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Copom corta Selic em 0,25 ponto, a 10,50% ao ano | Moedas e Juros


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a meta para a taxa básica de juros (Selic) em 0,25, a 10,50% ao ano. Este é o sétimo corte consecutivo, desde o início do afrouxo que começou em agosto, quando a taxa estava a 13,75% ao ano. Desde então, todos os ajustes haviam sido de meio ponto. Por isso, este movimento é considerado uma desaceleração no processo de redução de taxas.

A decisão dividiu o colegiado, mas prevaleceu a vontade da maioria de cinco membros: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Outros quatro votaram por um corte maior de 0,50 ponto, foram eles: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, aponta o comunicado.

Este comunicado difere dos anteriores, porque não dá pistas sobre os próximos passos (o chamado forward guidance não aparece aqui). A partir de agora, não fica claro se este será só mais um corte, o início de uma pausa nas quedas da Selic ou até mesmo a última redução do ciclo.

Leia o comunicado na íntegra:

O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização de política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,7% e 3,6%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,8% em 2024 e 3,3% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,8% em 2024 e 4,0% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.

O Comitê acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,50% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.

Mudanças de uma reunião para outra

Até março, as apostas era de que agora em maio haveria mais um corte de meio ponto. No entanto, a percepção mudou nas últimas duas semanas, quando o governo abrandou sua meta fiscal, ao desistir do déficit zero este ano, adiado para 2025. Incertezas sobre a política monetária dos Estados Unidos e comentários mais cautelosos do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em eventos ajudaram a trazer as expectativas da maior parte do mercado para um corte diminuto de 0,25.

No último comunicado, quando a taxa básica passou de 11,25% para 10,75%, houve uma mudança de tom, com menos garantias de reduções mais rápidas, mas ainda indicando pelo menos mais um corte de meio ponto.

Até então, o mercado estava confiante de que esse ritmo de 0,50 ponto de quedas se seguiria em cada reunião até o final do atual ciclo que levaria a uma taxa de 8,50% ainda este ano. Mas de lá para cá muita coisa mudou e os cálculos foram revisados, de modo que já é possível encontrar agentes que não acreditam numa Selic abaixo de 10% este ano.

De acordo com o último Boletim Focus, publicação do BC que reúne previsões de economistas, a Selic para este ano sofreu mais uma alteração para cima, saindo de 9,50% na semana anterior para 9,63%. Para inflação, a expectativa é de que seja menor, mas ainda fora do núcleo da meta de 3% ao ano.

“Uma vez que o comitê opta por um ritmo mais lento, acreditamos que manterá esse ritmo em cada reunião em 2024. A maioria dos analistas e economistas no Brasil agora acredita que a taxa terminal será de 10% ou 9,75%, o que equivaleria a cortes de taxa cessando em 31 de julho ou 18 de setembro. Discordamos. Acreditamos que o comitê continuará cortando até o final do ano e esperamos que a SELIC termine 2024 em 9,25%”, diz relatório da UBS BB.

Para Luiz Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, se o Banco Central americano cortar os juros em setembro, nossa Selic pode chegar a 9,25% ainda em 2024. “Caso contrário, seria alguma coisa mais próximo de 9,5% ou 9, 75%”, aponta.

O economista e assessor da RJ+Investimentos Bruno Monsanto reforça dois gatilhos com força para definir o rumo da política monetária no Brasil. “O fator mais importante é a forte correlação com os juros nos EUA. O segundo fator é a fragilidade do nosso fiscal, e está difícil ficar otimista em relação a uma melhora nesse quadro. Enquanto houver falta de clareza sobre essas duas questões, o Bacen deve se manter firme e seguir uma política monetária restritiva”, avalia.

Da ala mais otimista, o olhar vai para a inflação e como ela se manteve surpreendentemente mais controlada. “Nossa inflação está bastante controlada, com seguidos dados divulgados abaixo do consenso e o atual patamar de juros reais ainda está muito alto, havendo caminho para maiores cortes na taxa de juros”, destaca Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Corte de juros — Foto: Getty Images
Corte de juros — Foto: Getty Images



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