À espera de Powell, Ibovespa cai em mais um dia de gangorra com juros | Bolsas e índices

• O Ibovespa, principal referência da bolsa nacional, caiu 0,82%, a 112.830 pontos. O saldo da semana está negativo em 0,29%. Em outubro, queda de 3,20%. Em 2023, ganhos acumulados de 2,82%.

• A carteira teórica mais famosa do país girou R$ 15 bilhões, 20% abaixo da média diária dos últimos 12 meses.

• De suas 86 ações, 70 caíram.

• Convidado pela renda fixa americana em alta a sair do Brasil, o dólar fechou o dia 0,17% mais caro, a R$ 5 cravados. Na semana, queda acumulada de 0,58%. No mês, de 0,51%. A queda no ano está em 5,25%.

Investidores parecem ter se antecipado à possível nova ducha de água fria do presidente do banco central americano (Federal Reserve, o Fed), Jerome Powell.

O banqueiro dos banqueiros tinha discurso marcado para pouco depois do fechamento. A fala ganha importância adicional por ser uma das últimas oportunidades de ouvir Powell antes da decisão de juros a ser tomada nos Estados Unidos na semana que vem. Como todas as últimas, a próxima reunião do Fed é aguardada como a mais importante em muitos anos.

Em seu pronunciamento mais recente, Powell deu uma desanimada na turma. Fez um contraponto à narrativa plantada no mercado por seus colegas de Fed.

Esses dirigentes sinalizavam que uma nova alta de juros, conforme sinalizada por eles mesmos semanas antes, poderia ser evitada, justamente, ao rali dos rendimentos dos títulos americanos que tem feito sangrar os ativos globais quanto mais arriscados eles sejam.

Esse rali reflete a trajetória explosiva da dívida pública americana. Investidores passaram a exigir maiores prêmios para emprestar dinheiro à Casa Branca. Dessa forma, o encarecimento do crédito nos Estados Unidos já acontece sem nem mesmo o Fed praticar a última alta de juros sinalizada em setembro.

Mas isso não conforta Powell. De acordo com seu último discurso, mais uma alta de juros poderia, sim, ser inescapável. Mesmo com linhas de financiamento mais apertadas, afinal, a economia americana continua dando mostras de resistência. E, da mesma forma, a quentura dos preços.

A ver, portanto, que escolha será feita pelo Fed diante da bifurcação à frente: ou (1) sobe juros mais uma vez, jogando contra a economia para levar a inflação mais rapidamente ao prumo; ou (2) topa uma inflação desconfortável por ainda mais tempo, mantendo juros parados, na ânsia de confirmar o cenário de “pouso suave” sonhado pelos analistas à maior das economias.

O risco desse segundo caminho, aparentemente menos dolorido, é o de a própria inflação em níveis desconfortáveis se encarregar de enfraquecer a economia. Em caso de estagflação, ainda mais juros do que aqueles que forem evitados podem ser necessários para colocar o diabo inflacionário dentro da garrafa. E, aí sim, o estrago na economia real pode ser grande.

Enfim, à espera de Powell, investidores parecem ter se lembrado do que ele disse da última vez que deu as caras. De acordo ele, ainda que os rendimentos dos títulos americanos de longo prazo subam, o risco fiscal que os sustenta pode ser irrelevante para as decisões de curto prazo do Fed.

Colocando a maior parte das ações brasileiras na parte de baixo da gangorra, subiram também as taxas embutidas à curva de juros nacional. Por aqui, seguem os investidores mais pessimistas que os economistas. Enquanto o outro lado do balcão prevê a Selic caindo dos atuais 12,75% ao ano aos 9% até o começo do ano que vem, negociantes miram 10,75%:

• Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 andaram de lado pelos 10,93%;
• Já para janeiro de 2033, de 11,68% a 11,74%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).