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Qual é o impacto da guerra entre Israel e o Hamas para o mercado? | Investimento no Exterior


O ataque da facção extremista Hamas a Israel no último sábado (7) provocou a reação do Estado israelense que levou a região à guerra. Embora imersos em conflitos há décadas, este tende a ser um dos embates mais trágicos para os territórios do Oriente Médio, com mais de 1,3 mil mortos, entre civis e militares, em menos de dois dias.

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Entenda a guerra entre Israel e o Hamas

Além do agravamento das tensões geopolíticas globalmente e da tragédia humanitária, o conflito deve ter um impacto relevante nos mercados, especialmente em países desenvolvidos. Estados Unidos e Europa, com questões ainda não respondidas sobre o fim do seu ciclo de apertos em juros, devem sentir mais diretamente os efeitos de um possível rali nas commodities energéticas, além de seu provável envolvimento no conflito.

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O conflito deflagrado entre Israel e o grupo palestino Hamas no fim de semana surge em um momento complicado para os mercados globais e poderá facilmente aumentar ainda mais a volatilidade na avaliação do Capital Economics.

Nesse cenário, a Capital faz, em relatório, três considerações sobre as possíveis consequências do evento para o mercado.

Primeiramente, o Capital destaca que, em geral, os mercados financeiros têm-se revelado bastante resistentes aos choques geopolíticos nos últimos anos. “Os mercados de ativos e a moeda de Israel têm, sem surpresa, estado sob pressão significativa. Mas o impacto nos maiores mercados da Europa e dos Estados Unidos tem sido, até agora, mais limitado”, diz Jonas Goltermann, economista de mercados do Capital Economics.

O economista cita como exemplo e referência os movimentos registrados no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, no ano passado. O movimento do mercado na segunda-feira está sendo “mais perceptível do que outros conflitos recentes entre Israel e os seus vizinhos, mas também consideravelmente menor do que as consequências de fevereiro passado, no período que antecedeu e iniciou a invasão da Ucrânia pela Rússia”, completa.

Em segundo lugar, o Capital lembra que o canal mais provável através do qual uma guerra no Oriente Média teria um impacto na economia global seria os preços da energia. Contudo, mesmo subindo mais de 4% na primeira sessão da semana, a commodity continua bem abaixo de onde estava há apenas uma semana.

A principal preocupação para os mercados energéticos é que o conflito se amplie e envolva diretamente o Irã, um aliado do Hamas e um grande produtor de energia. Com o mercado petrolífero já muito apertado, pensamos que tal cenário poderia enviar o preço do petróleo bem acima dos US$ 100 por barril, pelo menos temporariamente”, diz Goltermann.

Por fim, a maneira como os bancos centrais irão responder a qualquer repercussão econômica do conflito também é relevante. “Uma razão pela qual a invasão russa e as consequentes sanções tiveram uma grande influência nos mercados financeiros no ano passado é que o aumento resultante nos preços das matérias-primas ocorreu numa altura em que a inflação na maioria das grandes economias já estava bem acima da meta e os bancos centrais estavam respondendo com um aperto monetário agressivo”, destaca o economista do Capital.

Em contraste, neste momento, a maioria dos bancos centrais parece estar próxima ou no fim dos seus ciclos de aperto monetário, avalia o relatório.

Dessa forma, os eventos do fim de semana “acrescentam outro curinga a um quadro cada vez mais confuso”.

Apesar de ter escalado após o Hamas, grupo armado extremista palestino, atacar Israel no último sábado, com as proporções que o conflito demonstra no momento, as consequências para a economia global e, portanto, para o Brasil são “ruído”, classifica Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).

“É muito cedo ainda, mas eu diria que, do tamanho que o conflito está no momento, a despeito de todo o problema humanitário e de ser uma questão muito ruim há muito tempo, os impactos econômicos são bem limitados”, afirma.

Esse “ruído” deve levar a uma pequena reprecificação de risco, do petróleo e tem potencial de gerar uma pequena reprecificação também do câmbio, “mas coisas muito pequena”, reforça Ribeiro. “O conflito, nessa escala, não acho que muda cenários”, diz.

Segundo o economista, será importante observar, no entanto, como a Petrobras vai reagir à situação, porque, no curto prazo, isso será importante para a inflação brasileira, aponta. “Por enquanto, tem espaço para ela absorver; se for um choque mais perene, aí a discussão é diferente”, afirma.

