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Renda fixa pós-fixada garante trimestre de bons retornos | Hora de Investir

A renda fixa pós-fixada ligada à Selic ou ao CDI, o crédito privado e classes consideradas de proteção lideraram a corrida das aplicações financeiras tradicionais no primeiro trimestre. O corte de juros feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) até aqui foi insuficiente para impulsionar as ações e o Ibovespa acumulava desvalorização de 4,84% até o dia 27. Títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA ou NTN-B) com prazo acima de cinco anos recuavam 1,43%, na média do IMA-B 5+ subindo 1,97%, mas abaixo do CDI, de 2,62% no período.

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Foi a revisão da rota monetária americana que provocou uma reavaliação geral de preços, a começar pelos mercados de juros, atrapalhando o fluxo de capital para investimentos em carteira em emergentes. Caiu por terra a perspectiva de que as taxas nos Estados Unidos começariam a ser reduzidas em março. Agora, a aposta é que o ajuste só será iniciado no segundo semestre.

O dólar subia 2,60% em relação ao real, e o ouro ganhava 16,9%. A diversificação internacional também deu frutos, com o índice S&P 500, em Nova York, com alta de 10,04%. Correndo por fora, o bitcoin subia 65%.

No universo do crédito privado, o índice de debêntures da Anbima (IDA) tinha valorização de 3,57% no ano até o dia 26, com a maior alta do indicador que representa uma cesta de papéis atrelados ao CDI, com 3,7%, enquanto o de ativos de infraestrutura ligados ao IPCA ganhava 3,42%.

Embora estratégias ligadas a juros reais (descontando a inflação) e bolsa no Brasil tenham frustrado os investidores no primeiro trimestre, vale permanecer nesse jogo, segundo Rafael Bisinha, especialista em mercados locais do Citi Private Bank. Ele também vê boas perspectivas para a renda variável e para títulos de dívida nos Estados Unidos.

Com o avanço do ciclo de corte de juros no Brasil — que já trouxe a taxa básica de 13,75% para 10,75% desde agosto — e chances de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a afrouxar a política monetária, alguns bolsões de liquidez tendem a migrar para ativos de risco.

“O Banco Central já está em processo de queda de juros, a discussão toda é qual será o ponto final e a velocidade daqui em diante”, diz Bisinha, referindo-se ao discurso do Comitê de Política Monetária (Copom) que mudou sensivelmente na última reunião, não se comprometendo com cortes adicionais de meio ponto percentual por mais de um encontro, como vinha fazendo antes.

Há uma probabilidade grande de [a Selic] romper os 10% de fato, por mais dura que tenha sido a comunicação [do Copom]. Não se sabe se vai ser 9% ou 9,5%, mas é abaixo de 10% para 2024 e 2025”, diz Bisinha. No fim dia, isso vai destravar um volume relevante de recursos estacionado em instrumentos líquidos, vai estimular o comprador marginal, aquele que sumiu, no bojo da queda dos juros e do ambiente externo com algum apetite para risco.”

Tal trajetória vem casada com a limitação imposta pelo Conselho Monatério Nacional (CMN) para emissão de títulos de dívida isentos (CRI, CRA), e alongamento dos papéis bancários (LCI, LCA e LIG), rareando o lastro das incentivadas, continua o especialista do Citi. “Boa parte do investidor pessoa física só vendeu fundos de ações e multimercados e esse cara precisa ver a Selic a 10%, 9,5% para tomar a decisão de mudar, ele vai ver o prêmio da debênture incentivada diminuindo em relação à NTN-B e migra mais para o ativo de risco.

O próprio risco/retorno do Tesouro IPCA voltou a ser “excepcional”, com taxas acima de 5,5% a 5,7% ao ano, mais IPCA. “Acho que tem desarbitragem com o juro real, ele não pode ficar onde está e quando começar a cair, a bolsa também anda.”

Em dívida privada, Bisinha diz que os spreads (diferença de taxa entre o custo de captação e o empréstimo) já fecharam bastante e lembra que esse tipo de escolha tem que ser nos instrumentos e tamanhos corretos. “Houve eventos de crédito num passado recente, isso deveria servir de aprendizado”, diz. “Tem que ser absolutamente cauteloso com o objetivo de participar do jogo. Não achar que vai fazer as tacadas mais espetaculares, não concentrar, ser diligente e garantir o ganho acima do custo de oportunidade, com os juros compostos fazendo o resto do milagre.”

O executivo do Citi diz seguir construtivo com a renda variável lá fora, sob a crença de que os EUA vão conseguir evitar uma recessão. “A economia segue relativamente saudável e o pior momento para a lucratividade das empresas ficou para trás”, diz. “O frenesi com inteligência artificial (IA) tem fôlego, mas deve ter um espraiamento dessa bonança para outras empresas, não só as ‘sete magníficas’ [as grandes de tecnologia], mas casos relacionados. Há várias empresas nessa cadeia com crescimento consistente de resultados, pagamento de dividendos e que estão descontadas porque a liquidez do mundo foi drenada para a IA.”

