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IPCA surpreendeu positivamente? Sim, mas não quer dizer BC vá mudar rumos, avaliam economistas | Brasil e Política


O índice oficial de inflação surpreendeu positivamente os economistas, mas ainda não é suficiente para mudar os rumos da política monetária do Banco Central e acelerar os cortes na taxa básica de juros, a Selic. Na avaliação deles, o indicador apenas aponta para queda nas projeções para a inflação ao final deste ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, subiu 0,26% em setembro, após ter alta de 0,23% em agosto, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11).

A mediana das 46 projeções colhidas pelo Valor Data apontava para uma alta de 0,33% em setembro. O intervalo das projeções vai de um avanço de 0,20% a uma alta de 0,50%

No ano, o IPCA acumula uma alta de 3,50%. Já nos últimos 12 meses, o avanço é de 5,19%. Houve, portanto, uma aceleração dos 4,61% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

A inflação de setembro surpreendeu para baixo e traz um viés baixista para a projeção do fim do ano do Itaú Unibanco. De acordo com a economista Luciana Rabelo, as surpresas se concentraram nos itens gasolina, cuja alta veio um pouco menor que o esperado, e alimentação domicílio, que novamente mostrou uma deflação maior.

Ela também chama atenção para as aberturas. “Tanto serviços como bens industriais vieram um pouco abaixo do esperado. A gente já tinha uma expectativa benigna para o IPCA-EX3, que junta serviços e industriais subjacentes, mas este desacelerou mais que esperado”, diz. “Mesmo a difusão do EX3 também desacelerou bem, passando de acima de 60% em agosto para um pouco abaixo de 50% em setembro.”

Segundo Rabelo, o IPCA de setembro traz um viés baixista para a projeção do Itaú no fim do ano, de 4,9%. No cenário do banco, ele prevê uma aceleração do ritmo de cortes da Selic em dezembro, o que levaria a taxa básica de juros a 11,50%. “Mas isto depende muito do cenário externo e do desafio fiscal que se tem pela frente”, pondera a economista.

Na avaliação é do economista da XP Investimentos, Alexandre Maluf, a inflação mais baixa que o esperado em setembro trouxe aberturas positivas e mostra que o processo de desaquecimento dos preços no setor de serviços continua ocorrendo, mas os dados ainda são insuficientes para fazer o Banco Central a mudar de ideia quanto ao ritmo de cortes da Selic.

O preço da gasolina subiu 2,80% no mês e foi o maior impacto individual para a alta do IPCA no mês, de 0,14 ponto percentual.

Em relação ao dado cheio, Maluf aponta que houve surpresas positivas em relação à pressão do grupo de transportes, quanto em bens industriais, de higiene pessoal e automóveis. “O repasse dos preços da alta anunciada pela Petrobras em agosto foi muito mais rápido que esperávamos, então fomos surpreendidos para cima em agosto e para baixo em setembro”, nota.

Outra abertura positiva do dado de setembro veio da categoria de serviços, em especial o de serviços subjacentes – categoria acompanhada de perto pelo Banco Central. Esta subiu 0,33% no mês, “uma leitura bastante benigna, puxada bastante pela variação baixa da alimentação fora do domicílio, que é quase 30% do grupo”, diz o economista da XP, notando que a categoria subiu 0,11% no mês passado, um número bastante moderado para padrões históricos.

Na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada, os serviços subjacentes cederam de 4,1% para 3,6% em setembro. “São dados que animam, mas não devem romper a barra alta que o BC impôs para acelerar ritmo de cortes”, diz Maluf.

O economista da Garde Asset, Luis Menon, reforça que os dados de inflação em setembro mostra surpresas positivas vindas dos bens industriais, do setor de serviços e novamente dos alimentos, bem como uma taxa de difusão que caiu a níveis não vistos desde 2017. Essa melhora, no entanto, não deve ser suficiente para mudar a cabeça do Banco Central em relação ao ritmo de cortes da Selic, avalia.

O índice de difusão, que mede a proporção de bens e atividades que tiveram aumento de preços, caiu para 42,7% no mês passado, de 53,1% em agosto, menor percentual desde julho de 2017 (41,8%).

Menon nota que a aceleração dos serviços subjacentes – de 0,14% em agosto para 0,33% em setembro – já estava na conta desde o IPCA-15, por causa dos reajustes de aluguel e condomínio. “Por outro lado, outras medidas de serviços continuaram desacelerando na margem. Já a média dos núcleos continuou rodando perto da meta de inflação nos últimos três meses, na média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada”, acrescenta. “São números bons, mas o BC já esperava uma melhora da dinâmica. Acho que esse dado não muda a cabeça do BC sobre acelerar o ritmo de cortes.”

A Garde projeta um IPCA fechando o ano em 4,8% e não deve mudar a projeção para o número cheio no momento. “Talvez a abertura melhore, com uma parte de núcleos ainda estável. Existia dúvida sobre se a queda dos industriais poderia ser pontual, mas eles seguem caindo. O setor de serviços também tem ajudado, o que ancora para baixo a parte inercial”, diz.

Por outro lado, ressalta, a dinâmica dos preços de alimentos pode trazer alguma surpresa altista nos últimos meses de dezembro, especialmente porque vem de leituras muito baixas nos últimos meses e também olhando a sazonalidade de fim de ano. Apenas a parte de proteínas acumula deflação de 11% no acumulado dos últimos 12 meses, nota.

Com informações do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico.

 — Foto: Getty Images
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