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No meio do caminho do Ibovespa tinha uma pedra…e o índice tropeçou nela | Bolsas e índices


No meio do caminho do Ibovespa tinha uma pedra. Tinha também óleo derramado sobre este caminho. Nesta semana, as commodities, que por tanto tempo sustentaram o índice, viraram mais um obstáculo a dificultar sua a alta.

Nesta terça (4), o Ibovespa tropeçou na pedra e escorregou no óleo em seu caminho, perdendo o patamar dos 122 mil pontos. Não que fosse tão difícil. Apenas 32 pontos ainda o sustentavam naquele degrau.

Em mais um dia de queda firme dos futuros do minério de ferro e de petróleo, nos menores preços em meses, os pesos-pesados da carteira teórica arrastaram o índice para a lama.

  • O Ibovespa encerrou a sessão com perda de 019%, nos 121.802 pontos.

Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, destaca que os dois pregões deste começo de junho estenderam o fluxo de saída de investidores estrangeiros e institucionais, os principais compradores da nossa bolsa.

A debandada dos gringos da nossa bolsa provocou saída de R$ 36 bilhões mais do que tudo que eles investiram no mercado de ações brasileiro entre janeiro e maio.

A desvalorização do petróleo e do minério de ferro é um golpe duro ao Ibovespa porque mais de um terço do peso na sua carteira teórica de ações está ligado a setores exportadores. São apenas 20 papéis, mas com fatia de 36,7% do índice.

“A baixa no preço das commodities pesou no real em paralelo a outras moedas de mercados emergentes, que também são dependentes dessas exportações, e acumulam perdas na paridade com o dólar”, diz Kist.

Apenas Vale e Petrobras, juntas, respondem por quase 27% das forças que conduzem o Ibovespa. Mas as gigantes têm não um, e sim dois calcanhares de Aquiles: como qualquer empresa de exploração de matérias-primas, são dependentes dos preços das commodities; ainda por cima, pelo papel estratégico que desempenham na indústria brasileira, o controle dessas companhias está sempre no alvo do governo.

Da primeira fraqueza, nasce o primeiro problema: um horizonte razoável que vinha se formando para as commodities desde o início do ano se fechou. Então os dois faróis do Ibovespa se apagaram.

O pano de fundo para essa virada de tempo foi a confirmação do enfraquecimento das economias globais, especialmente a dos Estados Unidos. A rápida desaceleração da atividade nesses mercados deixou de ser um risco distante e se tornou hoje uma ameaça iminente.

E menos crescimento é sinônimo de menor demanda por commodities.

Então, além de o PIB americano no primeiro trimestre surpreender para baixo, o aumento dos estoques globais de petróleo reforça a leitura de que o ritmo de expansão das grandes economias está desacelerando.

Enquanto isso, na China, os estímulos econômicos ainda não compensaram a “quebradeira” recente das empresas no setor construtivo, maior consumidor de minério de ferro e aço. A questão para os negociantes desses futuros é a velocidade com que o subsídio do governo chinês se traduzirá numa maior procura pelas commodities metálicas.

Nessa toada, o contrato para setembro do minério de ferro – o mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian, na China – caiu 2,11% na sessão de hoje, a 834 iuanes (US$ 115,11) a tonelada. Mais a queda dos outros 2% de ontem, a commodity metálica está no menor valor desde 17 de abril.

Já o contrato para agosto do barril do petróleo Brent (referência global) afundou hoje outros 1,07%, a US$ 77,52, que somado ao tombo de 3,4% ontem levou a commodity energética ao menor nível de fechamento desde o começo de fevereiro.

É curioso que a força dos grandes mercados tira o sono de investidores há meses, desde o começo do ano. Só que antes não era pela sua fraqueza, mas pela força.

O ritmo de crescimento resistente à política monetária em campo restritivo, os bancos centrais tinham espaço menor que uma fresta para cortar juros nos mercados desenvolvidos.

Agora a situação virou. Espaço para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortar juros este ano parece haver, o problema mesmo é que o controle da inflação por lá foi mesmo feita às custas do crescimento da economia.

