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Veja as 10 ações do Ibovespa que mais caíram em setembro e até o terceiro trimestre de 2023 | Empresas


Nenhum setor no Ibovespa está tendo um 2023 pior que as varejistas. Não que 2022 tenha sido lá aquela maravilha. Mas o tombo é maior quanto mais alto se sobe. E as expectativas para este ano foram erguidas conforme as perspectivas para o início do ciclo de cortes de juros escalavam. Mais uma vez, o sol voltaria a brilhar para o varejo. Certo?

Errado. Uma nuvem cinza carregada tapou o brilho nesse horizonte. A mesma nuvem que paira sobre a cabeça dos investidores desde o anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto com o primeiro corte na Selic. As quedas de meio ponto vieram e com comunicados até mais brandos que os anteriores. Então o que atrapalha os planos para o Brasil?

Todo o resto. “O mês de setembro foi caracterizado por uma grande reversão nas expectativas sobre as taxas de juros globais”, explicou Gabriela Katayama, analista de renda variável da Asa Investments.

Do lado de cá do globo, existia uma percepção de que o ciclo de apertos monetários em países desenvolvidos (nomeadamente, Estados Unidos e países europeus) estava perto do fim. Só faltou alinhar com os bancos centrais, que reiteraram vez após outra que não tinham visibilidade do fim do ciclo de altas nos juros.

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O único compromisso, dizem as autoridades monetárias desses países, é levar a inflação às metas. Desta perspectiva, o problema é o quanto a elevação das taxas de juros em países desenvolvidos imprimiria mais cautela a investidores estrangeiros, que hoje são a maior força compradora do Ibovespa. É a tal da fuga do dólar.

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Enquanto isso, do lado de lá do globo, tivemos ralis nos preços do minério de ferro, com uma indústria siderúrgica aquecida na China, e no petróleo, com cortes da oferta por membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+). Isso tensionou o mercado local em relação ao quanto o Brasil “importaria” a inflação nas matérias-primas.

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“Dados econômicos mais fortes do que o esperado, somados a estímulos do governo chinês, levaram a uma alta expressiva nos preços das commodities, que consequentemente afetou a expectativa do ciclo de juros. Em setembro, isso levou a um aumento de 0,3 pontos percentuais nas taxas dos títulos do Tesouro americanos para 10 anos”, apontou a analista da Asa Investments.

Ao fim e ao cabo, os cortes da Selic sequer surtiram o efeito que se esperava – de alavancar os ânimos e apetite por risco. Tampouco tiveram as varejistas uma chance de cobrar seu lugar ao sol. Com tanto mais no plano maior, o Banco Central (BC) só fez calar as expectativas por aceleração dos cortes: no atual cenário, esta carta não está à mesa.

“De maneira geral, podemos dizer que as empresas que mais caíram neste mês e também no ano estão intimamente ligadas ao consumo doméstico”, afirmou José Daronco, analista da Suno.

Mas se a questão fosse apenas cenário macro, não haveria tanta diferença entre as margens de queda. E há. Os cenários doméstico, setorial e, claro, de negócios, se somam à equação.

Do ponto de vista setorial, temos ainda o varejo passando por um processo de adaptação ao pós-pandemia, com empresas ainda muito alavancadas e entregando resultados pouco animadores”, avaliou Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos. “Houve uma mudança no perfil dos consumidores, além de um cenário mais competitivo no digital, e as empresas seguem em um processo de reestruturação e adaptação a essa nova realidade. Além disso, o endividamento das famílias segue em patamar elevado.”

E quem mais sofreu, no fim das contas, foi o Grupo Casas Bahia (ex-Via), que não só é a ação do Ibovespa que mais caiu no mês, como também em todo o ano até o fechamento deste terceiro trimestre.

Antes, até o segundo trimestre, o ativo sequer aparecia entre as 10 maiores quedas do Ibovespa. A virada veio mesmo entre julho e setembro. E o mesmo vale para Pão de Açúcar. As duas ações que mais caíram no ano até aqui aceleraram as perdas só neste trimestre, ultrapassando todas as outras “rivais” dessa corrida ingrata.

