Nubank (ROXO34) x Itaú (ITUB4): em qual banco vale a pena investir agora? | Empresas
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Embora pertençam ao mesmo setor, as ações de Nubank e Itaú não são comparáveis, segundo os especialistas ouvidos pelo Valor Investe. Esta conclusão parte de um princípio básico: as teses de investimentos para os dois bancos são diferentes.
Isto é, se o investidor precisa optar por um ou outro, deve levar em conta seus objetivos e entender as estratégias para cada papel. É como ter de escolher entre pedir um prato de massa ou um copo de suco. Não são opções mutuamente excludentes, mas atendem a desejos distintos.
“Apesar de pertencerem ao segmento bancário, as ações de Nubank e Itaú são investimentos de naturezas diferentes. Montar posição no papel do Nubank faz sentido dentro de uma estratégia de growth investing [ações de empresas ainda com crescimento acelerado]. Inclusive, em função desse acelerado crescimento, o banco digital negocia a múltiplos bastante elevados. Por outro lado, o Itaú é uma tese de value investing e negocia a múltiplos abaixo da sua média histórica”, explica Milton Rabelo, analista da VG Research.
O growth investing (investimento em crescimento, numa tradução livre) é a estratégia focada em empresas com potencial de crescimento, bem acima da média do mercado. Não apenas startups fazem parte desse grupo, mas todas as companhias que têm um modelo de negócio com algo de inovador, o que permite entender que o caminho para elas avançarem é mais “desobstruído”, porque atende a uma demanda pouco explorada.
Assim, o mercado está disposto a pagar hoje por esta empresa o que acredita que ela pode valer no futuro.
Já o value investing (investimento em valor) é quase o oposto: está focado no valor presente. A ideia é encontrar ações valiosas na bolsa que estão com preços descontados, seja em relação aos seus pares, à média histórica ou à quanto a empresa vale considerados seus ativos.
É a filosofia consagrada por Warren Buffett, que defende a análise fundamentalista para sustentar investimentos de longo prazo. No correr dos anos, os ganhos podem vir de dividendos e da correção de valor do papel até o seu preço-justo.
Por isso, a decisão de investir na ação do Nubank ou na do Itaú depende do objetivo do investidor. Mas as estratégias podem ser combinadas, uma vez que esses papéis vão se comportar de formas bem distintas.
Mesmo assim, o mercado tem seu favorito.
A maior parte das casas de análises prefere o Itaú, escolha, por exemplo, da XP e da Empiricus Research entre as ações do setor bancário. E o cenário macroeconômico é em parte culpado por isso. Em um ambiente de incertezas e juros elevados – portanto, menos afeito ao risco – as empresas de crescimento têm mais dificuldades de alcançar as projeções para o negócio.
Primeiro porque crescer exige investimentos. Com juros altos, o custo do capital é maior, o que sacrifica não apenas a demanda de mercado como a capacidade das empresas de sustentar sua expansão.
Mesmo sendo enxergada pelo mercado como empresa de crescimento, a ação do Nubank negociada na Bolsa de Nova York (NYSE) valorizou 40,6% do começo do ano até dia 29 de maio. Isso em dólar, moeda em que é negociada. Se considerada a flutuação do câmbio nesse período, acrescenta-se a esta conta os mais de 6% de valorização da divisa americana (pela Ptax).
Mas por que o banco digital vive um momento tão positivo na bolsa se o mercado está ruim?
“Mesmo que o Nubank não tenha um lucro tão alto quanto o de bancos tradicionais, está batendo todas as suas projeções financeiras e de negócio de forma consistente. O banco prometeu crescimento de receita, que depois se transformaria em lucro. Já entregou tudo isso [a empresa reportou lucro de US$ 1 bilhão em 2023 e de US$ 379 milhões no primeiro trimestre de 2024]. Por isso, há um estado de euforia em torno dele”, avalia Thiago Guedes, analista e diretor de negócios da plataforma Bridgewise.
Guedes aponta que o Nubank tem chamado muita atenção recentemente pelo crescimento expressivo da receita. Bateu 81,2% no último trimestre, enquanto Itaú aumentou a receita em 13,95% entre janeiro e março deste ano, conforme os dados da plataforma Bridgewise.
“Ainda que [13,95% de crescimento da receita] seja um número fantástico para um banco no estágio do Itaú, em comparação com o Nubank, o salto parece pequeno”, acrescenta o analista.