O primeiro trimestre foi particularmente difícil para a gestão profissional, mas a pessoa física tem uma grande oportunidade nas mãos de garantir juros reais (descontando a inflação) elevados por muito tempo, diz Mario Schalch, sócio-gestor da Neo Investimentos.

Com os papéis de Tesouro IPCA mais longos, de dez anos para frente, pagando quase 6% ao ano, ele acha que dificilmente o investidor vai encontrar outro momento tão favorável. “Países como o Brasil não têm como pagar efetivamente taxas de juros tão altas por tanto tempo. Eu vejo uma combinação entre investimento seguro, repleto de salvaguardas, com perspectiva de carregamento e retorno interessantes”, diz Schalch.

Na bolsa, o gestor diz privilegiar no seu multimercado nomes ligados ao mercado interno, como Natura, Fleury e Localiza. Já as tentativas de ingerência política em companhias como Petrobras e Vale, gigantes do Ibovespa, não devem se dissipar tão cedo, nem gerar oportunidades de grandes retornos no curto prazo.

Ele avalia que, além dos ruídos locais, o cenário externo também não contribui para trazer capital estrangeiro para o Brasil porque os assuntos quentes estão concentrados nos Estados Unidos. “As bolsas emergentes como um todo para o estrangeiro não têm trazido histórias muito diferentes. O custo de capital está alto lá fora, precisaria haver histórias de apelo aqui para atrair esses investidores.”

Se o passado recente não foi particularmente emocionante, o futuro reserva “as mesmas perguntas importantes e dificílimas de se prever, no Brasil e nos Estados Unidos”, diz Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercados da Rio Bravo Investimentos. “O tempo vai dizer, mas o Brasil depende dos EUA. A brincadeira no mercado é que ninguém está mais preocupado com a inflação americana do que o Banco Central brasileiro.”

É dessa equação que o Copom vem dosando o seu passo, a fim de não alargar demais o diferencial de juros locais e externos, sob o risco de provocar uma desvalorização cambial indesejada, que poderia bater na inflação. O gestor diz que dentro da Rio Bravo a avaliação é de que ainda há espaço para o BC cortar a Selic ao ritmo de meio ponto percentual, com a taxa em 9,25% ao ano ao fim do ajuste.

Num cenário de atividade de estável para boa, Buccini diz gostar de ativos de crédito para aproveitar o ciclo monetário. “Os juros caindo ajudam na desalavancagem (diminuição do endividamento) das empresas, que aproveitam os ‘spreads’ mais baixos para emitir dívida mais barata”, afirma. O gestor cita que os prêmios ficaram mais magros para emissões de companhias com classificação “AAA” [de alta qualidade], mas que no universo “AA” e “A” há retornos para se capturar. “Há uma história de crédito boa para surfar.” Em títulos públicos, o Tesouro IPCA voltou a ter prêmio, mas nos prefixados (leia-se Tesouro Prefixado), ele diz não ver muito jogo.

Entre os fundos de investimentos, a classe renda fixa liderava em captação no ano, com R$ 147,8 bilhões até o dia 22, segundo a Anbima, com o retorno médio chegando a 2,6% em carteiras com crédito livre. Multimercados, com resgates de quase R$ 26 bilhões, e ações (resgates de R$ 2,3 bilhões) ainda sofriam.

Para Lucas Stefanini, diretor de distribuição e comercial do Fator, os fundos de renda fixa seguirão como o principal cavalo ao longo de 2024. Aqueles com liquidez diária têm acomodado o dinheiro de caixa, que saiu dos fundos fechados exclusivos ou reservados, que passaram a ter imposto de renda semestral neste ano similar ao que já se pagava nos veículos abertos ao público geral (renda fixa, multimercados e cambiais).

os portfólios de crédito têm exibido uma boa recuperação, depois de um 2023 em que muitos fundos saíram machucados de eventos como Americanas e Light e com o aumento dos prêmios no secundário de maneira geral. “Nos próximos meses, o crédito privado deve continuar nessa toada, principalmente aqueles gestores que conseguiram fazer boas alocações. Quem conseguiu taxas boas agora mostra retorno de até 300% do CDI”, diz Stefanini.

O executivo do Fator vê um ano potencialmente favorável para os fundos imobiliários, com a retomada da captação de veículos de “tijolo”, ligados aos setores de logística, shopping centers e renda urbana. Já os “de papel”, com crédito, ainda estão sendo negociados abaixo do seu valor patrimonial. No ano, o Ifix tinha valorização de 2,54% na B3.

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