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A lista de maiores quedas de setembro tem diversos nomes comuns com as maiores quedas no ano até aqui. Alguns que já não vinham bem de antes, caso de Carrefour, e outros cujo tombo no mês os trouxe a ambas as listas, caso de Lojas Renner.

No mês, o Ibovespa teve 49 baixas das 86 ações na carteira atualmente. Outras empresas ligadas ao consumo doméstico também participam do ranking de papéis que mais se desvalorizaram em setembro.

As 10 ações do Ibovespa que mais caíram em setembro

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 CASAS BAHIA ON BHIA3 -50,39 0,63
2 P.ACUCAR – CBD ON PCAR3 -29,15 3,50
3 MAGAZ LUIZA ON MGLU3 -23,19 2,12
4 VAMOS ON VAMO3 -16,74 9,75
5 LOJAS RENNER ON LREN3 -15,43 13,40
6 EZTEC ON EZTC3 -14,61 18,82
7 PETZ ON PETZ3 -13,87 4,72
8 CARREFOUR BR ON CRFB3 -13,26 8,90
9 EMBRAER ON EMBR3 -11,65 17,22
10 REDE D OR ON RDOR3 -11,34 25,41

Questões de ordem tributária também entraram no caminho do varejo neste trimestre. Com o programa Remessa Conforme, da Receita Federal, que isenta impostos em compras de até US$ 50 em plataformas internacionais, os avanços de Shein e AliExpress no mercado nacional ficam em evidência. E ao mercado sobrou questionar: como as brasileiras vão brigar pelo seu espaço?

Esta é uma resposta que não só executivos, como também acionistas e analistas ainda não têm. Por isso as dúvidas se refletem na virada do terceiro trimestre, que trouxe mais nomes do varejo à relação das ações que mais caíram no ano.

Em 2023 até aqui (encerrado o terceiro trimestre), o Ibovespa teve 41 baixas das 86 ações na carteira atualmente.

As 10 maiores quedas do Ibovespa no ano até o terceiro trimestre

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 CASAS BAHIA ON BHIA3 -73,75 0,63
2 P.ACUCAR – CBD ON PCAR3 -48,86 3,50
3 ALPARGATAS PN ALPA4 -46,62 8,05
4 CVC BRASIL ON CVCB3 -42,76 2,57
5 CARREFOUR BR ON CRFB3 -39,41 8,90
6 ASSAI ON ASAI3 -37,29 12,16
7 PETRORECSA ON RECV3 -35,30 20,94
8 MINERVA ON BEEF3 -33,81 8,09
9 GRUPO SOMA ON SOMA3 -33,62 6,65
10 LOJAS RENNER ON LREN3 -32,73 13,40

Grupo Casas Bahia (BHIA3), ex-Via

“A Casas Bahia (ex-Via) é uma empresa que estava capitalizada, foi colocando cada vez mais recursos em capital de giro e possui uma dívida relevante. Por essas razões, o mercado puniu o papel”, disse Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, sobre a situação da companhia em um ambiente de juros altos.

Bruno Benassi, especialista de renda variável da Monte Bravo, lembra ainda que a companhia fez uma oferta subsequente de ações neste mês que saiu com um desconto relevante em relação ao valor que o papel era negociado na data. “Isso mostra que até existiam investidores interessados no ativo, mas não para comprar no preço em tela”, complementou.

Mesmo após o processo, o diretor-presidente da companhia já veio a público reconhecer que os recursos levantados (cerca de R$ 622 milhões, contra expectativa de chegar a quase R$ 1 bilhão) na oferta não resolvem a estrutura de capital. O recado do mercado à empresa não poderia ser mais claro: investidores não estavam dispostos a pagar pelo papel o que o grupo pedia.

Benassi reforça que, somadas as questões conjunturais e as do negócio, o momento do Grupo Casas Bahia é crítico. “O cenário macro é ruim, mas o micro também é. A empresa tem uma estrutura de capital complexa e está bem alavancada se considerarmos na cena também questões de aluguéis e contas com fornecedores”, disse.

