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Tá ruim, mas tá bom: por que a ‘prévia da inflação’ de maio agradou o mercado? | Moedas e Juros


O IPCA-15 acelerou de 0,21% em abril para 0,44% neste mês. O índice acompanha a alta de preços no período do dia 16 do mês anterior até o dia 15 do mês vigente, por este motivo é conhecido como “prévia da inflação”, que tem como referencial o IPCA – índice que mede a inflação no mês cheio. Mas, mesmo mais “quente”, o IPCA-15 divulgado hoje agradou o mercado. Por quê?

Para começar, agradou porque o IPCA-15 mostrou uma aceleração da alta dos preços menor do que o consenso projeções do mercado, de 0,47%. Resumidamente: está ruim, mas está melhor do que esperado.

Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, ressalta que um alívio veio dos preços de alimentos, “uma surpresa favorável, com deflação em vários itens, como carnes e arroz, o que indica que não houve impacto nessa divulgação das enchentes no Rio Grande do Sul.”

Mas agentes ressalvam que as próximas divulgações de inflação ainda devem capturar melhor os efeitos das enchentes.

“O IPCA-15 de maio ainda não captou os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul. Apesar da colheita de algumas culturas já terem sido feitas, a logística está comprometida – tanto para o escoamento quanto o recebimento de insumos – o que pode pressionar os preços dos alimentos. Só saberemos real impacto sobre a região após a água abaixar, mas a expectativa inicial é de um impacto de 0,1 ponto percentual a 0,2 ponto percentual sobre o IPCA de 2024”, pondera Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Já a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, ponderou em entrevista ao Valor que, embora a tragédia tenha efeito na inflação de alimentos, os preços das commodities também subiram, o que nubla o cenário para entender desde já como o desastre no Sul do Brasil vai afetar o IPCA.

Para a especialista, o maior impacto da tragédia será pela depressão da atividade na região, o que não é algo ruim do ponto de vista da inflação.

As boas notícias do IPCA-15

Outro ponto favorável, de acordo com Costa, é que a variação acumulada em 12 meses nos núcleos da inflação segue em trajetória de desaceleração, passando de 3,6% em abril para 3,5% em maio.

“A dinâmica benigna do IPCA-15 é uma boa notícia no curto prazo, mas não reduz as preocupações expressas pelo Banco Central [BC] em relação à deterioração do balanço de riscos para a inflação, em especial, a desancoragem das expectativas [elevação das projeções para as taxas] de inflação e as incertezas fiscais”, resume o economista-chefe da Monte Bravo.

A economista-chefe do Inter também vê trajetória benigna para a inflação e projeta um IPCA de 3,5% em 2024, o que a colocaria dentro da meta do BC de 3% para este ano com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Apesar de um IPCA-15 mais forte do que em abril, observamos um qualitativo positivo. Houve uma desaceleração, tanto na variação mensal quanto anual, da inflação de serviços subjacentes. Serviços intensivos em mão de obra desaceleram na variação mensal e se mantiveram estáveis nos últimos 12 meses. E o índice de difusão registrou uma alta marginal”, acrescenta Sung.

A dinâmica benigna em serviços é, de certa forma, o principal ponto de alívio para o mercado. Este núcleo vinha pressionando a inflação cheia e era um dos alertas do BC em relação a fatores altistas na trajetória de alta dos preços nos últimos meses.

“Em termos anuais, o núcleo de serviços desacelerou de 4,9% em abril para 4,8% em maio, o que indica redução da pressão dos serviços, embora a inflação do grupo esteja bem acima do patamar compatível com a meta de 3,0%, reforçando a cautela do BC na condução da taxa de juros”, aponta Costa.

A Suno ressaltou dois pontos que seguem no radar para o mercado:

  • a inflação de alimentos por conta da tragédia no Rio Grande do Sul; e
  • as expectativas de inflação.

“As expectativas inflação retiradas do Boletim Focus seguem subindo. Na divulgação desta semana, as expectativas para 2024 e 2025 cresceram pela terceira e quarta semana consecutiva, respectivamente. E, a expectativa de 2026, que estava estacionada em 3,50%, passou para 3,58%”, apontou Sung.

Entre os motivos que explicam essa desancoragem são as dúvidas em relação à política fiscal brasileira, a credibilidade do BC e especulações com o compromisso da autoridade monetária em atingir a meta de inflação, lista o economista-chefe da Suno.

“Assim, considerando esse contexto, espera-se que a autoridade monetária adote uma abordagem cautelosa em suas próximas reuniões, mesmo com um cenário de inflação corrente benigna”, acrescenta Sung.

Para o próximo Copom, a Suno espera corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. “No entanto, se houver uma piora no cenário tanto internacional quanto doméstico, o Banco Central pode optar por manter a taxa de juros no atual patamar de 10,50% ao ano”, conclui.

Com informações do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.

inflação — Foto: Getty Images
inflação — Foto: Getty Images



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