
Franquias: saiba como se planejar antes de empreender no franchising | Franquias
Não basta ser franquia para o negócio ser bom, seguro e rentável. No ano passado, 11.601 unidades fecharam suas portas, segundo dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising). Contar com o know-how e o suporte operacional de uma boa marca faz diferença. “Mas não elimina a necessidade de o candidato a franqueado ter absoluto controle do aspecto financeiro do negócio”, diz Marcelo Cherto, CEO da Cherto Consultoria.
“A principal causa de mortalidade de novas unidades é de franqueados que não se preocuparam em fazer contas”, afirma Julio Monteiro, vice-presidente da ABF-RJ. Por isso, antes de investir todas as suas economias na abertura ou na expansão de uma franquia, prepare-se para esmiuçar números, analisar o desempenho do setor e fazer suas próprias pesquisas, ensina Cherto. Ele lembra: “Tão importante quanto traçar o plano de voo é saber desviar de tempestades”.
“Como qualquer negócio, uma franquia precisa ter uma gestão financeira muito apurada”, diz Inge Ommundsen, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo).
A Lei de Franquias estabelece que, na COF (Circular de Oferta de Franquia), a franqueadora deve apresentar balanços e demonstrações financeiras dos últimos dois anos. Como são dados valiosos, é recomendável colocar uma lupa nesses documentos com a ajuda de quem entende do assunto.
Sérvulo Mendonça, fundador do Grupo Epicus Outlier e especialista em controladoria, contabilidade e compliance, explica que, diferentemente dos balancetes, em geral eles são sintéticos e apresentam grupos de contas fechadas. “Por exemplo, aparecem despesas com vendas, mas não se especifica quanto é marketing, propaganda, comissão, repasse.”
Na DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), ele recomenda uma análise de comparabilidade, flutuação de receita e distribuição entre custos e despesas. “É importante entender o que a franqueadora entende como custo, isto é, o que é insumo para ela”, diz.
Com relação aos balanços, o foco deve ser em verificar a segregação de linhas de passivos circulantes (vencimento em até um ano) e não circulantes (superior a 12 meses). “Muitas empresas apresentam índices muito satisfatórios porque colocam as obrigações como passivo não circulante – e aí os índices melhoram”, explica. Outro ponto de atenção é se existem operações entre empresas. “Pode ser que a franqueadora tenha uma situação de dependência de outra empresa.”
Mendonça alerta que é preciso quebrar paradigmas. “Muitos empreendedores acham que você consegue controlar as finanças somente com relatórios gerenciais. Acontece que, na prática, a DRE te dá o resultado da empresa: lucro ou prejuízo. E muita gente confunde lucratividade com rentabilidade, que é ter dinheiro em caixa”, afirma.
“Muitos quebram porque não sabem que o negócio está dando prejuízo. Há casos de franqueadoras que dão 180 dias para pagamento de mercadorias. Só que, a partir do momento em que elas chegam, o franqueado inicia as vendas. E vai entrando dinheiro em 30, 60, 90, 120 dias. No caixa, a empresa está excelente, mas e o passivo que ele terá de pagar em 180 dias? Isso só aparece no balanço e na DRE”, exemplifica.
Como calcular a DRE em 3 etapas
Periodicidade: mensal e anual
Objetivo: resumo financeiro do resultado de uma empresa
1
Receita bruta de vendas
–
Deduções e abatimentos (devoluções de vendas, descontos comerciais)
=
Receita líquida de vendas
2.
Receita líquida de vendas
–
Custos de mercadorias e/ou serviços vendidos
=
Margem de contribuição (ou lucro bruto)
3.
Margem de contribuição (ou lucro bruto)
–
Despesas administrativa/financeira/venda e impostos
=
Lucro (ou prejuízo) operacional líquido
Por lei, a COF deve trazer, além da taxa de franquia, o investimento inicial necessário à aquisição, à implantação e à entrada em operação de uma unidade. “Mas são estimativas”, lembra Monteiro, uma vez que “temos diversos Brasis dentro do Brasil”, isto é, os custos diferem (e muito) em uma metrópole e uma cidade do interior.
O franqueador também dará uma previsão do número de meses iniciais em que o negócio terá resultados negativos – e o valor em cada um deles, geralmente decrescentes. A soma desses resultados, até o negócio se estabilizar, equivale a quanto você precisa ter para bancar as necessidades do dia a dia. “O capital de giro pode significar a diferença entre a vida e a morte do negócio”, diz o CEO da Cherto Consultoria.
“Assim como a subsistência do negócio, assegure a sua e a da sua família, até que a franquia comece a gerar receita suficiente para cobrir todas as despesas e permita alguma retirada”, afirma o consultor. “Nenhum negócio é extremamente lucrativo nos primeiros meses de operação”, diz o diretor da ABF-Rio.
PARA ONDE VAI O SEU DINHEIRO
• Abertura da empresa
• Aquisição do ponto comercial
• Consultoria para análise da COF e do contrato
• Contratação e treinamento da equipe
• Estoque inicial
• Marketing de inauguração
• Reforma e mobiliário
• Taxa de franquia
Gastos da fase operacional
A regra é colocar numa planilha tudo o que a operação vai exigir, das despesas fixas às variáveis, passando pelas taxas obrigatórias. “Ao calcular o volume de vendas necessário para cobrir todos os gastos, chega-se ao ponto de equilíbrio”, explica Ommundsen, do Sebrae-SP. É só a partir daí que a unidade começa a dar resultados, mas não significa que chegou a hora de recolher todos os lucros. É recomendável que parte do valor permaneça no negócio e forme um fundo para reinvestimento, renovação da taxa de franquia e até mesmo expansão.
PARA ONDE VAI O SEU DINHEIRO
Despesas fixas
• Aluguel, condomínio, IPTU
• Contador
• Contas de água, energia, gás, internet, telefone, sistema de gestão
• Folha de pagamento (salários, FGTS, INSS, vale-transporte e vale-refeição)
• Impostos
• Limpeza e manutenção
• Marketing local
• Pró-labore (retirada mensal que remunera o trabalho do franqueado)
• Seguro
Despesas variáveis
• Delivery (taxas dos apps)
• Manutenção do estoque ou compra de matéria-prima
• Tarifas bancárias/aluguel maquininha/taxas cartão
• Treinamentos
Taxas obrigatórias
• Publicidade – Mensal, paga ao franqueador para custear despesas com propaganda institucional; em geral, é um percentual do faturamento (de 1% a 5%*)
• Royalties – Mensal, paga ao franqueador pelo uso da marca; em geral, é um percentual do faturamento (de 3% a 60%*)
Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de junho/julho da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios