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À sombra de Gaza, Ibovespa cai 1,6%. Saiu barato, graças à Petrobras | Bolsas e índices


Não teve como a guerra passar batida outra vez pelos ativos. O efeito dominó gerado pela morte de 500 palestinos num hospital bombardeado em Gaza, na noite passada, serviu de estopim para a aversão ao risco vista nesta quarta-feira (18).

Num momento em que o mercado voltou a temer nova alta de juros nos Estados Unidos, os possíveis desdobramentos do conflito no Oriente Médio elevaram ainda mais a exigência de prêmios na hora de investir. A ponto de os títulos americanos de 10 anos renovarem seus maiores rendimentos em 16 anos, dos quais vinham perdendo teto até a semana passada. Os papéis de dois anos foram às máximas dos últimos 17 anos.

A atratividade das bolsas do mundo, portanto, foi drenada.

  • E o principal índice brasileiro, o Ibovespa, caiu 1,60%, a 114.060 pontos. O saldo parcial da semana está negativo em 1,52%. O de outubro, em 2,21%. No ano, alta acumulada até aqui de 3,88%.

  • A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 23 bilhões, 21% acima da média diária dos últimos 12 meses.

  • Das 86 ações, 72 caíram.

Ao mesmo tempo em que o cenário geopolítico foi responsável pela queda do Ibovespa, ajudou a amortecer o tombo.

Neste dia de aversão, portanto, as ações da companhia foram daqueles que menos pareceram oferecer risco. E com mais de 12% de participação no Ibovespa, amorteceram o impacto das demais baixas no índice. Seus papéis ordinários (ON, com direito a voto em assembleias) tiveram alta de 2,34%. Preferenciais (PN, com preferência por dividendos), 2,26%. Resultado bem diferente da queda de 7,18% das ações da Gol; e de 4,37% da Azul. O querosene de aviação, afinal, responde por mais ou menos um terço do custo de operação de companhias aéreas.

  • O preço do dólar, atraído de volta pelo Tesouro americano, subiu 0,37%, a R$ 5,05. Na semana, tem queda de 0,68%. Em outubro, alta de 0,54%. Em 2023, desconto acumulado de 4,25%.

Israel tenta provar por A + B que não teve nada a ver com o massacre no hospital em Gaza. Mas, seja lá qual for a autoria, o estrago foi feito. E fez preço no mercado.

Como efeito, o presidente americano, Joe Biden, foi barrado no baile no encontro que estava marcado com países árabes. Em Israel, reforçou apoio incondicional à resposta militar de Israel ao ataque do Hamas de dias atrás. Enquanto isso, no Líbano, civis insuflados por terroristas do Hezbollah atacavam a embaixada dos Estados Unidos. Que, por sinal, vetaram a proposta de cessar-fogo redigida pelo Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Já o Irã, aliado número zero do Hamas e inimigo histórico americano, tocou na ferida aberta aos olhos do mercado. Convocou a comunidade de países muçulmanos a interromper imediatamente embarques de petróleo para Israel. Pode ter sido apenas um primeiro passo na direção de um aperto ainda maior da oferta global. Nada menos que 60% da produção de petróleo está no Oriente Médio. E os preços dos combustíveis no mundo podem escalar na mesma medida que o conflito.

As atenções de investidores, ao fim e ao cabo, seguem essencialmente dedicadas ao rumo dos juros nos Estados Unidos e restante do mundo. E, de acordo com a média dos economistas, nada deve mudar caso os preços do petróleo sigam rodando os US$ 90 por barril. Nesta quarta, no entanto, já começaram a se descolar desse nível. A ver o que virá daqui até 1º de novembro. Em duas semanas, os bancos centrais americano e brasileiro têm reunião de política monetária marcada.

Na direção contrária dos Estados Unidos, no entanto, a curva de juros futuros no Brasil fechou o dia em queda de ponta a ponta.

Chegou a apontar bem para cima nas primeiras horas, alinhada à Nova York, mas esfriou parcialmente conforme o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falava ao público. Ao que parece, está garantida por ora a queda de meio em meio ponta da Selic. A ver até que ponto, claro.

Contra os 9% ao ano previstos pela maior parte dos analistas, investidores embutiam à curva de juros a perspectiva de queda dos juros básicos dos atuais 12,75% aos 11% cravados:

  • Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 11,07% a 11,09%;
  • Já para janeiro de 2033, chegaram a subir de 11,85% a 11,92%, para depois caírem a 11,80%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).

Gaza — Foto: GettyImages
Gaza — Foto: GettyImages



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