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Mercado eleva cautela após prévia da inflação de setembro. Trajetória da Selic pode mudar? | Moedas e Juros


Com a aceleração da inflação no setor, preços podem continuar pressionados, criando uma resistência para o arrefecimento do IPCA. E o índice é essencial para a definição dos rumos da política monetária. Assim, a queda da Selic poderia estar ameaçada?

Somada ao cenário de extensão das políticas restritivas pelo banco central americano (Fed), não necessariamente a queda estaria ameaçada, mas sim uma aceleração do ritmo de cortes (em meio ponto por reunião) e talvez até a taxa final para a Selic em 2024.

O banco Barclays, por exemplo, revisou sua projeção de inflação para 2023 de 4,9% para 5,1%. Mas não acredita que o cenário para o ano altere os planos do Banco Central (BC), reiterados na ata da reunião do Copom divulgada hoje. Pelo contrário, pode só conter uma possível aceleração dos cortes.

“Isso se deve principalmente à dinâmica de curto prazo, que provavelmente não influenciará o BC a acelerar o ritmo dos cortes nas taxas no futuro próximo”, afirmou em nota enviada a clientes o economista Roberto Secemski.

Confira as outras análises do mercado.

Os dados do IPCA-15 de setembro mostram que a inflação de serviços voltou a acelerar, o que deve continuar a pressionar os preços, afirma Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

Em nota enviada a clientes, a economista afirma que a composição do indicador veio pior do que o esperado, com aceleração da inflação de serviços (0,53%), acima da previsão do C6 (0,34%) e do mercado (0,30%).

“Esse resultado reverte a surpresa positiva do mês anterior. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 5,6%, acima dos 5,4% registrados até agosto”, escreve Moreno. “Os núcleos do Banco Central também continuam rodando em patamares elevados, acumulando alta de 5,1% em 12 meses. Junto com a inflação de serviços, esses dois componentes ajudam a entender por que os preços seguem pressionados.”

A economista chama atenção para o fato de, em 12 meses, o IPCA-15 acumular alta de 5% até setembro, maior que os 4,24% registrados até agosto.

“Essa aceleração corrobora nossa visão de que a inflação continuará subindo nos próximos meses”, argumenta. “Entre os fatores que influenciam essa trajetória está o mercado de trabalho aquecido, que pressiona a inflação de serviços, um importante termômetro de para onde vai a inflação geral. A taxa de desemprego se encontra abaixo da média histórica brasileira, dificultando a desaceleração da inflação de serviços e, portanto, trazendo desafios para a convergência da inflação à meta.”

O resultado do IPCA-15 divulgado nesta terça-feira, contudo, não muda a projeção do C6 de que a inflação terminará 2023 em 5,4%. Para 2024, a expectativa é que a inflação fique em 5,5%.

Em nota a clientes, o economista Alexandre Maluf, da XP, também alertou para aceleração dos núcleos.

“No que diz respeito às medidas qualitativas, a média dos núcleos avançou 0,26% em relação a agosto, aproximadamente em linha com nossas expectativas (0,24%). De acordo com nosso método, a média móvel anualizada sazonalmente de 3 meses aumentou marginalmente para 3,6% em setembro, ante 3,4%”, escreveu. “A medida de ‘serviços subjacentes’ avançou 0,34% em setembro, acima de nossas expectativas de 0,23%, mas sua média móvel de 3 meses caiu para 4,7% ante 4,8%, na terceira queda consecutiva dessa medida.”

O economista acrescenta ainda que a principal surpresa em serviços subjacentes veio do item ‘alimentação fora do domicílio’ (0,46%, ante projeção de 0,27% da XP), que tem peso de cerca de 30% no indicador.

“Dado que outros componentes se mantiveram em linha com nossas projeções, mantemos nossa visão de que a inflação de serviços e suas métricas irão se moderar ao longo dos próximos trimestres, apesar de permanecerem acima da meta de inflação”, afirmou.

O resultado da prévia da inflação de setembro mostra resiliência em serviços e reforça a expectativa de que a queda dos juros ocorrerá de maneira paulatina, afirma William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics.

“O salto da inflação brasileira para 5% na primeira quinzena de setembro, tomado em conjunto com o tom mais cauteloso da ata da reunião do banco central da semana passada, apoia a nossa visão de que o ciclo de flexibilização monetária prosseguirá gradualmente”, escreveu Jackson, em relatório enviado a clientes.

O economista observa que o resultado da inflação esteve em linha com as expectativas, mas subiu ante os 4,2% da primeira quinzena de agosto.

