Câmbio

Campos Neto vê cenário incerto para indicar próximo passo da política monetária | Moedas e Juros


O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira que há muita incerteza no cenário para dar um “guidance”, ou orientação futura, da política monetária. Campos Neto explicou que decidiu expor uma “gradação” de cenários na semana passada para dar mais transparência no que será feito.

Essa gradação foi reforçada por ele hoje, em evento da Legend Investimentos em São Paulo. O primeiro cenário seria o de diminuição de incertezas. “A gente volta para nossa forma de atuação que tinha começado”. O outro cenário é o aumento de incerteza ficar por mais tempo e criar ruídos crescentes. “Aí a gente tem que trabalhar em como vai ser o pace [ritmo], a gente diminuir o pace”.

No terceiro cenário, a incerteza e a volatilidade sobem mais ainda e afetam o balanço de riscos. No outro cenário, “é quando isso chega a um ponto onde muda as variáveis de tal forma que fazem com que a realidade que a gente projetou não seja mais a verdadeira e aí a gente muda o que chama de cenário base”.

  • Veja vídeo do evento com o presidente do BC
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março, a taxa básica de juros foi reduzida de 11,25% ao ano para 10,75% com sinalização de mais um corte de 0,5 ponto percentual apenas para a próxima reunião, marcada para os dias 7 e 8 de maio.

Campos Neto ressaltou que a incerteza sobre a desinflação global está muito maior. Citando o exemplo dos Estados Unidos, o presidente do BC disse que os motivos que se atribuíam para a desinflação naquele país, como aluguéis, imigração ou desinflação na China, não estavam se mostrando “muito verdade”. Ele também mencionou a incerteza sobre guerra entre Israel e o Hamas, destacando que há um grupo que acredita que o conflito pode arrefecer e outro achando que pode escalar novamente.

Segundo o presidente do BC, há ainda outros temas relevantes no Brasil e globalmente, como o quadro fiscal. Campos Neto ressaltou que a dívida dos países cresceu durante a pandemia, com os gastos para combater a crise, e o mundo deve “entrar em um período em que vamos ter as consequências”. Ele mencionou ainda que a sustentabilidade da dívida ficará mais no foco e relatou que, nas reuniões no Fundo Monetário Internacional (FMI) da semana passada em Washington, das quais participou, o tema teve destaque. “Nesse sentido, no Brasil passa a ser mais importante porque as pessoas vão começar a falar mais desse assunto”.

Campos Neto ainda comentou sobre o comportamento dos mercados. O presidente do Banco Central relatou que ouviu em Washington que o mercado está bem e concordou, mas afirmou que os investidores hoje têm uma percepção de que, a qualquer problema, “os governos vão vir e resgatar os mercados”, e ressaltou que a questão é que os resgates são feitos com dívida e há cada vez menos espaço para isso no cenário global.

O chefe da autoridade monetária também voltou a falar sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) 65/23, que prevê autonomia financeira do órgão. Campos Neto disse acreditar que vai chegar um momento de maturidade para a aprovar a proposta. “Eu acho que tem ambiente para aprovar, sim”, afirmou. Segundo Campos Neto, é difícil inovar sem autonomia financeira e administrativa.

De acordo com o presidente do BC, a proposta seria de modernização. Ele disse que ainda é necessário esclarecer alguns pontos do projeto ao governo e que sente uma “boa vontade” no Senado para aprovação.

Em outra frente, afirmou que o BC sofre com um problema de cortes de investimento. “A gente chega em um risco de alguma hora falar assim: como a gente vai conseguir rodar o Pix?”.



Valorinveste

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo