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No ranking das ações mais negociadas da bolsa: nenhuma surpresa, mas algumas novidades | Bolsas e índices


As ações mais líquidas da bolsa brasileira em abril surpreendem um total de zero pessoas, com Vale, Banco do Brasil e Petrobras, nesta ordem, no pódio. Mas a lista revela mais informações do que pode parecer numa leitura superficial.

O retrato das negociações na B3, especialmente da quarta posição do ranking para baixo, pode ajudar investidores a medir o cenário para os papéis e calibrar suas estratégias – e expectativas – para os próximos ciclos deste ano.

O ranking consolidado com dados da plataforma Status Invest, compartilhado em primeira mão com o Valor Investe, parte do monitoramento de mais de R$ 2 bilhões de operações no mês de abril, que corresponderam a 9,7 milhões de transações de pessoas físicas. Deste montante, R$ 1 bilhão foi movimentado apenas nas negociações de ações.

Ranking de ações mais negociadas em abril — Foto: Reprodução
Ranking de ações mais negociadas em abril — Foto: Reprodução

“Entre as principais sinalizações, o ranking revela o pessimismo que vem rondando Vale. Investidores estrangeiros têm representado uma força vendedora bem relevante no papel, por isso os pesos dessa equação estão se alterando. Enquanto o investidor doméstico está aumentando as alocações na mineradora, gringos estão reduzindo ou liquidando suas posições”, diz João Daronco, analista da Suno Research.

Mas o capital está nas mãos deles. Estrangeiros representam em torno de 55% da força de negociação da nossa bolsa e têm mais ou menos a mesma fatia do capital social da mineradora. Por isso, um sopro deles pode virar um tufão para a ação.

Não à toa, mesmo num cenário gradualmente mais otimista para Vale, seu papel ainda acumula perdas de 12,4% no ano até o dia 9 de maio.

Para os gringos, o cenário macroeconômico é como uma pedra amarrada aos seus pés. Juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos impedem que esses investidores se aventurem em mercados mais arriscados como o Brasil.

“Mas não é como se estivéssemos vendo uma força vendedora de Vale maior em abril, na verdade esse fluxo tem sido bem constante”, conta o analista da Suno.

E aí entra o segundo ponto contra Vale: a desaceleração do crescimento da economia chinesa. É antecipada uma queda global de demanda por aço, agravada pelas quebras no setor de construção e incorporação da China, o que pode reduzir as compras de minério de ferro.

Daronco explica que o estímulo à compra de Vale entre os investidores brasileiros em abril esteve relacionado à queda da ponta curta dos futuros de juros (DI), isto é, à expectativa de que as taxas de juros num curto prazo estejam mais baixas do que se esperava antes. Essa revisão aumentou o apetite por risco por aqui.

Há ainda uma assimetria entre o valor de mercado da empresa e a tendência de valorização do minério de ferro no longo prazo. Por isso, os preços das ações tendem a se corrigir”, conta o analista da Suno Research.

No UBS, a visão é de que a relação risco-retorno para as ações da Vale é positiva, por isso a casa promoveu a recomendação para a mineradora de neutra para compra e elevou o preço-alvo do recibo de ações negociados no exterior (ADRs) de US$ 13 para US$ 15.

“Embora continuemos preocupados com os fundamentos do minério de ferro no médio prazo e vejamos desvantagens no preço à vista, acreditamos que o risco-retorno para a Vale melhorou com forte desempenho operacional em abril e algumas das principais preocupações ESG definidas”, apontam analistas do UBS em relatório.

Em maio, Vale segue na liderança da Carteira Valor com indicação de compra por sete corretoras. É o papel favorito entre os especialistas e casas ouvidos para a composição do portfólio de ações.

Petrobras e Banco do Brasil

Em abril, a Petrobras foi combalida pelos desdobramentos da sua novela sobre a distribuição ou retenção do valor integral dos seus dividendos extraordinários. Com a disputa iniciada ainda em março, o último mês foi de recuperação gradual para o papel, enquanto o governo sinalizava ceder da sua posição inicial de segurar os quase R$ 44 bilhões.

Mesmo assim, os rumores corporativo-político da disputa pelo comando da estatal foram como “solavancos” aos fluxos intensos de entrada ou saída do papel. A petroleira garantiu sua posição entre as ações mais negociadas da bolsa, o que não é nenhuma surpresa, mas num contexto mais negativo.

E o pessimismo na Petrobras puxou junto Banco do Brasil para o topo desse ranking das ações mais negociadas da nossa bolsa em abril. Questões sobre o intervencionismo do governo nas estatais respingaram no bancão.

“São gatilhos de curto prazo que movimentam esses papéis quando olhamos para esses recortes mensais. Rumores e notícias podem afetar os fluxos, e foi exatamente isso que aconteceu com o Banco do Brasil”, acrescenta Daronco.

Mas a elevação da percepção de risco em Petrobras também se refletiu na parte de baixo do ranking. Para esses papéis, de forma positiva.

Coadjuvantes mas não menos importantes

Cosan, Engie e Prio são papéis que têm se tornado mais líquidos na bolsa. A petroleira privada tem sido beneficiada nos últimos meses pela valorização do barril de petróleo Brent (referência global para negociação da commodity), o que, em tese, favoreceria todo o setor.

Mas aí entra a segunda e mais importante razão para investidores procurarem o papel: a Prio se tornou um “plano B” à Petrobras desde que os riscos de intervenção do governo na gestão da estatal se tornaram mais palpáveis.

Por serem empresas de capital 100% privado, Prio e até 3R Petroleum se beneficiam de um ambiente mais otimista para o setor sem incorrer nas incertezas que a Petrobras oferece atualmente a seus investidores.

O analista da Suno aventa que o mesmo afeta Cosan, uma ação que vem sendo mais negociada nos últimos meses por ter se tornado “rota de escape” para investidores que querem se expor de alguma forma ao setor de energia, mas sem se arriscar nas teses das petroleiras.

a Engie tem sido o destino daqueles investidores que fugiram da Taesa, avalia Daronco. No último mês, analistas levantaram a hipótese de que a companhia elétrica mais querida por investidores (a Taesa) talvez não mantivesse o pique de pagamento de dividendos neste ano, o que apagaria o seu “brilho” no mercado.

Daronco explica que, da quinta posição do ranking para baixo, a rotatividade dos papéis é alta porque os fluxos de compra ou venda das ações são impactados no curto prazo por perspectivas para os negócios, cenários bastante voláteis e sensíveis ao noticiário.

“Mas é fato que um grupo maior de papéis está se consolidando entre os mais negociados da nossa bolsa, e inclusive alguns que viraram presença recorrente nesses rankings, casos de Prio, Cosan e Engie”, conclui.

ranking — Foto: Getty Images
ranking — Foto: Getty Images



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