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E agora, quem poderá nos salvar? Ibovespa está só ‘por um fio’ | Bolsas e índices


E agora, quem poderá salvar o Ibovespa? Os bancos tentaram até o último instante, mas não deu. Foi por pouco. Nos 45 do segundo tempo, os papéis do setor financeiro não conseguiram salvar o índice de uma queda pressionada por Vale, Petrobras e pelos juros.

A carteira teórica mais negociada da nossa bolsa renovou sua mínima pela quarta vez consecutiva neste ano e foi ao nível mais fundo em quase sete meses. Agora, está pendurado apenas “por um fio” no patamar dos 122 mil pontos.

Até porque (quase) tudo jogou contra o Ibovespa nesta segunda (3).

Os “bancões” precisaram se juntar para levar o índice testar o campo dos ganhos durante a sessão. O bloco das cinco maiores instituições financeiras da B3 tentaram fazer frente a Vale e Petrobras. Mas nem assim – e isso que a estatal nem caiu tanto assim hoje.

Mas o jogo é bastante desequilibrado.

Juntas, mineradora e petroleira têm quase 27% de peso na carteira teórica. Elas jogaram contra hoje. Já o bloco formado pelas ações de Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, BTG e Santander têm uma fatia de 17,4% do índice. Estes tentaram impulsionar os ganhos.

  • Na briga, levaram os maiores. O Ibovespa derreteu 0,05%, até os 122.032 pontos. Com mais esta leve pancada no primeiro pregão de junho, o Ibovespa aprofundou as perdas acumuladas em 2024 para 9,06%.

Basta que caia outros 1,32% do nível de hoje, e o Ibovespa já terá uma nova mínima para além de 13 de novembro de 2023, pregão que fechou nos 120.410 pontos.

Pressão não falta para isso acontecer.

O preço do barril do petróleo Brent (referência global) tombou 3,4% hoje e foi a US$ 78,36, fechando pela primeira vez desde fevereiro abaixo dos US$ 80. Sinais de que a economia americana está desacelerando corroboraram a visão de que a demanda global pela commodity pode ser bem menor que esperado.

E embora a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) tenha anunciado a extensão dos cortes na produção de petróleo, o Goldman Sachs anunciou: a mensagem passada durante o encontro jogou contra os preços.

Primeiro porque, apesar da conclusão, oito países da Opep+ sinalizaram durante a reunião que devem eliminar gradualmente os cortes. Segundo: os estoques ainda estão bastante elevados para as projeções do mercado, o que desafia o Brent e o WTI sustentarem o patamar entre US$ 75 e US$ 90 conquistado nos últimos meses.

Para o minério de ferro, a notícia não foi melhor. Os contratos para setembro, os mais negociados, foram ao menor valor desde 17 de abril após queda de 2,65%. O ativo fechou a sessão cotado a 843,5 yuan (cerca US$ 116,47) a tonelada, na bolsa chinesa de Dalian, sob sinais de enfraquecimento da demanda de aço na China, o principal mercado consumidor de minério.

“A China vem promovendo estímulos à economia, mas nenhum vem surtindo grandes efeitos. Com isso, vemos demanda muito menor por aço. Ainda temos um evento bem crítico por lá, que são as crises das grandes construtoras”, diz Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.

O resfriamento das economias dos gigantes globais pesa muito para a bolsa brasileira. Com atividade menos intensa, esses mercados compram menos, então o valor de matérias-primas cai.

E os preços dessas commodities pressionam o índice porque 1) Vale e Petrobras têm, combinadas, quase 27% de peso na carteira atual e 2) cerca de 35% das ações no Ibovespa são de empresas ligadas a esse mercado.

Para fazer frente a esses pesos-pesados, é preciso que muitos outros contrabalanceiem o movimento.

Mas as commodities são tese central para investidores estrangeiros virem para a bolsa brasileira. E é desse grupo que vem a outra má notícia.

O fluxo de saída dos gringos da nossa bolsa já anotou evasão de R$ 35 bilhões mais que tudo que esses investidores colocaram no mercado de ações brasileiro em 2024 até o dia 29 de maio (há dois pregões de hoje).

E, sem eles, o Ibovespa fica praticamente às moscas. Em 2024, os investidores estrangeiros vêm representando quase 55% da força de compra e venda na nossa bolsa.

Quando não dava para ficar pior, ficou. O Boletim Focus divulgado hoje confirmou expectativas de economistas ainda mais desancoradas [taxas mais altas] para a inflação e para a Selic no horizonte relevante do Banco Central (até 2025).

Projeções do Boletim Focus — Foto: Reprodução/XP
Projeções do Boletim Focus — Foto: Reprodução/XP

Basicamente, este grupo de especialistas de mercado está vendo apenas mais um corte de 0,25 ponto na Selic. O que não deve acontecer na próxima reunião do comitê do BC, e sim adiante, conforme as projeções que o Termômetro do Copom do Valor Investe vem mostrando.

Então nem mesmo o alívio da perspectiva de mais espaço para corte de juros nos Estados Unidos segurou a curva que mostra as taxas a que são negociados os contratos futuros de juros aqui no Brasil.

Por lá, as taxas para os títulos públicos (Treasuries) recuaram, o que abriu espaço para o câmbio cair.

Só que a deterioração do cenário doméstico mostrado pelo Focus não deixou a nossa curva de juros acompanhar a americana, e a revisão da curva daqui foi altista.

O que poderá salvar o Ibovespa?

A salvação do Ibovespa está apoiada basicamente nos cortes dos juros nos EUA. É possível que o início do ciclo de flexibilização da política monetária americana esteja se aproximando, uma vez que a economia do Tio Sam vem surpreendendo para baixo.

Ruim para as bolsas deles, bom para a nossa.

Se a economia americana realmente estiver desacelerando, os investidores mais vorazes podem buscar aventuras em outros mercados em troca de potencializar os ganhos das carteiras. Até os mais arriscados entram na jogada (leia-se: os emergentes, caso do Brasil).

Mas muito ajudará o cenário interno se ele próprio não atrapalhar. Para que os investidores estrangeiros voltem para o mercado brasileiro, a percepção de risco precisa diminuir por aqui. E, nesta ponta, estamos bem descobertos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anda bastante preocupado com a reputação de seu governo – mais até neste mandato do que nos anteriores, diante do aumento de poder do Congresso. E o afã por uma agenda mais populista imprime a investidores a percepção de “irresponsabilidade fiscal”.

Há dois meses, desde que o governo anunciou a mudança da sua meta fiscal para 2025 de superávit para déficit zero, investidores se perguntam até que ponto Lula está disposto a ir para alavancar sua popularidade e qual seria o peso de Haddad e sua equipe econômica nessa disputa com uma agenda política.

Algumas respostas já começaram a ser dadas, mas não ajudaram em nada a tese para investimentos no Brasil.

chapolin colorado — Foto: Reprodução
chapolin colorado — Foto: Reprodução



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