Essa interpretação de impactos limitados muda se mais atores forem sendo aglutinados à questão, diz Ribeiro.

Nesse sentido, as notícias de que o grupo extremista armado Hezbollah atacou posições israelense ao norte, na fronteira com o Líbano, é ruim, exemplifica. “A questão de que parece ter ‘algum cheiro’ de Irã na história também torna a situação mais pesada”, afirma. Reportagem do jornal “The Wall Street Journal” indica que o Irã ajudou a planejar o ataque do Hamas a Israel no sábado (7).

“Aí, você vai tornando a situação mais complicada, com mais atores grandes envolvidos e isso vai tornando ruídos em questões que podem ser mais perenes”, diz Ribeiro.

Para ele, a situação ainda está muito longe de ser comparada com os efeitos da Guerra do Yom Kippur, conflito envolvendo Israel, Egito e Síria e que levou ao choque do petróleo de 1973.

“Alguns estão colocando essa comparação, acho absolutamente exagerado nesse momento. Mas, se tiver uma evolução nesse sentido de mais atores – o que não deveria ser o cenário-base com as informações que temos hoje -, petróleo a US$ 110/barril é o piso”, diz Ribeiro.

O conflito entre Israel e o grupo armado extremista palestino Hamas pode afetar a economia brasileira através dos canais do petróleo e do câmbio, ambos se traduzindo em projeções de inflação maiores.

A avaliação inicial, no entanto, é que os impactos não devem ser grandes, mas a guerra é “mais um vetor na direção de que o Banco Central deve ser cauteloso”, diz Anna Reis, sócia e economista-chefe da Gap Asset.

“Tem de monitorar. Sempre que tem uma guerra, assim como foi na Ucrânia, não temos muito como saber como vai terminar, é [ir avaliando] no noticiário do dia a dia. Hoje, o que a gente consegue estimar é o impacto do que já aconteceu e do que tem alguma probabilidade de acontecer para frente”, diz Reis.

Por enquanto, o conflito parece mais restrito à Faixa de Gaza, e o maior impacto aconteceu sobre o preço do petróleo, observa a economista.

“O petróleo tinha subido muito, bateu quase US$ 100/barril, mas vinha caindo bastante na semana passada. Aí, deu esse rebote, porque é uma região com muitos países produtores, e o mercado precisa colocar algum prêmio de risco para o caso de o conflito acabar envolvendo algum produtor da região”, explica Reis.

Ainda assim, a cotação do petróleo Brent gira em torno de US$ 87/barril, o que não reflete um grande risco, segundo a economista.

O dólar, por sua vez, está se fortalecendo em relação às demais moedas do mundo. “Mas a gente vem de dois meses tão violentos no mercado internacional que, em relação ao que já aconteceu, hoje até está um dia ‘ok'”, diz Reis.

De imediato, Reis diz não esperar que a Petrobras vá reagir à situação. A defasagem entre o preço internacional e doméstico para a gasolina foi fechada, e a Gap não espera novos reajustes. “No caso do diesel, chegou um momento que parecia que ia precisar ter, mas, na sexta passada, com a queda do petróleo, isso já estava sumindo da nossa visão. Não está com tanta gordura, pode ser que venha, mas tem de esperar para ver. Acho que a Petrobras não fará de imediato, vai avaliar para onde vão os preços”, diz Reis.

Ela observa também que as medidas de inflação implícitas (extraídas de ativos do mercado financeiro) não têm mudado muito fundamentalmente, mesmo com as turbulências do início do segundo semestre em relação às perspectivas dos juros maiores por mais tempo nos Estados Unidos, por exemplo.

“Na quinta e na sexta da semana passada, elas caíram, acompanhando o petróleo”, observa Reis. “Acho bem limitados os impactos para o Brasil, se o conflito [Israel-Hamas] ficar nisso”, afirma.

Por isso, ela diz não ver motivos para o Banco Central do Brasil mudar sua estratégia, ainda que o cenário externo seja um “complicador” e um “fator para cautela”. “Aceleração de ritmo de cortes? Esquece para o momento. Mas, daí a rever o espaço para cortes ou já sinalizar a Selic terminal, acho precipitado. Estamos muito longe dessa terminal ainda e o ritmo de 0,50 ponto percentual parece ‘ok'”, afirma.

Com informações do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.

 — Foto: Getty Images
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