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Veja as 10 ações que mais caíram em agosto | Empresas


Agosto acabou – até que enfim -, mas não sem antes fazer jus à sua fama. No mês do desgosto, o Ibovespa teve pouca margem para reagir, foram 18 pregões no negativo de 23 no último período. Quando não a cena externa, a cena doméstica tomou para si a função de pressionar o índice para o campo negativo.

Como foi o mês para a bolsa?
Agosto trouxe desgosto. No mês em que Selic caiu, a bolsa capotou 5%

Seja com mais juros lá ou menos quedas sobre as taxas cá, quase toda a bolsa sofreu. Mas sofreram mais as varejistas, que devem sua derrocada à sobreposição de pessimismo com um cenário macroeconômico nada favorável para o setor e ainda questões que levaram a reestruturações nos negócios.

Via e Grupo Pão de Açúcar, que encabeçam a lista de baixas deste mês, recuaram também sob o peso dos imbróglios na operação, mas afundaram com a sobreposição desses fatores internos e externos.

“Há um componente sistêmico. Nos últimos meses, os papéis cíclicos domésticos vinham performando bem, e as empresas exportadoras e de commodities vinham mal”, disse Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research. “Este mês tivemos uma virada, o Ibovespa só não caiu tanto graças a um avanço forte de Petrobras [cujos papéis preferenciais acumulam alta de 39,35% no ano].”

Do lado de lá…
Veja as 10 ações que mais se valorizaram em agosto

Assim as dúvidas sobre futuro dos juros no Brasil frearam o apetite por risco aqui. Por mais que o Banco Central tenha feito o primeiro corte no início do mês, a taxa ainda está alta. E a esperança de ela cair a 9%, em ritmo célere, até 2024 também foi por água abaixo com a volta do fantasma de um passado não tão distante: o risco fiscal.

Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, fala da reticência do mercado em relação à capacidade do governo de elevar a arrecadação conforme proposto no plano orçamentário, que provocou a elevação da curva de juros. “São fatores que fazem investidores ficarem mais pessimistas e reduzirem sua exposição nesses nomes cíclicos da atividade doméstica”, disse.

Esta é a pedra no sapato do Ibovespa atualmente, e uma pedra amarrada aos pés das empresas com receitas dependentes do consumo doméstico.

Em agosto, o Ibovespa teve 72 baixas das 85 ações na carteira atualmente. Empresas ligadas ao consumo doméstico dominaram o ranking dos papéis que mais desvalorizaram neste mês, com as primeiras 14 posições entre as maiores quedas.

As 10 ações do Ibovespa que mais caíram em agosto

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 P.ACUCAR – CBD ON PCAR3 -42,39 4,94
2 VIA ON VIIA3 -41,20 1,27
3 GRUPO SOMA ON SOMA3 -33,36 7,49
4 MELIUZ ON CASH3 -32,33 6,72
5 GOL PN GOLL4 -27,00 7,03
6 CARREFOUR BR ON CRFB3 -25,22 10,26
7 PETZ ON PETZ3 -21,71 5,48
8 REDE D OR ON RDOR3 -20,39 28,66
9 CIELO ON CIEL3 -19,97 3,72
10 MRV ON MRVE3 -18,27 11,36

Pão de Açúcar e Carrefour

Há uma semana, o Grupo Pão de Açúcar fez a cisão de ações com a rede colombiana Éxito. “Então quem tinha Pão de Açúcar na carteira recebeu também ação do Éxito. No final, o acionista está com papéis de duas empresas, e essa queda significativa desde a semana passada reflete essa dificuldade dos investidores de medir esse novo Pão de Açúcar”, disse Ferrer, da Empiricus Research.

Para o analista, trata-se de um caso bem particular de tentativa do mercado de entender o valor justo desse papel depois da cisão. “Sem isso, a queda da ação seria menor”, afirmou.

