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Estrangeiros fazem maior saque na bolsa para um mês de abril. E isso é ruim para as ações; entenda | Bolsas e índices


Os investidores estrangeiros terminaram o mês de abril com saques líquidos de R$ 11,36 bilhões no segmento secundário (ações já listadas) da B3, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (3). O último mês teve o pior saldo mensal da categoria desde agosto do ano passado, e o pior para um mês de abril desde que o Valor Data passou a acompanhar a estatística, em 2006.

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Agora, as vendas de ações pelos não residentes no acumulado de 2024 superam as compras em R$ 34,26 bilhões. O montante já ultrapassa 75% do valor dos investimentos líquidos do grupo na B3 em todo o ano de 2023, de pouco mais de R$ 45 bilhões.

Os fluxos estrangeiros têm deixado a bolsa brasileira desde o início do ano, em meio à perspectiva de um Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mais conservador — na virada do ano, as apostas majoritárias do mercado indicavam que a autarquia cortaria os juros entre seis e sete vezes ao longo de 2024 e, agora, a projeção predominante é de uma a duas reduções de 0,25 ponto nas taxas e somente no segundo semestre do ano.

A expectativa de juros altos por mais tempo nos EUA atraiu recursos para lá, já que os investimentos no país são considerados mais seguros. E essa perspectiva afastou os recursos de regiões vistas como mais arriscadas, como o Brasil. Recentemente, questões internas, como a incerteza fiscal e seus possíveis efeitos sobre a taxa Selic, também passaram a influenciar o cenário.

O investidor institucional, por sua vez, terminou abril com superávit de R$ 4,69 bilhões, enquanto o superávit anual alcançou R$ 6,24 bilhões. E o investidor individual fechou o mês com saldo positivo em R$ 4,12 bilhões e o superávit em 2024 para R$ 16,77 bilhões.

Por que isso é ruim para os investimentos na bolsa?

Estrangeiros representam a maior força compradora da bolsa brasileira, então sua saída representa um “esvaziamento” do capital que circula na B3. Aí entra a lei mais básica da economia: a da oferta e demanda.

Não importa quão “barata” esteja a bolsa ou quão atraente sejam seus ativos, sem demanda, os preços caem. E era isso que a bolsa brasileira estava vivendo até o fim de abril, caindo apesar de analistas reforçarem que os ativos daqui estavam com preços de entrada (compra) em patamares historicamente baixos.

Então com todo o cenário global, especialmente nos Estados Unidos, os gringos estavam liquidando suas posições na bolsa do Brasil para alocar seu capital em outros cantos mais seguros – nem que fossem as bolsas de lá.

Mas aí entre um outro aspecto que teve especial influência sobre o movimento de fuga dos gringos em abril: os riscos.

O Brasil é visto externamente como um mercado de risco. A começar que tem uma bolsa de ações pouco líquida na comparação global e ainda bastante apoiada no mercado de commodities (cerca de 35% das empresas na carteira do Ibovespa são exportadoras de matérias-primas).

Sem falar que o país está no grupo dos emergentes, com características de sistemas e instituições menos amadurecidas, por isso a visão de fora para cá é de maiores riscos político e fiscal. E falando neles, em abril, o governo anunciou a mudança da sua meta fiscal para 2025 de contas superavitárias para um déficit zero.

Na prática, o governo passou a mensagem de que está menos otimista com o controle das contas públicas e também que não está tão disposto a fazer concessões (leia-se: diminuir gastos) para atingir os compromissos firmados no seu arcabouço fiscal. Assim, as possibilidades de um evento que afete a capacidade do governo de cumprir obrigações fiscais crescem.

Para os estrangeiros, esse recado não caiu nada bem, por isso o anúncio reforçou a debandada da nossa bolsa.

Jogo virou para a bolsa em maio?

Maio não tem nem bem dois pregões, mas o Ibovespa parece ter invertido a tendência anterior de perdas, agora corre atrás de uma recuperação. Isso pode significar que os estrangeiros estão voltando para a bolsa brasileira?

Embora a B3 não tenha soltado números mais recentes, as altas desses dois primeiros pregões do mês podem ter a ver com a volta dos gringos para a nossa bolsa, sim. E isso vem acontecendo porque o horizonte para corte de juros nos EUA está hoje mais otimista do que vinha nas últimas duas semanas até terça passada.

Os últimos números da economia americana estão vindo consistentemente em linha ou até surpreendendo positivamente agentes, com indícios de que a pressão inflacionária nos EUA está diminuindo. Isso significa que, se confirmado, o banco central americano pode ter mais espaço para cortar os juros por lá do que se esperava.

Isso foi endossado de quarta-feira para cá pela leitura que o mercado fez do discurso de Jerome Powell, presidente da autoridade monetária de lá, após a decisão do banco central dos EUA de manter as taxas no patamar de 5,25% a 5,5% ao ano.

Mas o cenário é bastante volúvel. Até terça passada, as projeções davam conta de um primeiro corte das taxas americanas só em dezembro – e olhe lá! – hoje, já voltaram a embutir nos preços de ativos um primeiro corte em setembro, com margem para um segundo corte ainda este ano.

No mercado, tudo pode mudar a qualquer momento, mas enquanto estiver assim como neste momento, a bolsa brasileira tende a se beneficiar do maior apetite global por risco.

Com informações do Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico.

porta saída — Foto: Getty Images
porta saída — Foto: Getty Images



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