Sinal amarelo: juros falam mais alto e impedem avanço do Ibovespa | Bolsas e índices

Deixar os juros altos é como tirar o óleo da engrenagem. Não roda, não desliza. Nesta segunda-feira, 20, o Boletim Focus do Banco Central, que reúne a percepção de economistas, foi de um ambiente mais favorável a uma inflação, taxa básica de juros, Selic, e dólar mais altos. O Produto Interno Bruto (PIB), por outro lado, deve crescer menos, de acordo com as estimativas revistas.

Diante dessa piora de visão, os juros subiram na curva e desencorajaram investimentos na bolsa brasileira. Muito embora lá fora as notícias não sejam das piores, a bolsa brasileira não conseguiu sustentar uma alta. Não foi suficiente o ânimo com os estímulos dados ao mercado imobiliário chinês, que potencialmente aumentam a demanda por produtos brasileiros. Também contou pouco a expectativa de que haja mais de um corte nas taxas de juros dos Estados Unidos. Na queda de braço, as forças negativas venceram.

• Durante o dia, o Ibovespa até chegou a operar no positivo. Mas ao fim, encerrou com queda de 0,31%, aos 127.751 pontos. No mês, ainda segue no positivo com alta de 1,48%, mas derrapa 4,77% desde o início de 2024.

Nesta semana, o noticiário do exterior pode mudar de rumos. O mercado aguarda com ansiedade pela ata da última reunião monetária do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve), que será divulgada na tarde de quarta-feira, 22. O documento poderá dar pistas (boas ou ruins) sobre quando ocorrerão quedas das taxas e o mais importante: quantos cortes pode haver este ano. É nele que a autoridade monetária justifica sua decisão de manutenção de juros e aponta as maiores preocupações.

Nos últimos documentos, o mercado de trabalho ainda aquecido foi um dos tópicos de atenção, como um inimigo do processo de desaceleração da inflação. De lá para cá, contudo, o índice de preços CPI veio abaixo das expectativas. Para os mais otimistas, este pode ser um sinal de que a ata venha um pouco menos dura e aponte caminhos mais favoráveis para a redução das taxas ainda este ano.

“No Brasil, os juros futuros operam em alta, refletindo uma piora nas projeções da Selic e da inflação no Boletim Focus. Com a alta na expectativa do IPCA em 2024 e 2025, por consequência vemos a expectativa também elevada para a Selic até 2027 em 9% ao ano, dada a então necessidade de uma política monetária restritiva por mais tempo no Brasil, com deterioração na trajetória inflacionária. Vemos, nesse cenário, uma projeção de inflação implícita beirando os 6% ao ano a partir de 2027, o dobro da meta de inflação do BC”, avalia Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.

• Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. As taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, depois de subir, acabaram encerrando o dia estáveis a 10,37%.
• Já para janeiro de 2034, ficaram saíram de 11,76% para 11,78%, indicando mais desconfiança na capacidade de o governo se manter com as contas fiscais em dia. Essas taxas costumam medir o tal do “risco fiscal”.

O dólar seguiu a bolsa e oscilou todo o dia, com ganhos e perdas marginais ao longo da sessão. Mas ao fim, alcançou alta de 0,05%, negociado a R$ 5,10. No mês, acumula queda de 1,69%, mas no ano, a valorização segue em 5,20%.

Nesta segunda-feira esvaziada de dados e indicadores econômicos no Brasil e no exterior, poucos mexeram em suas posições na bolsa. O volume de negociações foi baixo, de apenas R$ 15,8 bilhões, ante os R$ 17,5 bilhões da média dos últimos 12 meses.

No noticiário corporativo, o grande destaque do dia foi a Braskem (BRKM5), que viu as ações subirem com força após ganho de causa bilionária pela Justiça de São Paulo para pagamento de indenização de R$ 5,5 bilhões pela Novonor, antiga Odebrecht.

Em mais um exemplo da volatilidade do índice nesta segunda-feira, das 86 ações que compõem a carteira, 43 ficaram no azul e 43 no vermelho. Meio a meio.

Mesmo com a alta do minério de ferro, os papéis da Vale (VALE3) que costumam ter potencial para elevar o Ibovespa, por constituírem cerca de 13% do índice, também não empolgaram, fechando levemente no negativo, após altas seguidas na semana anterior.

Na Petrobras, empresa que também concentrou a maior parte das negociações no dia, a fotografia foi de estabilidade, com alta marginal após perdas de 12% na semana anterior, fruto de mais uma troca de comando movitivada por interesses políticos.

Com a queda do petróleo, as empresas petroleiras menores acabaram passando por um dia de queda. Na semana passada, esses papéis se destacaram positivamente como alternativa para aqueles que querem se afastar do risco de interferência política na Petrobras. A 3R (RRRP3) que subiu com anúncio de incorporação da Enauta nos últimos pregões, figurou entre as maiores quedas do dia, assim como a PRIO (PRIO3) com queda de mais de 1%.

“Outra queda fica com a IRBR3, papel que vem sofrendo bastante com a especulação e atualização das estimativas quanto aos prejuízos e impactos das enchentes no Rio Grande do Sul. Na capacidade de seguradora, a empresa afirma que ainda não é possível estimar o impacto financeiro, tendo em vista que os impactos climáticos ainda estão em andamento, e com os frequentes aumentos das projeções o ativo sofre na sua negociação em bolsa”, avalia Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.