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Dá para ganhar mais do que a Selic no Tesouro Direto? | Tesouro Direto


Com tantas mudanças na expectativa para a inflação e nas projeções para a Selic no horizonte, conforme vem acontecendo semanalmente no Boletim Focus, do Banco Central (BC), é cada vez mais palpável que o investidor lucre mais do que a taxa básica de juros no Tesouro Direto. Pelo menos na teoria.

Mas antes de pensar em ganhar mais dinheiro, o recomendado é que o investidor use os papéis do Tesouro para garantir as necessidades mais básicas, tais como reunir a reserva de emergência (no Tesouro Selic); proteger a carteira da inflação (com o Tesouro IPCA); e aproveitar a previsibilidade de saber exatamente o quanto vai receber no resgate (o que permite o Tesouro Prefixado).

Só depois, então, é possível tentar aproveitar o cenário atual de queda mais lenta dos juros e expectativa de alta da inflação e se perguntar onde é melhor investir para lucrar mais que a taxa básica, selecionando os títulos do Tesouro Direto?

Uma primeira possibilidade para ganhar mais do que a Selic é investir no Tesouro Prefixado. Atualmente, todos os papéis prefixados têm rendimento acima dos 11% ao ano e superam a taxa básica, agora em 10,5% ao ano. Mas, para que a estratégia dê certo, é preciso imaginar um cenário em que a Selic não suba mais.

A boa notícia é que, de acordo com o último Focus, a taxa básica de juros deve ir para um dígito até 2026. É bem verdade que a mediana das expectativas saiu de 9,75% para 10% no fim de 2024, mas as previsões para 2025 e 2026 são de juros em 9%.

Outra possibilidade é pensar que a inflação vai subir e escolher o Tesouro IPCA, que atualmente paga a inflação do período mais uma taxa de juros na casa dos 6% ao ano.

Mas como saber se o lucro no Tesouro IPCA vai ser maior do que o Tesouro Prefixado? Aí vai ser preciso fazer uma continha.

Vamos dar um exemplo. Os Tesouros Prefixados com vencimentos em 2027 e 2031 pagam uma média de 11,72% de juros ao ano, considerando que o primeiro está pagando 11,13% e o segundo 11,89% ao ano — valores registrados na sessão desta terça-feira (28).

Para que o Tesouro IPCA+ 2029 também pague 11,72% de retorno total, a taxa oferecida atualmente, de pouco mais de 6% ao ano, teria que se somar a uma inflação de 5,3% até lá. A questão é que isso ainda não está no radar, já que esse valor é muito maior do que a inflação projetada pelo mercado, de 3,5%. E aí está o “pulo do gato”.

Nesse caso, para ganhar mais do que a Selic, é preciso correr algum tipo de risco. No Tesouro IPCA o investidor tem a garantia que o investimento está protegido da inflação, mas não há promessa de que vai ganhar mais do que o Prefixado, o que pode acontecer se a Selic subir e o rendimento do prefixado ficar abaixo da taxa atual. Esses riscos devem ser incorporados nas análises.

Resumindo: se a inflação seguir a aposta do mercado e ficar na casa dos 3,5%, com o Tesouro IPCA pagando cerca de 6% ao ano, é mais rentável ficar no Tesouro Prefixado. Mas, se inflação subir mais que o esperado, vai ser mais lucrativo para o investidor escolher o Tesouro IPCA. Isso desde que a taxa Selic não se altere.

Conforme vão mudando a expectativa da inflação e as projeções para a taxa de juros, as taxas dos títulos prefixados e atrelados ao IPCA vão mudando. Se o momento é de incerteza, é natural que os juros dos Prefixados subam, porque as pessoas imaginam que o BC vai voltar a aumentar a taxa básica.

“No final das contas, o que é mais rentável depende de quanto vai ficar a inflação, mas é natural que essa inflação esperada pelo mercado opere com prêmio de risco (um valor a mais para justificar o investimento apesar dos pesares) porque aumenta a proteção se der tudo errado. O que o investidor precisa ter em mente é que é mais comum um choque que leve a inflação para cima, do que para baixo“, destaca o estrategista chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein.

Apesar da comparação entre os papéis, cada um serve a um objetivo específico e ambos vivem um momento considerado atrativo para quem deseja comprar títulos públicos.

O recomendado é que o investidor seja mais estratégico na hora de inserir mais prefixados na carteira, sempre de olho na trajetória da taxa Selic, e veja os IPCAs como uma forma de proteger a carteira da inflação — sem desconsiderar o patamar de 6% de retorno real, nada mal para um investimento da renda fixa.

Um jeito inteligente de estar taticamente no Tesouro Direto atualmente é apostando no prefixado de curto prazo, porque ainda há um espaço para valorização, e nos indexados à inflação de médio prazo, que têm gerado retorno atrativo nos últimos dois anos“, diz Getúlio Ost, superintendente de renda fixa. Para ele, com os papéis do Tesouro IPCA pagando taxas semelhantes, independentemente do prazos, o investidor não ganha muito mais apostando em resgates acima de 2035.

As taxas e preços dos títulos são inversamente proporcionais. O que significa dizer que, tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço e vice e versa. Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem possui os títulos na carteira.

Rendimento — Foto: Getty Images
Rendimento — Foto: Getty Images



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