Se, por um lado, a queda das taxas de juros pode engatilhar o apetite global por risco, por outro, o menor crescimento econômico pode reduzir a atratividade de empresas nas bolsas.

As americanas, que fique claro.

Para o Brasil, essa pode ser uma boa notícia. Se parte desse fluxo de capital hoje na renda variável dos EUA e da Europa escapar para bolsas dos mercados “periféricos”, o país tem em sua vantagem o fato de ser o melhor dos emergentes hoje.

“Agora que começaram os questionamentos ao excepcionalismo americano [sobre o fenômeno paradoxal de os EUA manterem forte crescimento econômico apesar dos juros em patamares restritivos], isso pode minar as teses das empresas de tecnologia nas bolsas americanas, que vinham dragando muito o capital global da renda variável”, disse Felipe Miranda, analista-chefe e sócio da Empiricus, em comentário na pré-abertura dos mercados hoje.

Mas, para isso se concretizar, o Brasil precisa não ser uma pedra no caminho do Brasil.

O Brasil pode ser esse destino provável para investidores?

Há algum tempo o Brasil é enxergado por investidores estrangeiros como uma opção atraente entre os mercados de países emergentes. A começar que, hoje, o país caminha quase na contramão do ritmo global. Por aqui, a economia ainda vai bem, obrigado.

O PIB do primeiro trimestre divulgado hoje mostrou que a economia brasileira cresceu acima do que especialistas projetavam. Isso pregou ainda mais cautela entre negociantes locais da bolsa, porque aponta menos espaço para a Selic cair – o horizonte no Termômetro do Copom do Valor Investe mostra expectativa por apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juro, mas pode ser que nem isso aconteça.

“O resultado do PIB em alta acima das expectativas do mercado também impacta a curva de futuros de juros que teve leve alta em todos os vértices. O movimento nas taxas impacta negativamente o Ibovespa pelos papéis de empresas ligadas a setores de consumo doméstico e parece trazer algum gatilho de leve alta às ações de grandes bancos, como Itaú e Bradesco, que também figuram no ranking de maiores volumes negociados no pregão de hoje, mas sem valorização expressiva de preço”, pondera Kist.

Por outro lado, por mais que o risco fiscal esteja escalando por aqui, o Brasil ainda pode ganhar. O México, outro emergente que rivalizava com a nossa bolsa, pode sair de cena num curto prazo.

O índice IPyC da Bolsa Mexicana de Valores (BMV) caiu 6,01% no primeiro pregão após a eleição de Claudia Sheinbaum (Morena-PT-PVEM e AMLO), sucessora do atual presidente Andrés Manuel López Obrador. Investidores temem que, com maioria qualificada nas duas casas do Congresso, o governo consiga promover mais mudanças constitucionais, o que cria ambiente de maior incerteza política ao mercado mexicano.

Rússia está fora da jogada, e a bolsa da Índia teve hoje sua pior queda em um pregão desde 2020 após a contagem de votos nas eleições do país sugerir que uma vitória confortável do primeiro-ministro Narendra Modi estaria em risco. O cenário também eleva o risco político no mercado indiano, por suscitar questionamentos sobre se o líder político conseguirá promover reformas econômicas mais agressivas.

O índice de referência Sensex da Índia, que acompanha 30 grandes empresas, e o índice mais amplo Nifty 50 fecharam cada um em queda de quase 6%. O tombo de hoje vem na sequência da alta que levou os índices a patamares recordes na sessão de ontem, mas carrega sentimentos de que o futuro reserva um ambiente menos otimista para os investimentos na bolsa do país asiático.

Se o Brasil sair vencedor deste cenário, será praticamente por WO. Ainda que a bolsa daqui esteja cheia de bons ativos negociados abaixo das médias históricas (portanto, baratos), não são poucas as pedras que ainda bloqueiam a alta do Ibovespa.

Pedra no caminho — Foto: GettyImages
Pedra no caminho — Foto: GettyImages



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