdas ou ganhos”, completa.

Caio Camargo, estrategista de Investimentos do Santander Brasil, engrossa o coro ao afirmar que neste momento a chamada marcação a mercado é uma aliada do investidor, gerando oportunidades de entrada. “Sem dúvida, este movimento abre espaço para alocação, principalmente em títulos prefixados, desde que o investidor tenha perfil para tomar risco”, afirma.

A dinâmica inversamente proporcional entre juros de mercado e preço de títulos é a chamada “marcação a mercado”, modelo que mensura a aplicação pelo valor que o investidor teria se fosse resgatá-la naquele dia. Ela pode ficar positiva ou negativa para o investidor, a depender do cenário econômico e das taxas em que ele investiu.

Santander entende que o BC deve cortar a taxa básica de juros até 9% no fim de 2024, e mais um ponto percentual em 2025. Considerando esse cenário, as taxas dos títulos prefixados, hoje ao redor de 10%, estão elevadas e os prêmios podem ficar ainda um pouco melhores, segundo o estrategista.

“Pode ser que a marcação de curto prazo sofra um pouco, mas pensando no longo prazo, é um investimento atrativo que pode fazer sentido para todos os investidores, com percentual de alocação na carteira adequado ao seu perfil”.

Em relação ao Tesouro IPCA, Camargo aponta que taxas próximas de 6% acima do índice são boas oportunidades de investimento, e também uma forma de proteção na carteira. “Se o mercado se estressar demais e tivermos uma inflação mais alta do que o esperado, esse título protege o investidor do possível repique nos preços. O momento está um pouco complicado, mas é na adequação ao seu perfil e na diversificação que o investidor vai encontrar proteção e rentabilidade”, afirma.

As negociações dos títulos ainda podem sofrer fortes oscilações, frente a um cenário de tantas incertezas. Mas se o mau humor do mercado se sustentar, apontando para uma economia mais frágil, uma Selic potencialmente maior que a esperada e mais azedume vindo do exterior, o Tesouro deve manter este patamar de retornos (ou até aumentar marginalmente) nos próximos dias.

Coração — Foto: Getty Images
Coração — Foto: Getty Images



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