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Banco Central não deve se ‘emocionar muito’ com flutuações de curto prazo, diz Galípolo | Brasil e Política


O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que, de fato, o nível de correlação da curva de juros do Brasil com a dos Estados Unidos cresceu muito. Ele acrescentou, no entanto, que a autoridade monetária deve agir com calma e não “se emocionar”.

“Quando a gente escreve ‘parcimônia’ significa que nem sempre devemos nos emocionar muito com flutuações de curto prazo”, evento promovido pela Upload Ventures, em São Paulo.

Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo — Foto: Pedro França/Agência Senado
Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo — Foto: Pedro França/Agência Senado

De acordo com ele, talvez o mais adequado seja dar tempo para ver como essas oscilações se refletem naquilo que é o mandato do BC, que é meta de inflação. “É importante ter calma e não se emocionar, ainda que o risco seja ficar um pouco atrasado nesse processo de reação.”

Galípolo ressaltou que o papel da autoridade monetária não é discutir a meta de inflação, mas persegui-la. O diretor do BC disse ter até uma posição mais “radical” de que a autoridade monetária não deveria ter voto na discussão da meta no Conselho Monetário Nacional (CMN).

O diretor afirmou que, desde que assumiu a posição no BC, tem visto o ceticismo do mercado com o cumprimento da meta “ir e voltar”. “Para a gente esse é um não tema, recebemos um mandato e temos que perseguir a meta”, disse.

“Sou até mais radical e acho que o BC nem deveria, no CMN, votar na meta de inflação”, disse Galípolo, reforçando que ela deve ser definida pelo poder democraticamente eleito. “A discussão no Copom não passa por se a meta está alta ou baixa, temos que nos preocupar com persegui-la.”

Galípolo reforçou que, apesar da reprecificação de ativos mais recente, com o fortalecimento do dólar, o Brasil tem vantagens comparativas e capacidade de atrair investimento.

Ele apontou que países que estavam adiantados no processo de aperto monetário “estão sofrendo um pouquinho na defasagem do ponto de vista da economia norte-americana”, ou seja, com a postergação dos cortes de juros nos EUA. “Mas ainda acho que do ponto de vista estrutural o Brasil reúne vantagens para se apresentar como um polo de investimentos, ter ganhos de produtividade.”

Para ele, a demanda das famílias deve permanecer resiliente, puxada por fatores como a inflação em queda, programas de transferência e reajuste de salário mínimo.

Em um momento de tensão geopolítica global, o país também tem situação “bastante privilegiada em comparação a outros países”, afirmou. “O Brasil tem tamanho de mercado, demanda aquecida, com ciclo de política monetária que parece bastante saudável”, disse o diretor, citando também vantagens em termos de balança comercial e energia limpa.

“O desafio é como fazer com que tenhamos crescimento mais harmônico entre oferta e demanda”, afirmou. “Deveríamos estar focando hoje, em termos de desenvolvimento, em investimento, em como aumentar investimento privados nos setores corretos.”

Foi a primeira fala de Galípolo após a mudança da meta fiscal para 2025 e dos comentários do presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre uma possível alteração no cenário-base da autoridade monetária devido a incertezas locais e externas.

Na semana passada, Campos Neto traçou quatro caminhos possíveis para a política monetária no país. Na avaliação dos agentes de mercado, o dirigente buscou se desfazer da orientação de política monetária indicada no comunicado da última decisão do Copom, de que o comitê via como apropriado mais um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic.

Na última reunião do colegiado, em março, a taxa básica de juros foi reduzida de 11,25% ao ano para 10,75% com sinalização de mais um corte de 0,5 ponto percentual apenas para a próxima reunião, marcada para os dias 7 e 8 de maio.

Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.



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