Com alguma desconfiança do mercado ainda em relação ao processo de reestruturação da companhia, que abandonou o “Via” neste mês para incorporar o “Grupo Casas Bahia” ao nome, é hora de se provar. “A empresa ainda precisa entregar resultados mais concretos após esse processo, para talvez o mercado voltar a apostar na empresa”, disse Bruna, da Nova Futura Investimentos.

Pão de Açúcar e Carrefour Brasil

“As varejistas de alimentos, casos de Pão de Açúcar e Carrefour Brasil (Atacadão), vêm sofrendo com resultados abaixo do esperado”, disse Daronco, da Suno. “O primeiro está com uma dificuldade já de algum tempo de manter-se rentável e gerar caixa. Já o segundo, além do endividamento também ter crescido, apresentou um crescimento menor que o esperado pelo mercado.”

Destaque em setembro, o Pão de Açúcar passou pela cisão das operações (spin-off) com o grupo Éxito. O papel teve recomendação rebaixada por grandes casas de análises, que citaram a alta estrutura de custos, alavancagem e a perda de escala como fatores que continuam a pressionar os resultados da empresa e penalizam as ações, lembra Bruna.

Max Bohm, estrategista de ações da Nomos, que tem uma posição short no ativo, isto é, aposta na desvalorização da ação, acredita que a operação está passando por uma reestruturação que deve afetar a geração de caixa e margens da companhia.

A solução para Pão de Açúcar, hoje, seria a venda de ativos: participações em outras empresas, terrenos, a sede, para ter mais folga de caixa. Mas até isso acontecer, o papel ainda pode cair mais”, concluiu Bohm.

Magazine Luiza e Lojas Renner

“Do lado das varejistas de vestuário, há uma competição crescente e complexa oriunda das empresas chinesas [Shein, Shopee e até Aliexpress], que reforçaram a sua atuação no mercado brasileiro, trazendo produtos de qualidade e de baixo preço”, afirmou Daronco. O mercado estima que os preços desse importados sejam até 50% mais baixos do que os praticados pelas varejistas brasileiras.

Gabriela, da Asa Investments, lembrou que a necessidade de aumento de arrecadação do governo também levou a um aumento da carga tributária sobre as empresas pela redução ou eliminação de subsídios.

“Em cima disso, a mudança na tributação de compras internacionais também adiciona um peso às discussões sobre essas varejistas ligadas a bens discricionários e baixa renda, que caíram em média mais de 15% em setembro”, disse a analista de renda variável.

Benassi, da Monte Bravo, traça o paralelo da situação de Magazine Luiza com as Casas Bahia em termos macroeconômicos, “mas Magalu tem uma estrutura de capital um pouco melhor.”

“Já a Renner, atravessou um cenário bem complexo com idas e vindas da programação do programa Remessa Conforme, que traz questões sobre os efeitos da competição com a Shein, e, da perspectiva micro, sobre como será a evolução do braço financeiro dela, que vem sendo um detrator de resultado na empresa”, concluiu.

Do lado das varejistas de bens discricionários, em que também se enquadra Petz, Daronco associa a queda à forte deterioração dos resultados, “que são consequência de uma demanda fraca e, em alguns casos, de um endividamento descontrolado (caso de Casas Bahia)”, disse.

Benassi entende que, apesar da correção das ações no ano, a empresa ainda negocia a um valor elevado na bolsa. “Ainda há uma discussão sobre o impacto de grandes como Magazine Luiza, Amazon e Mercado Livre no comércio de itens para animais domésticos”, disse.

“Fica mais difícil para a Petz manter a rentabilidade da operação no e-commerce com uma quantidade limitada de itens em estoque, contra essas concorrentes que têm um volume maior e conseguem diluir seus custos de forma mais eficiente”, afirmou o analista da Monte Bravo.

Bohm também aponta o crescimento da concorrência para Petz, inclusive com o anúncio do Grupo Mateus de abertura de lojas focadas no ramo. “Com isso, há uma expectativa por resultados mais fracos, com margens mais comprimidas e menos crescimento de vendas, que está entre os fatores que abateram as ações ao longo do mês”, concluiu o estrategista de ações da Nomos.

 — Foto: GettyImages
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