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Como gestores receberam o comunicado do Copom sobre corte de juros? | Moedas e Juros


A Super Quarta passou e, com ela, baixaram as expectativas do mercado sobre o futuro dos juros no país. Uma expressiva maioria dos gestores brasileiros dormirá com a serenidade de quem apostou na ficha certa. Melhor ainda: com sinalizações de que (por ora) não deve haver grandes surpresas num futuro breve para a Selic.

E embora o corte de meio ponto, que levou a Selic aos 12,75% ao ano, não tenha pegado praticamente ninguém de surpresa, o comunicado do Copom trouxe alguns pontos de alerta ao mercado.

Confira o que chamou atenção de gestores no recado do Banco Central e o que poderia entrar no caminho da (esperada) descida dos juros cadenciada em meio ponto por reunião.

A decisão do Copom foi mais hawkish, ou seja, menos inclinada a um maior afrouxamento monetário, do que o mercado esperava, afirma o economista do BTG Pactual Álvaro Frasson. “O BC incluiu maiores riscos vindos do cenário externo, com abertura das taxas americanas e desaceleração na China, além de mencionar novamente o risco fiscal no cenário interno”, diz.

Na visão do economista, “a reancoragem [das expectativas de inflação] tem demonstrado certa resistência em convergir para a meta”. Segundo Frasson, “a inclusão de um parágrafo sobre execução das metas fiscais mostra a preocupação do BC em relação ao tema e reforça a importância de se atingir essas metas para as expectativas de inflação”.

O economista do BTG lembra que no comunicado de agosto houve a retirada à menção da incerteza fiscal residual do balanço de risco. “Agora, neste mês, o risco fiscal volta a aparecer não mais no balanço de risco, mas com um parágrafo específico e sem menção ao residual.”

Para o especialista, o comunicado “retira as probabilidades alimentadas pelo mercado de uma aceleração do corte em dezembro para 0,75 ponto”. O BTG prevê uma Selic em 11,75% no fim deste ano. Para 2024, a taxa básica deve alcançar 9%, quando para de cair.

Frasson enxerga ainda a possibilidade de o BC começar a enfatizar mais a questão do hiato do produto. “Na semana passada a diretora [do BC] Fernanda Guardado falou que haverá revisão metodológica do cálculo do hiato no relatório trimestral de inflação. Isso vai impactar as próprias projeções de inflação do BC porque, se tudo o mais permanecer constante, a revisão metodológica deve trazer uma elevação das expectativas de inflação do BC.”

O comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) veio mais hawkish, ou seja, mais cauteloso do que o mercado esperava, afirmou o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.

“O comunicado trouxe piora do cenário internacional, com uma visão mais incerta”, diz o especialista. “O BC traz ainda uma menção à taxa de juros longa nos EUA que tem causado volatilidade nos ativos globais.”

Segundo Lima, o Copom também citou a atividade econômica no país, que tem se mostrado mais forte do que o esperado. “Apesar de antecipar desaceleração da economia à frente, o BC reconhece que está num cenário mais forte”.

O economista da Western ressalta que o BC trouxe de volta ao comunicado a questão do risco fiscal. “A autoridade tinha retirado a menção do balanço de risco em agosto, mas o novo comunicado faz um alerta para a importância das metas fiscais serem atingidas para a condução da política monetária.”

Na visão de Lima, o comunicado reforça o plano de voo da autoridade de manter o ritmo de corte da Selic, de 0,50 ponto percentual, nas próximas reuniões. “O BC continua reforçando a questão de gradualismo da política monetária. Pelo teor do comunicado, a autoridade parece dizer que precisa melhorar mais para se pensar em acelerar [o ritmo de cortes].”

A Western projeta a Selic em 11,75% no fim de 2023 e uma taxa básica de 9% na última reunião de 2024, quando o BC deverá parar de reduzir a taxa básica.

A casa tem uma estimativa para o IPCA em 2023 de 4,9% e, no ano que vem, de 4,10%.

O fato de o comunicado do Copom ter mostrado leve alteração nas projeções de inflação pelo Banco Central indica que a autoridade ainda não vê o avanço recente dos preços do petróleo como um grande temor, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. “Essa elevação dos contratos no exterior é recente e ainda não foi repassada para os preços da gasolina e do diesel. A autoridade, então, manteve certa tranquilidade em relação aos indicadores de inflação”, diz.

Sanchez avalia o comunicado como “neutro” e um “não-evento” por vir bastante em linha com o que o mercado esperava. Assim, as projeções da Ativa continuam inalteradas, com o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual se estendendo até o fim do primeiro trimestre de 2024, enquanto no segundo trimestre um corte de 0,25% encerraria o ciclo de flexibilização com a Selic em 10,5%. “A mensagem de que a política monetária terá que ficar contracionista até que ocorra a ancoragem das expectativas de inflação foi mantida e, isso fez com que ns mantivéssemos nossas projeções.”