A Órama vendeu sua posição em Grupo Pão de Açúcar após a cisão com Éxito. “Essa divisão foi feita baseada no valor contábil dos ativos que ficaram em cada uma das partes [Pão de Açúcar e Éxito]. Já esperávamos que a ação do Pão de Açúcar fosse cair, e nosso preço justo para a empresa é ainda menor do atual, na faixa de R$ 3”, comentou Phil Soares, chefe de análise de ações da corretora.

Soares aponta que o Grupo Pão de Açúcar está com um desempenho financeiro inadequado e endividamento elevado, o que demanda mudanças internas para que a companhia passe a transitar num campo de normalidade. “Ainda não há definição sobre quem vai ser o novo controlador, se haverá um novo controlador ou se a empresa será uma corporation, então essa tendência de queda do papel deve seguir”, disse o analista da Órama.

Já Carrefour acompanhou a descida dos papéis cíclicos domésticos, mas ainda teve contra si um desempenho no segundo trimestre pior do que o esperado pelo mercado. “Hoje, quando comparamos a ação com a principal concorrente, que é o Assaí, mesmo com essa queda de 25,22% no mês, Carrefour negocia a 11 vezes o lucro para o ano que vem, enquanto a rede de atacarejo negocia a 10 vezes o lucro para 2024”, avaliou Ferrer.

Partindo dessa comparação, a Empiricus Research espera que a ação de Carrefour tenha um desempenho mais pressionado para ser negociada no mesmo patamar de seus pares.

“Via tem uma questão muito particular”, disse Ferrer. “A empresa teve um resultado péssimo no segundo trimestre, passou pela troca de gestão, adotou um novo programa estratégico de turnaround [reestruturação] e agora anunciou um novo follow on [oferta subsequente de ações] para tentar se reajustar financeiramente.”

O analista da Empiricus Research lembra que, em 2020, a Via fez um follow on de R$ 4,5 bilhões e hoje a companhia vale metade do montante. “Quem aportou na oferta anterior viu seu dinheiro virar pó”, afirmou, sobre a desconfiança no mercado para o papel.

Ferrer pondera que o novo follow on de metade do valor que foi feito em 2020 significa “uma diluição brutal” para o acionista. “O investidor atual teria que dobrar o aporte para acompanhar esse processo, então não estão topando”, disse.

“E se a Via vem a mercado para emissão de uma dívida, a situação fica pior ainda, porque a empresa já está bastante alavancada. É o que chamamos de ‘espiral da morte’: mais endividamento em uma situação financeira já delicada”, afirmou o analista da Empiricus Research.

O individualmente bem elevado e atrelado a juros muito altos, né com patamares o patamar que o CDI tá hoje então o resultado financeiro vem minando muito a lucratividade da empresa

Diante desse cenário, a casa de análises mantém perspectiva negativa para os papéis da Via. Órama também está fora da ação e não tem recomendação para o ativo.

No ambiente macroeconômico, a ação do Grupo Soma foi penalizada pelo comportamento geral de aversão dos investidores ao risco. “Globalmente, isso tem feito a curva de juros subir tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos, o que é particularmente problemático para as ações de varejo de moda, que são cíclicas e têm sua demanda mais dependente das condições macro como um todo”, disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

Larissa explicou que, no recorte setorial, pesa também a discussão sobre o teto dos juros do rotativo, que poderia afetar o chamado “parcelado sem juros”, responsável por boa parte do consumo de moda.

“Por fim, o resultado que a companhia divulgou no início do mês decepcionou. O Grupo Soma teve um crescimento de receita mais fraco que esperado, além de pressões em margem bruta, que também estavam fora do radar”, afirmou a analista.

Soares, da Órama, reitera que a companhia tem trabalhado o ativo de Hering, mas o desempenho ainda não alcançou o projetado. “Preferimos outros nomes, com destaque para Arezzo e Vivara, então não estamos recomendando a entrada em Soma“, concluiu.

Queda — Foto: GettyImages
Queda — Foto: GettyImages



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