“Grande parte do aumento foi impulsionado pela categoria de transportes, refletindo os preços mais elevados dos combustíveis. Mas, o que é mais preocupante para os tomadores de decisões, parece que a inflação dos serviços básicos permaneceu forte”, observa. “Estimamos que tenha subido para 5,5% na primeira metade do mês, face a 5,4% em agosto, quebrando uma série de quedas constantes desde fevereiro.

Em relatório enviado a clientes, o economista Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, afirmou que os preços mais baixos dos produtos alimentares, a deflação dos preços atacadistas deverão apoiar a continuação de um ciclo de flexibilização gradual da taxa de juros.

“No entanto, a margem para uma aceleração no curto prazo do ritmo dos cortes nas taxas é limitada por um cenário caracterizado por uma atividade real resiliente, um contexto restritivo do mercado de trabalho, uma redução significativa do hiato do produto, uma política orçamental e parafiscal expansionista, núcleo da inflação e inflação de serviços acima de 5% e expectativas de inflação de curto e médio prazo ainda não ancoradas”, escreveu Ramos.

Ele acrescentou ainda riscos altistas para a inflação dos alimentos e dos combustíveis, que exigiriam cautela.

Os economistas do Santander Daniel Karp e Adriano Valladão afirmam que, a maior surpresa do IPCA-15 de setembro ocorreu nos principais bens industriais, liderados por artigos domésticos, vestuário e higiene pessoal.

Acrescentam ainda que o índice de difusão despencou para o menor nível da série histórica.

“A impressão foi novamente favorável em termos qualitativos, com a dinâmica da inflação subjacente a melhorar na margem, mesmo com a surpresa ascendente nos serviços básicos”, afirmam em nota enviada a clientes.

A abertura dos números do IPCA-15 mostrou interrupção da queda da inflação em serviços e acendeu alerta entre economistas. O resultado deve levar a revisões para cima do índice cheio de setembro, afirma Andréa Angelo, estrategista de inflação Warren Rena.

“A aceleração foi puxada pelo reajuste da Petrobras, passagem área, energia e também, nos núcleo, pela inflação de serviços, principalmente vindo de restaurantes. Isso explica grande parte aceleração mensal”, afirma. “Embora o numero tenha surpreendido para baixo, já que esperávamos 0,37%, a abertura chama atenção.”

A leitura, diz, não mostra inflexão serviços. “O patamar se mantém bom, mas não há a melhora adicional que esperávamos. Vimos uma melhora grande em julho e agosto, e esperávamos continuidade dessa desaceleração”, diz, ao citar fatores como transporte por aplicativo e condomínio residencial.

Angelo afirma que a leitura foi positiva na parte de bens duráveis e alimentação, com desaceleração importante. Mas, como o IPCA de setembro terá repetição de alguns itens que tiveram forte alta no IPCA-15, a tendência é o índice cheio para setembro ser revisto para cima.

“Por exemplo, passagem aérea, que veio muito alta e foi uma surpresa para nós, que esperávamos algo em torno de 6%, faz elevarmos a inflação esperada para setembro”, diz. “Tínhamos projeção de 0,34% para o IPCA de setembro, mas esses itens devem levar o número para próximo de 0,40%.”

Para o ano, a Warren Rena prevê inflação abaixo do teto da meta, em 4,70% para 2023 e 3,9% para 2024.

A descompressão menor do que economistas esperavam na inflação de serviços é frustrante, afirma Fábio Romão, da LCA Consultores.

“Apesar de o IPCA-15 de setembro trazer uma taxa de dispersão baixa, que pode ser fruto da atividade econômica que vai perdendo força daqui para frente, em decorrência dos juros altos, os serviços continuam fortes”, afirma.

Segundo o economista, a inflação de serviços deve cair de 7,6% em 2022 para cerca de 6%, acima do que se projetava há pouco tempo. “Há uma desaceleração, mas é um pouco frustrante porque havia quem esperava serviços encerrando o ano com descompressão mais intensa neste ano. Mas isso não vai acontecer”, afirma. “Tudo indica que serviços vão desacelerar, ficando em 4,2% no ano que vem. A questão é qual o ritmo disso e o quanto pode atrapalhar a inflação chegar à meta e o corte de juros.”

Soma-se a isso, Romão argumenta, o risco de reajuste de combustível no semestre. “Por isso, tenho projeção de IPCA de mais de 5% em 2023, ante muitos que esperam 4,7%”, diz.

Além da alta da resiliência em serviços e da taxa de dispersão baixa, o IPCA-15 de setembro mostrou queda importante para bens industriais, cuja projeção de inflação foi revisada de 3,1% para 2,7% pela LCA. Outro item é alimentação no domicílio, que terá queda de 2,9% neste ano, após altas consecutivas.

Com informações Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor Econômico.

inflação — Foto: Getty Images
inflação — Foto: Getty Images



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