Da perspectiva de rentabilidade, que aponta a capacidade da empresa em agregar valor a ela mesma com recursos próprios, o retorno sobre o patrimônio (ROE, na sigla em inglês) anualizado do Nubank alcançou 23%. A média do ROE dos grandes bancos brasileiros está em 13,88%, mas a rentabilidade anualizada do Itaú foi superior, de 21,9% no último período.
Performance dos bancos brasileiros no 1º trimestre de 2024
Empresa | Ticker | Valor de mercado* | Lucro | Crescimento do lucro na base anual |
Nubank | NU: NYSE | US$ 379 milhões (~R$ 1,9 bi) | 167% (abaixo das expectativas) | |
Itaú | ITUB4 | R$ 9,8 bilhões | 15,8% (levemente acima das estimativas) | |
Banco do Brasil | BBAS3 | R$ 9,3 bilhões | 8,8% (acima das expectativas) | |
Bradesco | BBDC4 | R$ 4,2 bilhões | -1,6% (acima das expectativas) | |
BTG Pactual | BPAC11 | R$ 2,9 bilhões | 27,7% (em linha com expectativas) | |
Santander BR | SANB11 | R$ 3 bilhões | 41,2% (acima das expectativas) |
Neste ponto, Rabelo, da VG Research, faz uma ressalva: o Nubank opera com licença de instituição de pagamentos e de financeira, modelos que exigem menos capital que um banco múltiplo, caso do Itaú.
Ainda assim, os números são atraentes, como comprovado pela performance da ação do Nubank neste ano.
Por que, então, a maioria dos analistas prefere o Itaú?
Em favor do Itaú, pesam a estabilidade dos seus resultados operacionais e das ações. Mas o principal é que o Itaú é uma empresa que paga dividendos robustos, sem incorrer nos riscos de ingerência política que existem, por exemplo, na Petrobras (a maior pagadora de dividendos da bolsa brasileira) e no Banco do Brasil e torcem os narizes de acionistas. Por isso, o banco privado ganhas espaço nas carteiras de dividendos.
Por outro lado, em detrimento da tese de investimento para o Nubank, há dois motivos principais: preço e risco.
“Embora concordemos que a tese de crescimento e de alavancagem operacional do Nubank tenha se provado, o banco negocia a múltiplos bastante elevados quando comparamos com outros bancos. Já para o Itaú, vemos o banco negociando em linha com os seus pares, mas com algum desconto em relação à média histórica”, apontam os analistas da XP liderados por Bernardo Guttmann.
A margem de lucro por ação do Nubank é de 0,27%, enquanto a média no setor bancário do Brasil é de 2,17%, segundo os dados da Bridgewise. No Itaú, a margem de lucro por ação é 3,63%, segunda maior do mercado, atrás de Banco do Brasil (5,67%).
“Os resultados do Nubank tendem a ser mais voláteis que os resultados de bancos incumbentes de boa execução, como o Itaú”, pondera Rabelo.
Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, lembra que, apesar de o Nubank valer mais atualmente, a tese de investimento para o banco digital é mais arriscada. “Se, eventualmente, o banco reportar um trimestre ruim, com alguma métrica abaixo do que o mercado estava esperando, a penalização sobre as sua ações será muito forte – numa proporção que dificilmente aconteceria com as ações do Itaú.”
Para ele, a incomparabilidade entre as duas teses de investimentos também dificulta as projeções de quem vai ficar com o título de “banco mais valioso da América Latina”.
“Se realmente Nubank já está no seu valor justo ou se ainda pode multiplicar muitas vezes acima do Itaú, isso vai depender muito do que ele apresentar nos próximos anos”, acrescenta.
Para os analistas da XP, a maior parte do valor do Nubank no horizonte previsível já está embutida no valor do papel hoje. “Vale lembrar que no IPO do Nubank, ao final de 2021, a capitalização do banco também estava próxima à do Itaú, mas suas ações se desvalorizaram nos anos que se seguiram e só agora, dois anos e meio depois, os preços voltaram para o patamar próximo ao IPO”, indicam no relatório.
“Há euforia em torno do Nubank, e esse movimento de manada do mercado tende a influenciar outros investidores e se fortalecer. Mas meu conselho é: nunca descarte das suas opções de investimentos na bolsa as ações dos grandes bancos brasileiros”, adverte Guedes, da Bridgewise.