Câmbio

Rendimento de 6% acima da inflação! Corre para o Tesouro ou foge dele? | Tesouro Direto


E o mercado não gostou nada disso, porque entendeu que a responsabilidade com as contas públicas era menos sólida do que deveria. O governo passou a imagem de gastador. Essa percepção faz com que os investidores percam a confiança no Brasil e, por consequência, no Tesouro, por verem um risco de calote maior vindo deste suposto “mal pagador”.

Por isso, para alcançar mais investidores num momento em que há forte fluxo de saques, o Tesouro precisa oferecer taxas mais atrativas. Para completar o cenário, na terça-feira (16), o presidente do Banco Central dos EUA (Federal Reserve), Jerome Powell disse ontem que a autoridade monetária poderá rever os cortes previstos para este ano. Diante dos dados de inflação acima da expectativa, o sonho do afrouxo monetário pode ficar ainda mais longe de acontecer.

Mais uma vez, o mercado opera contra o Tesouro. Com juros altos nos EUA, os investidores dão preferência a fazer aportes na economia mais estável do mundo, em vez de se arriscar em mercados emergentes e imprevisíveis como o Brasil.

Essa onda de pessimismo levou as taxas do Tesouro IPCA (que é aquele pós-fixado que paga acima da inflação) a chegar a 6,10% mais inflação para os títulos mais longos, com vencimento só em 2060.

Quanto mais longo, mais volátil e mais difícil de prever, por isso, o prêmio é maior para os que investem com o horizonte mais distante. Mas mesmo os títulos mais “curtos”, com vencimento para 2030 , ofereciam rendimentos de 6,04% acima da inflação.

Mas afinal, esta é uma oportunidade para garantir bons ganhos ou seria um tiro no pé?

Para Marcelo D’Agosto, consultor financeiro, comentarista da CBN e blogueiro do Valor Investe, para quem consegue segurar o título até o vencimento, esta é uma grande chance de garantir bons retornos acima da inflação.

Ele explica que, apesar do mau humor do mercado, o risco de calote é muito irreal. Segundo o especialista, essa movimentação dos títulos acontece mais pela oferta e demanda do mercado institucional (grandes investidores e gestores) do que por um temor de que haveria um calote na dívida pública.

“É uma oportunidade sim. Esses 6% ao ano são difíceis de conseguir. A gente estava caminhando para um juro real abaixo de 5% ao ano, então voltou para um patamar alto”, explica.

Segundo D’Agosto, não é que as pessoas estejam achando que o governo vai dar calote. O que ocorre é que os investidores não querem investir a longo prazo porque estão preocupados com a situação econômica geral, por isso não querem prender o dinheiro por tanto tempo. Desta forma, a demanda por títulos de longo prazo diminui, o preço cai e a taxa sobe.

“O Brasil já viveu situações fiscais muito piores e o calote nunca foi uma realidade. E se houver calote, vai ser ruim para todo mundo, não só para quem investiu no Tesouro. Não tem como escapar”, completa.

Luciana Ikedo, assessora de investimentos e autora do livro “Vida Financeira – Descomplicando, economizando e investindo” vai na mesma linha.

Penso que para os recursos de longo prazo, penso sim que um momento de estresse como esse é um bom momento para aproveitar. Quando pensamos em planejamento financeiro a longo prazo, como independência financeira ou aposentadoria, é crucial buscar investimentos que ofereçam crescimento acima da inflação. Um retorno de 6% acima da inflação é considerado robusto”, afirma.

Ela diz ainda que é preciso considerar que o risco de crédito do Tesouro é o risco soberano, ou seja, é muito menor do que o risco de um título de renda fixa de emissão privada, como CRA, CRI, debêntures, LCI, LCA e até mesmo o queridinho CDB.

“Mas o investidor deve entrar sabendo que esses títulos têm marcação à mercado, assim, se houver a necessidade de resgate antecipado, ou seja, antes da data de vencimento, o título será marcado à mercado e isso pode significar que a saída será com perdas ou ganhos”, completa.

As negociações dos títulos acabaram de começar e podem sofrer fortes oscilações. Se todo mundo estiver pensando da mesma forma, que este é um momento oportuno para investir nesses papéis, o juro real oferecido tende a cair ao longo do dia.

Mas se o mau humor do mercado se sustentar, apontando para uma economia mais frágil, uma Selic potencialmente maior que a esperada e mais azedume vindo do exterior, o Tesouro deve manter este patamar de retornos (ou até aumentar marginalmente) até o fim da sessão.

ibovespa escalada — Foto: Getty Images
ibovespa escalada — Foto: Getty Images



Valorinveste

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo