Câmbio

Espera por EUA e boa vontade da Câmara enfraquece apetite ao risco | Bolsas e índices


Essa novela acaba nesta sexta-feira (6), quando será possível conhecer o índice de desemprego e o ritmo dos salários em setembro. E, pelo andar da carruagem desta sessão, investidores não estão muito confiantes em sinais de sucesso da batalha dos Estados Unidos contra a inflação.

  • O Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, caiu 0,28%, a 113.284 pontos. Nestes quatro primeiros pregões de outubro, o saldo está negativo em 2,81%. No ano, positivo em 3,34%.

  • A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 13 bilhões, 35% abaixo da média diária dos últimos 12 meses.

  • Das 86 ações do Ibovespa, 63 caíram.

  • O preço do dólar no Brasil subiu 0,32%, a R$ 5,17 – maior nível desde março. A escalada outubrina está em 2,82%. No ano, a queda agora é de 2,07%.

E se o samba de uma nota só é americano, a percussão é feita em casa mesmo. Segue latejando na cabeça dos investidores a incerteza fiscal.

Em busca de entregar a meta de zerar o déficit fiscal em 2024, o governo quer fazer o topo da pirâmide social brasileira pagar impostos mais compatíveis com sua renda. Daí a ideia de taxar fundos exclusivos, boa parte deles compostos por um único e super-rico investidor, e as chamas offshores, empresas desses mesmos ricaços, muitas delas em paraísos fiscais que os livra da mordida do Leão.

Outra pretensão do Planalto era acabar o chamado mecanismo de Juros sobre Capital Próprio (JCP). Grosso modo, uma modalidade de distribuição de dividendos com a qual a empresa consegue abater parte dos impostos. Os principais favorecidos pelo JCP são os grandes bancos brasileiros.

Como se vê, a medida não deveria ser exatamente impopular. A maior parte da população, mais pobre, não seria afetada. Será, sim, caso seja ampliado o desequilíbrio fiscal e, a reboque, o nível de inflação e juros. Mesmo assim, a Câmara vai impondo dificuldades.

Em primeiro lugar, o relatório do Projeto de Lei (PL) que versava sobre essas propostas simplesmente deixou de fora o JCP. Não houve espaço sequer para mudanças que reduzissem as receitas pretendidas pelo governo. Quanto a fundos e offshores, o Planalto pretendia, primeiro, taxar rendimentos atuais em 15%. Sob resistência do presidente da Câmara, Arthur Lira, desceu a cordinha para 10%. Mas acabou tendo de engolir os 6% defendidos, arbitratriamente, pelo deputado.

Para piorar, nem mesmo esse redesenho está garantido. O relatório ia ser votado na noite passada. Ficou só para daqui 20 dias, quando Lira voltar de uma viagem ao exterior. Por essas e outas, fica fácil entender porque 10 entre 10 participantes do mercado – entre analistas, gestores, economistas e investidores – duvidam do cumprimento das metas fiscais de 2024 em diante.

Em dia de de calmaria nos títulos americanos, que têm dado o rumo das taxas nacionais, a curva de juros futuros se manteve de lado sobre os prêmios embutidos nos últimos dias:

  • Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caíram de 10,99% a 10,98%;
  • Já para janeiro de 2033, estancaram nos 12,00%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).

Falta de apetite — Foto: GettyImages
Falta de apetite — Foto: GettyImages



Valorinveste

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo