Dicas

Franquias que funcionam sozinhas? Redes de autoatendimento crescem até 650%, mas exigem disciplina | Franquias


Cada vez mais presentes no dia a dia do consumidor, as lojas de autoatendimento não são necessariamente uma novidade, mas encontraram rotas de crescimento mais estruturadas nos últimos anos, com a mudança no comportamento do cliente, mais simpático à tecnologia. Posicionadas como negócios de conveniência, as máquinas, sobretudo as de vendas de produtos, estão entre a praticidade do delivery e o sortimento do mercadinho de bairro na jornada de consumo.

O setor de franquias tem sido a principal alavanca desses negócios. O formato foi apontado com uma das tendências na última ABF Franchising Expo, em junho, uma das maiores feiras do setor no mundo, e até grandes empresas aproveitaram a ocasião para lançar modelos de negócios do tipo, como a Ambev e o seu Zé Express, baseado no Zé Delivery.

A pedido de PEGN, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) levantou o crescimento das redes internamente. São sete empresas de minimercados autônomos associadas à entidade. A market4u é a que tinha mais unidades no segundo trimestre de 2023: 1,5 mil, 23% a mais do que no mesmo período do ano passado. Já a que teve o maior crescimento foi a Honest Market Brasil, que chegou a 300 lojas vendidas (190 abertas), uma evolução de 652% em relação ao mesmo período do ano passado.

Guilherme Mauri, Marcelo Villares e Douglas Pena, fundadores da Minha Quitandinha: rede quer vender sistema até para concorrentes — Foto: Divulgação
Guilherme Mauri, Marcelo Villares e Douglas Pena, fundadores da Minha Quitandinha: rede quer vender sistema até para concorrentes — Foto: Divulgação

É esse potencial de mercado que a startup Minha Quitandinha, que também é uma rede de minimercados, vislumbrou ao investir cerca de R$ 900 mil para desenvolver um software próprio. A ideia é aumentar o faturamento das próprias lojas em até 50% – como já vem acontecendo nas 125 unidades que fizeram a migração –, mas também vender para o mercado e até para concorrentes, por meio de white label. PEGN teve acesso antecipado a essas informações.

A frente de licenciamento pode representar ganhos de até 30% para a Minha Quitandinha a partir de 2024, projeta Marcelo Villares, um dos sócios e CTO da rede. A marca deve fechar este ano com 300 lojas e faturamento de R$ 36 milhões. “Identificamos que o software é muito importante para que o franqueado ou lojista tenha autonomia sobre a tecnologia usada no ponto. Hoje é fragmentado, um sistema para cada processo”, explica.

A ideia é que o próprio franqueado, por meio do QPay, acoplado ao novo sistema, possa selecionar quais formas de pagamento serão aceitas, por exemplo, e que o mesmo sistema seja usado no aplicativo do cliente e na loja, de forma unificada. Ainda há a função QDash, que desburocratiza as atividades administrativas e promove uma visão 360º do empreendimento. Villares estima uma economia de 70% para os franqueados da Minha Quitandinha com a adoção do software, e acredita que isso possa se replicar para o mercado.

Os testes começaram em dezembro do ano passado, e a rede já conseguiu observar um aumento no tíquete médio, que passou de R$ 15 para R$ 19. “O número de pessoas que atingimos com o sistema está em 120 mil”, afirma Villares. A previsão é que o sistema chegue a todas as unidades até o próximo dia 15 de outubro.

O formato que será vendido para outras empresas deve ser lançado em 2024. “Estamos formatando o white label para o sistema não só para o nosso mercado, mas para a automação de outros tipos de varejo. Existem outros segmentos que pode usufruir dessa tecnologia do mercado autônomo”, diz o empreendedor.

“Negócio autônomo não é comprar um controle remoto”

Unidade da Honest Market Brasil: rede cresceu 652% em um ano — Foto: Divulgação
Unidade da Honest Market Brasil: rede cresceu 652% em um ano — Foto: Divulgação

Por ser um nicho de negócio que não demanda atendimento presencial, as lojas de autoatendimento têm chamado a atenção dos interessados em franquia que buscam por uma renda extra ou um negócio com baixo custo, sobretudo de mão de obra, como explica a vice-presidente da ABF, Adriana Auriemo.

“Às vezes é o morador ou o próprio condomínio que se torna franqueado. Ou uma empresa, que tem um espaço ocioso e traz uma loja de autoatendimento para dentro do negócio. O perfil é variado, mas a pessoa precisa ter aquele tino mais comercial, para identificar o local em que vai instalar o negócio e acompanhar o desempenho”, diz.

Algumas redes, sobretudo as de vending machines e minimercados, optam por oferecer mais de uma unidade para o franqueado crescer. Dessa forma, o perfil precisa ser ainda mais analítico. “O franqueado geralmente tem três, quatro ou cinco unidades e o trabalho dele é abastecer esses locais e fazer o controle da mercadoria, estoque etc. Ele não precisa gerenciar equipe, mas sim gerenciar todo o negócio”, comenta Auriemo, que aposta no crescimento desse nicho para os próximos anos.

As redes de franquias, em geral, oferecem sistemas que podem ajudar o franqueado a monitorar o negócio à distância. No entanto, isso não diminui a importância de um acompanhamento presencial, sobretudo no início da operação. Em algumas situações, são necessárias mais de uma visita por dia (veja mais sobre isso abaixo).

