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Saldo final de Jackson Hole: juro alto a perder de vista no mundo todo | Investimento no Exterior


Ponto alto do debate global sobre política monetária, o simpósio do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) de Jackson Hole, no Wyoming (EUA), terminou neste sábado (26) com a promessa dos principais bancos centrais de aumento dos juros caso seja necessário para trazer a inflação para as metas e a sinalização de que o mundo conviverá com taxas elevadas por um período mais longo do que o imaginado.

O simpósio foi encerrado logo após a divulgação de um estudo acadêmico dos economistas Serkan Arslanalp (FMI) e Barry Eichengreen (Universidade da Califórnia em Berkeley) com um prognóstico pessimista sobre a trajetória do endividamento público pelos governos e suas consequência para a economia internacional.

Os economistas sustentam que o endividamento elevado governamental “veio para ficar”, continuará pressionando as taxas de juros e terá impacto relevante, principalmente, para países em desenvolvimento, que poderão precisar recorrer à reestruturação de suas dívidas.

“Os EUA e outros países desenvolvidos deverão considerar que o endividamento elevado é algo “administrável”, graças à percepção de que sua dívida é um “ativo seguro”. Mas os mercados emergentes e especialmente os países em desenvolvimento enfrentarão mais dificuldades, sendo a reestruturação da dívida provavelmente necessária em muitos casos”, escreveram.

“Este é um artigo totalmente deprimente – você destruiu sistematicamente toda a esperança” de redução do déficit, disse a presidente do Comitê para Orçamento Federal Responsável, Maya MacGuineas, depois que Eichengreen apresentou o trabalho. “Terei de passar o fim de semana assistindo a comédias para superar este artigo”, disse Nela Richardson, economista-chefe do ADP Research Institute.

O cenário traçado em Jackson Hole confere às autoridades dos bancos centrais margem de manobra para ajustar rapidamente a política monetária nos próximos meses dependendo dos indicadores de preço e de atividade econômica que surgirem.

Na manhã do sábado, o vice-presidente do Banco da Inglaterra, Ben Broadbent, admitiu que o banco central britânico terá de manter as taxas de juros altas por mais tempo do que o esperado porque é improvável que a inflação diminua tão rapidamente quanto surgiu, apesar das fortes quedas nos preços do gás e dos produtos no atacado. “É improvável que estes efeitos secundários se desfaçam tão rapidamente. Como tal, a política monetária poderá ter de permanecer em território restritivo ainda por algum tempo”, disse.

O presidente do Fed, Jerome Powell, já tinha feito uma análise na sexta bastante cuidadosa do quadro atual, afirmando que a banco central americano está preparado para aumentar os juros para segurar a inflação, ao mesmo tempo que sinalizou que poderá manter as taxas estáveis na próxima reunião de setembro, como esperam os investidores.

Por outro lado, Powell minimizou a discussão de que o chamado juro neutro dos EUA, aquele que nem estimula nem esfria a economia, teria subido do patamar de 2,5% para 3,0% e 3,5%, como sugerem alguns economistas e que chegou a estressar os mercados no início da semana. Powell disse que é difícil saber se isso de fato está acontecendo.

A mensagem de Powell teve diferentes interpretações, provocando euforia e pessimismo nos mercados, mas, no geral, se manteve consistente com os apontamentos recentes feitos ao longo do ano. O Fed vai buscar restaurar a estabilidade de preços, podendo recorrer a um aperto maior para levar o país de volta à inflação de 2%, se necessário.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, foi na mesma linha e reiterou esse compromisso para a zona euro, dizendo que “é extremamente importante que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas em 2%”.

Uma das poucas vozes dissonantes, o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, disse que o aumento de preços no país continua mais lento do que a meta do banco central, o que permite uma política monetária menos restritiva. “É por isso que estamos aderindo ao nosso atual quadro de flexibilização monetária.”

Mesmo assim, o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, disse que o Fed provavelmente precisará aumentar as taxas de juro pelo menos mais uma vez e que os formuladores de política monetária não estão dando atenção suficiente para o efeito dos déficits fiscais dos EUA.

porcentagem vermelho juros — Foto: Getty Images



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