O economista-chefe da Ativa chama atenção para o fato de que o Copom voltou a mencionar a questão fiscal em seu comunicado. “Foi uma menção sutil, sem juízo de valor”, diz. Para Sanchez, esse movimento foi necessário porque houve uma piora na expectativa sobre as contas públicas. “Tivemos pessoas de peso, do Legislativo e da base aliada falando em alterar a meta fiscal; pessoas ligadas ao Orçamento. Antes o alcance dessa meta era defendido por todos, agora é defendida de forma indubitável apenas pelos integrantes da Fazenda”, afirma.

Para o profissional da Ativa, o fato de a decisão ´do Copom ser unânime desfaz algum receio em relação à cisão do colegiado. “Mas ainda quero ver o que a ata [da reunião] irá trazer. É lá que vamos ver como foi construída essa unanimidade, se houve algum argumento contra a decisão e se há alguma sementinha de debate que possa ganhar maior magnitude e criar divergência entre os membros nas próximas reuniões.”

Ocorreram mais fatores que atuam contra um maior afrouxamento da política monetária entre a reunião de agosto e a de setembro do Copom, diz a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. “A maior parte das surpresas [entre as reuniões] foi no sentido de não afrouxar mais a política monetária, a começar pelo cenário internacional”, afirma.

No canário interno, “foi adicionado um parágrafo que trata da condução da política fiscal”. Para Argenta, “essa menção é clara no que concerne à importância dos gastos públicos e a busca por atingir as metas estabelecidas pelo próprio executivo [para a condução da política monetária]”.

Conforme a economista, “foi uma sinalização importante, porque o BC indica que, se não tiver comprometimento da busca pelos resultados, inevitavelmente a taxa de juros será mais elevada”.

Argenta ressalta que, já chegando perto do fim do ano, o governo ainda demostra dificuldades em entregar as metas estabelecidas. “Por conta disso, vemos menos espaço para qualquer tipo de afrouxamento neste ano.”

A CM Capital tem uma estimativa de dois cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom, com a Selic terminando 2023 em 11,75%. No entanto, a casa vê condições em 2024 para que a autoridade possa acelerar o passo da queda. A estimativa da gestora é que a taxa básica alcance 8% até o fim de 2024.

“Temos uma Selic no fim do ciclo um pouco mais baixa do que o mercado está esperando. Nas nossas estimativas, deveremos ter arrefecimento mais forte da inflação em 2024. Haverá uma desinflação mais acentuada dos núcleos, principalmente, dos serviços, o que deve abrir uma margem para queda mais intensa [da Selic] no próximo ano.”

O BC sinalizou no comunicado de decisão de política monetária que vai manter o ritmo de cortes da Selic nas próximas reuniões, afirma o economista-chefe da G5, Luis Otavio Leal. “Foi um comunicado mais hawkish [inclinado a manter uma postura mais cautelosa] do que poderia ser”, diz.

Conforme o economista, “as próprias projeções de inflação do BC tiveram pioras [na comparação com o comunicado anterior] em todos os horizontes [2023, 2024 e 2025], mesmo na margem”. Leal afirma que o cenário desenhado no comunicado mostrou piora entre uma reunião e outra do Copom.

Diante dos fatores elencados pelo BC, o economista da G5 afirma que a chance de a autoridade acelerar o ritmo de cortes parece menor do que a possibidade de desacelerar a redução. “É muito baixa a possibilidade de desacelerar o ritmo de queda da Selic, mas a chance de o BC ter de moderar os cortes é até maior do que acelerar.”

Segundo o especialista, “o comunicado coloca um cenário tanto externo quanto interno preocupante no sentido de política monetária”. Conforme Leal “no exterior, o BC inclui dois fatores de risco que não estavam em agosto: a elevação da taxa de juros de longo prazo nos EUA e a expectativa de crescimento mais fraco na China”.

Além da questão internacional, o Copom chamou a atenção para o fato de que a economia brasileira está mais resiliente do que o BC estava esperando. “Na ata do Copom, acho que a autoridade vai entrar em uma discussão mais aprofundada a respeito do hiato do produto que provavelmente está mais fechado do que o estimado.”

A G5 projeta uma Selic de 11,75% no fim de 2023, com dois cortes de 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões. Para a casa de análise, a Selic deve finalizar o ciclo de queda em 8,5%, mas chegará nesse nível apenas na terceira reunião do Copom de 2025. Para o fim do ano que vem, o especialista enxerga uma taxa básica de 9%.

Com informações do Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico.

 — Foto: GettyImages
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