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Redes de franquias faturam até R$ 14 milhões por ano recorrendo de multas de trânsito | Franquias


Tomou uma multa de trânsito e não sabe como recorrer? Há alguns caminhos que podem ajudar o motorista a questionar a advertência e, em alguns casos, até revertê-la. O recurso é tão procurado que gerou negócios especializados e mais sofisticados do que os despachantes comuns nos últimos anos. Redes de franquia estruturadas, que coletam multas em diversas cidades do país tem faturado até R$ 14 milhões por ano.

De acordo com duas marcas que atuam no setor, a paranaense Help Multas e a mineira Só Multas, a demanda cresceu substancialmente nos últimos anos, impulsionada pela demanda de motoristas de aplicativo, que estão mais expostos a radares de fiscalização e precisam da carteira de habilitação em dia para trabalhar. Nas duas, cerca de 35% dos serviços são executados para motoristas profissionais, muitos dos quais prestam serviços via plataformas de transporte.

Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o país tem mais de 2,1 milhões de pessoas atuando como motoristas e entregadores em aplicativos.

“A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é o diploma universitário de muitas pessoas, porque elas só conseguem trabalhar com o documento em dia”, diz Roberson Alvarenga, sócio-fundador da Help Multas. Apenas em São Paulo, a prefeitura arrecadou R$ 4,7 milhões por dia em multas de trânsito entre janeiro e junho de 2023.

As duas redes de franquia têm planos similares de crescimento: ambas têm cerca de 50 unidades em funcionamento e já planejam dobrar essa quantidade nos próximos anos, de olho na expansão da demanda. Até mesmo os desafios são parecidos, sendo o principal deles como lidar com as diferentes burocracias, já que cada prefeituras tem seus próprios trâmites para tratar de multas.

Ex-servidores públicos projetam faturar R$ 15 milhões recorrendo de multas

A Help Multas foi criada em 2015 pelo casal de ex-servidores públicos Roberson, 34 anos, e Jucelaine Alvarenga, 35, com um investimento de R$ 20 mil, em União da Vitória (PR). O negócio faturou R$ 10 milhões em 2022 e tem previsão de fechar este ano com R$ 15 milhões. Para 2024, estão previstas 100 unidades em funcionamento.

Jucelaine e Roberson Alvarenga, sócios da Help Multas — Foto: Divulgação
Jucelaine e Roberson Alvarenga, sócios da Help Multas — Foto: Divulgação

O insight do negócio surgiu quando Roberson estava ainda na faculdade de direito, e algumas pessoas já o procuravam para buscar ajuda com o recurso. “Eu comecei a entender um pouco da área, mas não via como um negócio e sim como um favor”, conta.

Em 2015, já formado, ele foi procurado novamente por um amigo de seu pai. “Ele era mecânico e tinha caído em uma blitz. Isso ia impactá-lo de forma significativa”, conta. Foi nessa ocasião que Roberson entendeu que essa habilidade poderia se tornar um negócio.

O empreendedor já estava cansado da profissão que exercia havia mais de dez anos, mas não se sentia completamente seguro para largar tudo e se dedicar à empresa. Assim, tentava tocar as duas ocupações de forma simultânea.

Quando pensou na possibilidade de crescer para fora dos limites do município, viu que seria difícil equilibrar os dois pratos. “O sonho não poderia ser pequeno, tinha que ser grande. Em 2017 fomos para a feira da ABF (Associação Brasileira de Franchising) para conhecer outros negócios de franquia e ver como funcionava”, conta Jucelaine.

Jucelaine se debruçou sobre as competências empresariais da Help Multas e Roberson ficou com a parte comercial e técnica. “Abrimos outra unidade para testar o modelo à distância, entendemos como replicar o negócio e fizemos análise de mercado. Começamos com amigos e networking, e assim abrimos cinco franquias no primeiro ano”, explica Jucelaine.

Hoje, são 40 unidades em operação e 55 vendidas. Há 39 pessoas na franqueadora dedicadas apenas para recorrer das infrações. “Temos um time de especialistas para fazer a melhor defesa técnica. Nós mesmos enviamos para o órgão de trânsito”, explica Roberson. Segundo ele, a taxa de sucesso é de 60%, quando o cliente está disposto a acompanhar todo o processo, que pode chegar a três instâncias, dependendo da multa. O empreendedor conta que o maior motivador do cliente para procurar seus serviços é o medo de ter a CNH suspensa.

O investimento inicial para se tornar um franqueado é a partir de R$ 95 mil, e o valor já inclui taxa de franquia e montagem do escritório. O prazo estimado de retorno é em até seis meses. Cerca de 70% do valor dos serviços fica com o franqueado. Além disso, há uma taxa de royalties fixa em R$ 1,5 mil por mês.

De despachante a dono de franquia

O empreendedor mineiro Junior Seixas, 32 anos, ajudava o pai que trabalhou como despachante por mais de 40 anos. Com o tempo, Seixas foi assumindo o negócio, mas não tinha certeza se queria trabalhar no ramo. Já o advogado Clayton Vitor, 35 anos, atuava em um escritório em Belo Horizonte (MG), que tratava de multas de trânsito — mas ele não concordava com os meios utilizados para os recursos.

Clayton Vitor e Junior Seixas, fundadores da Só Multas — Foto: Divulgação
Clayton Vitor e Junior Seixas, fundadores da Só Multas — Foto: Divulgação

“Surgiu a oportunidade de abrir esse negócio com o Junior e fazer da forma ideal, em 2014. Começamos nesse pequeno escritório do pai dele, com a base de clientes deles, e foi crescendo no boca a boca”, diz Vitor. Com o tempo, eles resolveram deixar claro que o negócio teria um foco definido e resolveram chamá-lo de Só Multas, bem literal.

Depois de um ano e meio, em 2016, os dois começaram a receber propostas de franquias. Assim, resolveram investir em uma primeira unidade teste em Itapira (MG), como um MVP (produto mínimo viável), e formataram o negócio para se tornarem uma empresa franqueadora. A rede começou a se expandir em 2017.

Assim como na Help Multas, os empreendedores perceberam que o desafio maior seria acompanhar as burocracias locais de cada cidade para recorrer das multas – por mais que a lei de trânsito seja a mesma em todo o território nacional. Dessa forma, montaram uma equipe técnica de 35 pessoas. “Passamos todas as informações para o franqueado no treinamento, mas quem presta o serviço é a franqueadora”, diz Vitor. A rede fica com 30% do valor das vendas.

De acordo com o empreendedor, a taxa de sucesso é de 85%, mas isso não quer dizer que a pessoa tenha ganhado o recurso e que a multa tenha sido cancelada: é possível que a CNH tenha sido preservada, mesmo com a multa aplicada. “Pode ser que consigamos a redução da pontuação e a pessoa não perca o direito de dirigir”, explica.

Na Só Multas, o serviço mais procurado é o recurso para multas aplicadas em decorrência da Lei Seca, que, de acordo com Vitor, tem “maior complexidade, mas maior taxa de sucesso”. A rede tem 50 unidades e pretende chegar a 100 até o fim de 2025. O negócio faturou R$ 14 milhões no ano passado e tem a perspectiva de chegar a R$ 16 milhões neste ano.

São três modelos de franquia, que vão do home office, com investimento a partir de R$ 19,9 mil à megaloja, que demanda um aporte inicial de R$ 140 mil. Em todos os formatos não há cobrança de royalties, mas uma licença mensal de R$ 99 por usuário para a utilização do sistema interno da empresa.



PEGN

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