“Não pode ter aquela história do ‘tem, mas acabou’. O cliente precisa saber que vai encontrar o produto lá, pois isso interfere na decisão de consumo, se ele vai passar em um mercado antes de chegar em casa ou pedir por delivery. É criada uma relação de confiança e conveniência”, explica Ana Vecchi, especialista em franchising e CEO da Ana Vecchi Business Consulting.

A especialista diz que o franqueado precisa ter consciência sobre a importância do abastecimento e manutenção do ponto e, à medida que for conhecendo a região, a tendência é que isso vá se tornando mais automático. No caso de minimercados autônomos e vending machines, por exemplo, a dinâmica é similar a de um supermercado, que precisa ficar de olho na ruptura de estoque (quando há demanda, mas o produto não está disponível).

“O negócio não roda sozinho, não é a compra de um controle remoto. É necessário acompanhar a reposição, o que precisa comprar, se o produto que chega do fornecedor está em condições de ser vendido, se a máquina está funcionando no local em que está instalada, como é feita a limpeza. O processo de higienização, inclusive, precisa ser rigoroso e passar segurança para o cliente, sobretudo se envolver alimentos que possam ser consumidos na hora, como sorvetes ou café”, diz Vecchi.

Para entender a rotina das franquias de autoatendimento, PEGN conversou com uma marca de cada um dos principais segmentos. Nesta lista há algumas opções de outras marcas do nicho. Confira o resultado do levantamento a seguir:

Franquia de minimercado: reposição pode ocorrer até quatro vezes por semana

Murilo Specchio, sócio-diretor da Honest Market Brasil — Foto: Divulgação
Murilo Specchio, sócio-diretor da Honest Market Brasil — Foto: Divulgação

Mesmo com um negócio formatado para ser operado apenas pelo franqueado, muitos empreendedores da Honest Market Brasil optam por contratar funcionários para ajudar nas operações diárias, especialmente quando o número de unidades operadas cresce, de acordo com Murilo Specchio, sócio-diretor da marca.

“A decisão de operar sozinho ou com uma equipe depende das preferências, disponibilidade e metas de cada franqueado”, afirma. A rede disponibiliza sistemas que podem ajudar a verificar o desempenho das lojas, controlar estoques, realizar ajustes em tempo real e olhar câmeras de segurança.

A reposição varia de acordo com o porte da loja. “Alguns franqueados optam por fazer reposições semanais. Essa atividade é demandada pelo tamanho do ponto de venda. Para trazermos um exemplo, considerando lojas de maior porte, o abastecimento pode chegar a ser feito de três a quatro vezes por semana”, afirma Specchio.

A frequência média de limpeza nos pontos da Honest Market Brasil é semanal, mas pode ser ajustada de acordo com a necessidade. Segundo Specchio, os franqueados também são auxiliados pelas equipes condominiais de onde a loja está instalada. A maior parte das novas unidades da rede foi implantada em prédios comerciais. A manutenção, quando necessária, é feita por equipes indicadas pela franqueadora.

Franquia de vending machine: “Máquina bonita e bem abastecida vende mais”

Franquia do Balcão Urbano — Foto: Divulgação
Franquia do Balcão Urbano — Foto: Divulgação

A rede de vending machines Balcão Urbano (ex-CasaGroup) foi fundada por um brasileiro nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 2020. Hoje está com 207 unidades, sendo que parte é de venda de produtos de grandes marcas, como Coca-Cola, Petz e Disney.

As máquinas podem ser encontradas em pontos de alto fluxo, como estações de metrô e shopping centers. “Para até 12 unidades, indicamos que a operação seja feita exclusivamente pelo franqueado. Depois disso, e de acordo com um certo raio de atuação, já fica viável ter um funcionário para ajudar a conduzir as rotas de abastecimento e limpeza das máquinas”, diz Paulo Corsi, diretor de operações da Balcão Urbano.

A franqueadora recomenda que o abastecimento, controle de estoque e limpeza sejam feitos todos os dias. “Máquina bem abastecida e com vitrine bonita sempre vende mais”, diz Corsi. Já no treinamento inicial da franquia, a rede disponibiliza um checklist do que deve ser feito para minimizar a necessidade de manutenções nos equipamentos. Se precisar reparar algo simples, o franqueado recebe a peça e as instruções de como fazer. Se for algo mais complexo, a franqueadora agenda a visita técnica.

“Além disso, também são feitos testes diários no abastecimento visando a manutenção preventiva da máquina. Em média um franqueado gasta duas horas por máquina realizando os abastecimentos e manutenções preventivas”, diz.

Franquia de lavanderia autônoma: limpeza diária e acompanhamento de suprimentos

Angelo Donaton, CEO da Lavô — Foto: Divulgação
Angelo Donaton, CEO da Lavô — Foto: Divulgação

Redes de serviços também recorrem ao autoatendimento, como é o caso das lavanderias. Marcas como Omo, 5àSec e Lavô têm formatos que operam sem a ajuda de funcionários, com todo o processo conduzido pelo próprio cliente.

No caso da Lavô, o franqueado precisa separar 15 minutos por dia, em média, para organizar e limpar o local, de acordo com Angelo Donaton, CEO da marca. Dependendo do movimento, pode ser necessária mais de uma visita.

Atualmente a rede tem 400 unidades em funcionamento e a manutenção é feita a cada seis meses. Por meio de um sistema, o franqueado consegue acessar câmeras do local e acompanhar as questões administrativas, inclusive de reposição de suprimentos. “O produto na bombona dá para 1 mil lavagens, então o franqueado vai monitorando por meio do sistema de venda e de forma visual, diariamente, conforme ele vai à unidade para fazer a limpeza. É bem simples esse processo”, diz Donaton.



PEGN

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo